o diário

hoje caí na asneira de olhar para o lado. ao meu lado, ia uma senhora com uma bengala que golpeava o ar compassadamente. o ar que nos rodeava bem tentava desviar-se das bengaladas. sem conseguir. o ar atrapalhado do ar deu-me vontade de rir e quando uma gargalhada se preparava para sair a bengalada no ar atingiu-me a gargalhada que saltitava à minha frente. assustado, perdi a vontade de rir. comecei a procurar a vontade de rir pelo chão. quando a vi, baixei-me para a apanhar. e apanhei com uma bengalada mesmo em cheio na mão que acabava de pegar a vontade de rir. o ar que até aí andava a fintar as bengaladas pôs-se de cócoras para ver melhor o meu ar. senti uma lufada de ar, uma gargalhada de ar. com pena vi que tinha perdido toda a vontade de rir e toda a vontade de a procurar. o pior é que não estranhei a falta de vontade. à minha volta, o ar andava às voltas tentando ter graça. eu não lhe achei graça nenhuma. para além do riso, deixei de achar graça. se calhar nunca mais vou achar.

3 comentários:

C. disse...

Terá sido do "ar dos tempos"?:=))

Abraço

adealmeida disse...

em cada tempo há um ar do tempo? falta-nos saber do ar dos tempos? o ar dos tempos é visto por toda a gente? do mesmo modo por toda a gente? do mesmo modo em dias diferentes por mim? por ti?

amanhã volto a achar que posso rir-me? que posso passar naquela rua? sem perigo? ou passo porque naquele dia adorarei o perigo?



sei lá! não sei mesmo.

C. disse...

Essas dúvidas são mesmo fruto do "ar dos tempos"
:=))
Há sempre um dia em que olhamos para o lado errado, eheheh. Mas eu cá não deixava de passar na rua, assim com um ar de quem não quer a coisa, assim do tipo "estou a topar-te" (já estava prevenida). E olhar para o outro lado era pior: além de bengalas há areia pelo ar. Meus ricos olhinhos... Só se fosse parva.

Abraço grande.

pelos olhos dos dedos

já não sei há quantos anos estava eu em Elvas e aceitei mais um que fui