de facto,

de facto ninguém ouviu o tiro o estampido que ela ouviu
ou melhor sentiu como uma dor fina de uma orelha à outra
atravessando a cabeça como uma agulha de som como um eco
da vida que ali não está nem está em lado algum já se cansou

de procurar por ele e ninguém sabe embora toda a gente o tenha
visto caminhando distraído como sempre a caminho de cada
lugar dia a dia como se fosse necessário encontrá-lo onde
nunca fez falta todos o sabem menos ele que não sabe parar

de se mexer sem outro  sentido que não seja o sentido do dever
sem dever nada a ninguém é o que dizem os que o não percebem
enquanto ela atarantada tenta perceber porquê e para onde ele

terá ido se não há quem por ele espere ou dele precise como
foi tão natural que toda a gente o tenha visto partir sem estranheza
como se a vida dele tivesse sido isso mesmo um desnorte só

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