Esta semana, Passos foi objeto de capa de uma revista dita cor-de-rosa, a qual anunciava "uma investigação" sobre o seu primeiro casamento, titulando: "O Pedro é que fazia tudo em casa e tratava das filhas." À partida, esta revelação (verdadeira ou falsa pouco importa) pode parecer contraditória com o que o mesmo Passos disse esta semana para justificar a proposta da coligação de majorar a pensão das mulheres com base no número da prole: "As mulheres é que têm filhos." Não é. O que a capa da revista diz é que Passos, coitado, teve de tomar conta das crianças (ser pai, portanto) porque a mulher não fazia o seu papel; alguma vez se faria capa com uma mulher que toma conta dos filhos? Claro que não, como também esta semana explicou Portas: "As mulheres sabem que têm de organizar a casa e pagar as contas a dias certos, pensar nos mais velhos e cuidar dos mais novos." As mulheres sabem o seu lugar, acham Portas e Passos. E se não souberem, eles lembram.
E aparentemente, pelo menos no que aos seus partidos e área política respeita, têm razão. É certo que temos hoje mulheres em lugares onde nunca as tínhamos tido - uma presidente da Assembleia da República, uma procuradora-geral da República, uma ministra da Administração Interna, uma secretária de Estado da Defesa. E uma ministra das Finanças (a segunda da democracia) todo-poderosa, terceira figura do governo que não raro parece a primeira. Isso é bom: é bom ter mulheres em altos lugares de representação. Mas para representar o quê, se quando um PM e seu vice reduzem a mulher ao estereótipo de fada do lar e parideira nem um ai se ouve das supostas poderosas?
"Quando andávamos na faculdade, eu a Maria Luís [a ministra das Finanças] costumávamos dizer uma à outra: "Uma mulher não chora"." A frase é da dirigente do PSD Teresa Leal Coelho, apontada como pertencendo ao círculo mais próximo de Passos, numa reportagem sobre feminismo publicada há um ano no DN. Assumindo-se como feminista e permitindo concluir que a colega de faculdade Maria Luís também o será, Leal Coelho prosseguia: "Tem de haver uma militância muito ativa. Não podemos deixar passar nada, nenhum preconceito discriminatório sobre a matéria. Nestes três anos em que estive no Parlamento, ouvi muitas vezes "lá vem a conversa das mulheres". Ora isto não é "uma conversa de mulheres", é de civilização. Mas há sempre esta pressão, "cala-te". Quando defendemos estas questões de uma forma mais assertiva surgem logo as qualificações de "histérica", "desequilibrada", "obcecada". Quando não é pior. As mentalidades só se alteram com chatas." Não queria ser chata, mas não posso deixar passar isto: não ouvi nada a Teresa Leal Coelho ou a Maria Luís Albuquerque sobre o que Passos e Portas disseram. Não sendo possível que concordem, resta concluir que para elas os princípios da igualdade e dignidade das mulheres - a sua própria, portanto - não valem afinal a chatice. Às vezes, mais valeria chorar.