Artigo DN
Sinais de "racismo institucional" nas escolas portuguesas
Consulte o artigo completo em:
http://www.dn.pt/sociedade/interior/sinais-de-racismo-institucional-nas-escolas-portuguesas-5141232.html
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como se desenha um quadrado andando
sei bem como se forma um quadrado com pessoas
usei-as em quadrado como santo e condestável
usou em batalha contra os castelhanos sei bem
como podemos avançar, recuar ou rodar sem desfazer
o quadrado e basta-nos ajoelhar para não ser mais
que um cubo de escudos metálicos a brilhar ao sol
e como podemos parecer uma só carapaça sem cabeças
sei bem que o medo é impotente num combate travado
quando olhamos os inimigos de dentro do quadrado
cada um sentindo os nós que o prendem a outros dois
sentindo como é impossível qualquer debandada
que não seja uma pequena corrida para a morte
usei-as em quadrado como santo e condestável
usou em batalha contra os castelhanos sei bem
como podemos avançar, recuar ou rodar sem desfazer
o quadrado e basta-nos ajoelhar para não ser mais
que um cubo de escudos metálicos a brilhar ao sol
e como podemos parecer uma só carapaça sem cabeças
sei bem que o medo é impotente num combate travado
quando olhamos os inimigos de dentro do quadrado
cada um sentindo os nós que o prendem a outros dois
sentindo como é impossível qualquer debandada
que não seja uma pequena corrida para a morte
adormece
adormece, adormece, esquece quem quer que seja
não é preciso ouvir todos os ruídos da casa nem
avaliar o valor das jóias que não tiveste nem tens
nem rever o filme da tua vida nem há quem o reveja
tudo fizeste para que de ti nada sobrasse nem pó
que as cinza já as espalhaste em vida numa vinha
logo tu que já nem és nem deixas mulher sozinha
e não sendo de boa cepa nem queimado és o pó
da terra que não te quer e do ar que te não respira
só te resta adormecer sem querer saber ver ouvir
escutas de ti mesmo e só conjugas o verbo tossir
tens ainda presa em ti a morte quando a vida expira
para além do teu pesadelo inventado: vida e festa
de ti da tua morte da tua vida nada nem rasto resta
talvez ainda um dia alguém refugiado do inferno
te use sem saber de ti para aquecer-se no inverno
não é preciso ouvir todos os ruídos da casa nem
avaliar o valor das jóias que não tiveste nem tens
nem rever o filme da tua vida nem há quem o reveja
tudo fizeste para que de ti nada sobrasse nem pó
que as cinza já as espalhaste em vida numa vinha
logo tu que já nem és nem deixas mulher sozinha
e não sendo de boa cepa nem queimado és o pó
da terra que não te quer e do ar que te não respira
só te resta adormecer sem querer saber ver ouvir
escutas de ti mesmo e só conjugas o verbo tossir
tens ainda presa em ti a morte quando a vida expira
para além do teu pesadelo inventado: vida e festa
de ti da tua morte da tua vida nada nem rasto resta
talvez ainda um dia alguém refugiado do inferno
te use sem saber de ti para aquecer-se no inverno
escola
nesta eternidade de buracos nas nossas ruas e de pavimentos instáveis, a água e a lama facilmente voam e nos atingem lançadas pelos carros passando. hoje, bastou-me caminhar descontraído passeio fora para, numa passada simples acordar a água e a lama sob uma placa do passeio e ver como ela se atira às nelas de qualquer peão.
a vida ao lado
Um conhecido meu, vizinho aqui no bairro, interpela-me desabrido:
"Eles agora têm uma pressa danada para despejar as pessoas e ninguém faz nada! agora despejaram a família de uma mulher quando ela estava internada em Coimbra com a leucemia de que morreu passados uns dias. Só um se interessou pelos pobres e acabou com as barracas e era do cds... Agora estes são o que se vê. O que é que faz o bloco de esquerda afinal? an an an an...."
Quando ele me deu uma folga, disse-lhe:
"Oh, homem denuncie na imprensa, reclame para a câmara e para a junta. Você que conhece o caso e acha errado, reclame! Informe os outros partidos também! O BE não despejou ninguém, muito menos doentes, se calhar nem sabem disso."
Ele voltou à carga:
"Não vale a pena reclamar para os partidos nem para a câmara nem para a junta são todos uns f..... Também não serve de nada reclamar prós jornais! Eu pergunto é: o que é que vocês fazem?"
Ainda lhe disse:
"Eu podia fazer o mesmo que você já devia ter feito se sabe do que está a falar! Mas posso ajudá-lo se me der informações sobre o que aconteceu, os nomes das pessoas, quando é que aconteceu, .... Faça isso!"
Em jeito de fim de conversa, ele rematou:
"Pois é o que vou fazer!"
Na segunda feira, ao lado da Junta de Freguesia, aconteceu esta altercação de rua. Segunda, Terça, Quarta, Quinta.... e nada. Já não é a primeira vez que me faz isto. Da outra vez foi sobre os corte de água a velhinhas solitárias em prédios do bairro. Eu sei que acontecem casos como os que ele me conta em abstracto. A câmara e a junta talvez saibam em concreto. Não sei se o meu vizinho sabe.
a vida antes
Antes de se levantar, ele dá um beijo em cada mulher e em cada filho que ainda dorme naquela cama enorme que é a sala coberta de colchões improvisados. Com cuidado, para que ninguém acorde. Quando se levanta do seu lugar de cama, vai à cozinha, ali mesmo ao lado, comer a côdea e falar em voz baixa à mulher que se levanta antes dele e lhe prepara um café silencioso e a lancheira de uns restos que ela sempre consegue subtrair à fome da manada. Ela conta-lhe as duas ou três coisa que vale a pena contar e que não o entristecem mais do que a vida que tem. Não clama e não reclama. Ele diz "até logo" e ela segue-o até à porta para evitar que a porta ao bater acorde as crianças. Ele e ela sabem que quem dorme não tem a mesma fome que eles sentem por estarem acordados ainda é noite.
a vida
Ele levanta-se sempre muito cedo. Ainda antes de mergulhar a sua sede ma manteiga derretida do pequeno almoço, levanta os olhos para o tecto e suspira. Ali, mesmo ao lado, do outro lado de um tabique, o seu vizinho também se levanta e, ainda antes de começar a tossir e a assobiar para que toda a casa (a dele e a dos outros) fique acordada e enojada, ele tem tempo para se espreguiçar e tentar um enorme bocejo. Saem simultaneamente das suas casas como se tivessem combinado. Para uma varanda colectiva, onde trocarão de papéis: ele boceja e o seu vizinho suspira. Estão agora prontos para ir até á fábrica onde trabalham lado a lado. Nunca trocaram uma palavra que se saiba. Ao fim do dia, regressam a suas casas simultaneamente. É assim todos os dias.
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