espera
as cadeiras cruzam-se nos corredores
trocando sorrisos, vénias, cumprimentos
respeitosos uns, interessantes outros
como passos de dança.
as cadeiras entrelaçam-se cada uma rodando
em torno de uma perna da outra até
que aquela menos robusta se deixa colar
à parede
onde tudo se dá ou tudo se pede.
a demolição
por aqui, como em casa, nunca abandono
as pequenas coisas. não sei abandonar.
a maldição de não saber sair de casa
onde se amontoa a tralha que a enche
como se enche o casinhoto ao canto do campo
com as ferramentas e a sua ferrugem
nem as ferramentas nem a ferrugem existem
enquanto eu continuo a guardar na cabeça
cada uma delas e as veja olhando o rasgão
aberto, instalado na cabeça que não abandona
e eu não abandono a ela antes de ser abandonado
por ela
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