Dantes o poeta existia para nomear as coisas: como se fosse o dia da Criação. Hoje em dia ele parece existir para se despedir delas, para as recordar aos homens, terna e dolorosamente, antes que sejam extintas. Para escrever os seus nomes na água e, talvez nessa mesma vaga que daí a pouco ai arrastará consigo.
Um parque sombroso, o verde espelho a um lago atravessada por belos gerânios dourados, no coração da cidade, da tormenta de cimento armado. Como não pensar ao olhá-lo : o último lago, o último parque sombrios? Quem hoje não tiver consciência disto, não é poeta de hoje.
Na poesia, tal como na relação entre as pessoas, tudo morre assim que é aflorado pela técnica.
Cristina Campo. Os imperdoáveis. trad. de < José C. Barreiros > Assíro & Alvim (col. Teofanias). Lisboa:2005 156
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