as duas pastas
Trago sempre duas pastas dentífricas
dentro da pasta onde guardo também
alguma roupa interior e lenços de assoar.
Nunca me foram úteis as pastas dentífricas
porque sempre me esqueci das escovas,
que embrulho antes de sair de casa para esquecer.
Mas a pasta sempre me foi útil
para guardar os pequeníssimos sabões
e as toucas dos quartos dos hotéis
que me perseguem há mais anos que
os pequenos frascos de compota
que o avião me fez cair no regaço.
Hoje, ao partir, verifiquei as duas pastas dentífricas
na pasta de cabedal
e verifiquei também, tarde demais embora,
que me esqueci dos bilhetes para a ópera,
porque também me esqueci dos dentes
dentro do seu copo de água nocturno,
onde costumam rir-se de mim
enquanto eu bebo a água
que respiram por suas guelras mordentes.
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* risos de há muitos anos
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