O pó sobre a cómoda

Um membro do governo é ouvido pela alta autoridade para a comunicação social. No caso presente, não podemos dizer que seja de uma pessoa que estamos a falar. Falamos daquilo a que é hábito chamar braço direito. A história de vida de Gomes da Silva, esmiuçada em pormenor por algumas revistas e jornais, é mesmo uma história de braço direito. Há quem admita que o braço direito tem boca. Outros pensam que não. Ouvi mesmo quem asseverasse que o braço direito fala pela boca assessorada pela lux. Este braço direito a falar como porta voz do governo, boca de bocas, pode dizer-nos que foi como politico que respondeu ao politico Marcelo. E que o que ele diz não pode, por isso, ser posto em causa e como causa para efeito silenciador. O braço direito do governo pode mesmo invocar uma conspiração dos diversos semanários, diários e telejornais contra o primeiro ministro. O braço direito tem uma boca sadia, mas vê e ouve mal. Se pudesse olhar (com olhos de ver) para os seus actos governativos e ouvir o que dizem da boca para fora, perceberia que a haver conspiração ela é a sucessão de toleimas contraditórias e meio surrealistas produzidas pelo próprio governo. O ?delirium tremens? é chocante em coisas como a colocação de professores e é indisfarçável em muitos outros assuntos. Há as bolas de ?ping? assim para um ministro e ?pong? assado para outro a saltitar entre os lados da mesa do poder e que nos fazem saltitar os olhos das órbitas.

É um problema para o pais ficar desequilibrado assim cheio de braços direitos. O longo braço do poder é uma ameaça. O braço direito é uma desgraça. O braço direito delgado (que primou pela falta de pudor em defesa irracional do governo da guerra) passou a braço direito do governo na lusa e agora passa a braço direito executivo na Lusomundo (sem pré-aviso aos administradores que lá estavam). A palavra delgado que nomeia a pessoa é adjectivo que qualifica tanto a inteligência dos seus argumentos como a sua vergonha. Só não deve ser delgado o soldo de quem espera a defenestração mal mudem os ventos ou haja restauração da independência. Se há conspiração visível para o controle das coisas da comunicação social, ela é a dos braços direitos.


Esperam que nos habituemos aos seus braços direitos como nos habituamos a ácaros e ao pó da casa em obras. Aaaaaaaatchim! - é a inteligência a resistir.


[o aveiro; 21/10/2004]

desenho, logo existe.

desenho, logo existe.

X-acto.

nunca nos separámos, talvez porque nunca tenhamos estado juntos.
mas houve um dia da vida comum em que deixámos de escrever nas paredes uns dos outros. não há memória do dia, mas esse dia passou em todas as máquinas como sendo o último dia, aquele em que uma mensagem marcada com o ferrete do X piscou como a última.

há quem diga que só podem ficar juntos os que gostam da mesma música ou os que partilham um modo de estar, um ponto de vista. X não respeitava essa regra e havia, por isso, muitos desencontros, silêncios e berros, como acontece nas famílias vulgares. a família X nunca chegou a ser extraordinária, manteve-se simplesmente ordinária.

não tendo havido separações de facto, basta que alguns saiam dos seus tugúrios de solidão, separação e silêncios [e amuos?] para que tropecem noutros ao desembocar na distracção do grande átrio, na sala de jantar, no ardor de uma batalha em campo aberto, num restaurante.
ficam de fora deste cenário os que são de longe e os que se mantiveram longe contra a vontade dos outros.

há os que foram para tão longe que não conseguimos deixar de os ver todos os dias.
esses só não contam na divisão da conta do almoço.

não sei começar como acabar o que não começo?

um dia passou-me pela cabeça uma tolice que se me pegou aos dentes disse estava eu a colar os dentes que não tinha para cortar a tolice e a ...