as datas vistas pelos seus avessos

e se contássemos os  que foram assassinados
pelos fascistas,  pela direita deste rectângulo, 
antes do 25 de abril de 1974 e também depois
antes de contarmos os que a esquerda poderia


dupla hélice

Firmino Mendes - Soneto

SONETO PARA ESTE MINISTÉRIO


 Ó crapuloides tonsos desitantes
 Artimigos tropálios desancantos
 Par rivistas pervértidos acantos
Tomatoides arcansos arfestantes

 Ó micustatas cãs de resinantos
 Putéfias fientas e lepantes
 Ó abastardos micos porcalhantes
 Escolossos daláquas desorantes

Se houbordar infumo morativo
 Neuscapitel morfeito desabundo
 Apuntunga fitanga desamundo

 Ah hei ah hei putango pilharundo
 Filhostero lixoide e instalido
 Sarjetário de brai e merdestido


 Firmino Mendes, fevereiro 2015

Firmino Mendes: Também eu sou Charlie

 Também eu sou Charlie

Matem-me! Eu também tenho 
marcadores, lápis, canetas
Também sei usar a cor das 
trovoadas

Apaguei deuses e dogmas do 
meu suor
Bani as sombras e os sofismas
Aboli a infâmia do meu coração

Chamei os bárbaros para a mesa
da democracia, da tolerância e da 
laicidade
Responderam-me com poções
mágicas, benzeduras e venenos de 
deuses

Matem-me agora na mesa quente
dos desenhos e cartunes
onde a arte toca o sangue

Também quero pertencer ao gesto
que riscou as cavernas

Firmino Mendes
            Lisboa, 08.01.2015

"Pamelia Kurstin: Theremin, the untouchable music"

Arselio Martins partilhou um vídeo consigo no YouTube
"Pamelia Kurstin: Theremin, the untouchable music


por TED
http://www.ted.com Virtuoso Pamelia Kurstin plays and discusses her theremin, the not-just-for-sci-fi electronic instrument that is played without being touched. Songs include the classic "Autumn Leaves," Billy Strayhorn's "Lush Life" and a composition by David Mash, "Listen: the Words Are Gone." Piano: Makoto Ozone.


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noite feliz!

tudo terás com abundância e de tudo comerás! - assim te manda a bondade do menino filho de uma mãe sem abrigo e de um pai ausente em nuvem incerta. e tudo comes na noite feliz e quando já não sobra coisa que se coma darás por ti a comer-te depois de seres comprado por ti ao dono do burro.

o desenho do melhor perfil

O roubo do presente (José Gil)

O ROUBO DO PRESENTE “Há pelo menos uma década e meia está a ser planeada e experimentada quer a nível do nosso país, quer na Europa e no mundo uma nova ditadura - não tem armas, não tem aparência de assalto, não tem bombas, mas tem terror e opressão e domesticação social e se deixarmos andar, é também um golpe de estado e terá um só partido e um só governo - ditadura psicológica. Nunca uma situação se desenhou assim para o povo português: não ter futuro, não ter perspetivas de vida social, cultural, económica, e não ter passado porque nem as competências nem a experiência adquiridas contam já para construir uma vida. Se perdemos o tempo da formação e o da esperança foi porque fomos desapossados do nosso presente. Temos apenas, em nós e diante de nós, um buraco negro. O «empobrecimento» significa não ter aonde construir um fio de vida, porque se nos tirou o solo do presente que sustenta a existência. O passado de nada serve e o futuro entupiu. O poder destrói o presente individual e coletivo de duas maneiras: sobrecarregando o sujeito de trabalho, de tarefas inadiáveis, preenchendo totalmente o tempo diário com obrigações laborais; ou retirando-lhe todo o trabalho, a capacidade de iniciativa, a possibilidade de investir, empreender, criar. Esmagando-o com horários de trabalho sobre-humanos ou reduzindo a zero o seu trabalho. O Governo utiliza as duas maneiras com a sua política de austeridade obsessiva: por exemplo, mata os professores com horas suplementares, imperativos burocráticos excessivos e incessantes: stress, depressões, patologias, border-line, enchem os gabinetes dos psiquiatras que os acolhem. É o massacre dos professores. Em exemplo contrário, com os aumentos de impostos, do desemprego, das falências, a política do Governo rouba o presente de trabalho (e de vida) aos portugueses (sobretudo jovens) O presente não é uma dimensão abstrata do tempo, mas o que permite a consistência do movimento no fluir da vida. O que permite o encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro - para que possam irradiar no presente em múltiplas direções. Tiraram-nos os meios desse encontro, desapossaram-nos do que torna possível a afirmação da nossa presença no presente do espaço público. Atualmente, as pessoas escondem-se, exilam-se, desaparecem enquanto seres sociais. O empobrecimento sistemático da sociedade está a produzir uma estranha atomização da população: não é já o «cada um por si», porque nada existe no horizonte do «por si». A sociabilidade esboroa-se aceleradamente, as famílias dispersam-se, fecham-se em si, e para o português o «outro» deixou de povoar os seus sonhos - porque a textura de que são feitos os sonhos está a esfarrapar-se. Não há tempo (real e mental) para o convívio. A solidariedade efetiva não chega para retecer o laço social perdido. O Governo não só está a desmantelar o Estado social, como está a destruir a sociedade civil. Um fenómeno, propriamente terrível, está a formar-se: enquanto o buraco negro do presente engole vidas e se quebram os laços que nos ligam às coisas e aos seres, estes continuam lá, os prédios, os carros, as instituições, a sociedade. Apenas as correntes de vida que a eles nos uniam se romperam. Não pertenço já a esse mundo que permanece, mas sem uma parte de mim. O português foi expulso do seu próprio espaço continuando, paradoxalmente, a ocupá-lo. Como um zombie: deixei de ter substância, vida, estou no limite das minhas forças - em vias de me transformar num ser espectral. Sou dois: o que cumpre as ordens automaticamente e o que busca ainda uma réstia de vida para os seus, para os filhos, para si. Sem presente, os portugueses estão a tornar-se os fantasmas de si mesmos, à procura de reaver a pura vida biológica ameaçada, de que se ausentou toda a dimensão espiritual. É a maior humilhação, a fantomatização em massa do povo português. Este Governo transforma-nos em espantalhos, humilha-nos, paralisa-nos, desapropria­-nos do nosso poder de ação. É este que devemos, antes de tudo, recuperar, se queremos conquistar a nossa potência própria e o nosso país." JOSÉ GIL (filósofo)

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