sob a pele

Porque há-de sob a pele o sangue amotinar-se
quando apenas a pele havemos convocado
mas quanto mais a pele a vemos sem disfarce
mais sob a pele apela o sangue amotinado

Quem nos faz de repente esta rampa temer
da cópula de um dia à cúpula do dia
Porque há-de sob o sangue a alma estremecer
se decretámos nós que ela não existia.


David Moura Ferreira

Porquinho da Índia

Já agora que me lembrei de Manuel Bandeira, aqui fica um dos meus preferidos:


Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-Índia.
Que dor de coração eu tinha
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
levava ele pra a sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não se importava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...


- O meu porquinho-da-Índia foi a minha primeira namorada.




Manuel Bandeira.

Morro do Encanto

(...)
Falta a morte chegar... Ela me espia
Neste instante talvez, mal suspeitando
Que eu já morri quando o que eu fui morria.


Petrópolis, 21-12-1953
Manuel Bandeira: Nocturno do Morro do Encanto.

O pecado.

A 29 de Outubro, Tiago Barbosa Ribeiro escreveu Feuerbach revisitado

e eu transcrevo


Não sejamos hipócritas. A mais válida das razões para recusarmos a herança judaico-cristã é também a mais simples: a preguiça é um dos seus pecados mortais.

hoje.