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grita
e enquanto não tiveres a certeza
que eu te ouço
repete
a palavra que queres fixar na memória do mundo
por estes dias em que te perdeste ao perder tudo
que é o que podias lembrar
o que tinhas de teu
para além do nome

nova orleães

ontem fui a lisboa

Ontem fomos ao Aeroporto de Lisboa.
Fomos resgatar parte da família no seu regresso dos Estados Unidos da América. Por isso, prestei pouca atenção aos outros aspectos do dia. Se não tivesse ido a Lisboa, tinha ido até uma conferência nacional sobre as autárquicas (do bloco de esquerda). Como não fui, procurei ler no meu jornal de hoje alguma coisa que me dissesse o que se disse sobre a questão autárquica nessa conferência.

Mas, a acreditar no jornal, a conferência foi sobre as presidenciais. Quem assim nos fez até sermos todos tão parecidos? Até parecermos membros de um só e mesmo partido - o das oportunidades... E quem me dera que não o dos oportunismos! Que futuro nos reserva o passado?

Ontem, fui a Lisboa. Se tivesse ido ao Porto, tinha ido a Lisboa.

o verão vai embora


O cardo adula com penugem tenra

A papoila arroja de si o vestido
como uma grávida

A macela desfia
pelos botões

A chicória fecha-se
e encanece.



[Reiner Kunze (Luz Videira e Renato Correia)]

flor de laranjeira



Nada na minha vida verdadeira me liga às flores de laranjeira. A não ser lembrar-me que a minha juventude não gostava de as ver cair cedo demais das laranjeiras que haviam de dar as laranjas a roubar nas noites escuras da aldeia invernosa. E ouvia falar delas para os casamentos das fotografias.
Até que um dia vi uma fotografia em que tu, vestida de noiva, seguravas um ramo, a flor de laranjeira . Eu não sabia como podem ser lindas as flores de laranjeira. Desde então bebo flores de laranjeira perdidas na água fervente em que as mergulho. E espero sujar a lapela do meu melhor casaco com um pingo da flor de laranjeira do sonho (tal qual a da fotografia) em que a tiravas do teu ramo e me estendias a mão...

a pintura do amador




uma discussão acesa é candeia na noite dos amantes:
os corpos servem é para discutir e as mãos em labaredas
para sublinhar as palavras mais ardentes enquanto as bocas
desmaiam - disseste isto e aqui chegada apagaste-te em silêncio
e repouso, encolhida ali perto numa curva do meu sonho, ao luar.