posso nem ter mais que fazer
mas hoje não vou fazer o que é costume
e vou antes acender um azedume
que me vingue do dia que acabei de perder
se um dia...
se um dia me encontrasses
ainda que eu não encontrasse mais ninguém
tal dia seria a vida completa e plena
ainda que eu não encontrasse mais ninguém
tal dia seria a vida completa e plena
quanto pau a mais que ferro?
Quanto pau tem uma faca a mais que ferro? Ou a roda de um carro ou a gadanha da morte? Ou a foicinha ou a enxada que abre a regueira?
No lagoaceiro, guias a água até onde ela se some no leve areal que é onde o milho não sobrevive e a abóbora raquítica e bêbeda da tua água boleca te serve de desculpa para veres pessoas e pernas de cachopas que passem com seus carregos de feijão arrancado pelo pé.
Mal se endireitam as cachopas na voz e é para murmurar coitado do rapaz! Tão mordido está pelas folhas do milho e sem leituras que nem sabe que fazer do entrepernas! Elas conhecem o ferreiro que moldou a pá da enxada, o martelo, as orelhas. Pelo olho da enxada passa a identidade do cavador, o pau do peregrino, o cabo encerado pelo suor e com rugas e calos de gente, um cabo dos trabalhos rasgado pela cunha temperada na celha do lameiro. Elas não conhecem a marca do cavador, o cabo da enxada espetado na cova do ombro, na espreita dormente da presa, os nervos despertos para a vibração da toupeira cega quando cava o seu último túnel.
Escritos para os sons da escrita (audio blog e podcast) da voz e da música de José António Moreira
No lagoaceiro, guias a água até onde ela se some no leve areal que é onde o milho não sobrevive e a abóbora raquítica e bêbeda da tua água boleca te serve de desculpa para veres pessoas e pernas de cachopas que passem com seus carregos de feijão arrancado pelo pé.
Mal se endireitam as cachopas na voz e é para murmurar coitado do rapaz! Tão mordido está pelas folhas do milho e sem leituras que nem sabe que fazer do entrepernas! Elas conhecem o ferreiro que moldou a pá da enxada, o martelo, as orelhas. Pelo olho da enxada passa a identidade do cavador, o pau do peregrino, o cabo encerado pelo suor e com rugas e calos de gente, um cabo dos trabalhos rasgado pela cunha temperada na celha do lameiro. Elas não conhecem a marca do cavador, o cabo da enxada espetado na cova do ombro, na espreita dormente da presa, os nervos despertos para a vibração da toupeira cega quando cava o seu último túnel.
Escritos para os sons da escrita (audio blog e podcast) da voz e da música de José António Moreira
a mulher sentada
de perna traçada
a mulher sentada
e cabeça na lua
não vê sol nem solidão
ali mesmo à mão
ao cimo da rua
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