em nome da obra de deus

se deus não existe não tem culpa

mas dos maiores ladrões
se diz que se tanto roubaram
foi por mor das obras de deus

e a prova está na falta de desmentidos
do reino dos céus.

têm razão para ter medo

não foi um fio de pensamento do presente
nem foi um erro de cálculo  de boa gente

que nos trouxe até aqui e até à miséria

material
e moral

apesar da muita lata e da muita léria
sabemos todos que o que nos falta a todos  foi roubado
por conhecidos ladrões  com nome e apelido

ainda a roubar em reformas e pensões
até aviões e legiões
de dezenas de guarda costas  por cada um dos milhões

dando prova de que se encheram de dinheiro e de medo
em segredo

e chegados aqui
melhor que ninguém eles sabem:
há quem pense em casacos feitos dos seus coiros
para sobreviver ao frio deste próximo inverno
neste inferno.

um dia destes

um dia destes vou ver-te saltar à corda
os amigos servem para isso e pouco mais
admirar habilidades naturais como saltar
se tornam humanas nos nossos amigos

que treinam tão intensamente o salto
à corda como o salto à vara ou o assalto
à mão armada ou o assalto de consciência
ou a ciência aplicada ao amor e às relações

sociais também são os sócios no capital
os meus amigos do alheio sei lá eu qual
quase tudo o que vejo me é alheio agora

como o teu assalto à distância o remoto mergulho
em suor humano treinando o frio de cada músculo
por cada presente cruel  e do futuro como causa.

desenhar farrapos

mataram-me o passado de que valia a pena cuidar
como se cuidasse um porco com abóbora couve e farelo
sobra-me a memória da lâmina da faca de cabo amarelo
com restos de sangue seco de passado ido a sangrar

agora bem me levanto a puxar a cortina para ver que dantes
nada há que me lembre a não ser o gesto diário de lavar
os dentes que sei ter sido um gesto antes sem ser lembrar
mas como uma certeza sobre os maquinismos dos instantes

cruzam-se comigo todos os dias ou sou eu que hoje vos vejo
como um reflexo de cada dia anterior em meu liso espelho
de porta do guarda roupa que dá para a rua onde moro

ou sou eu que acordo para acenar  e soprar da mão o beijo
sem sair do quarto  embora me agite vida de besouro velho
desenhando farrapos de tempo sem ver porque neles  demoro.

depois vieram tambêm cá