O que lhes está acontecer?

O que lhes está a acontecer é coisa para fazer com que nos aconteçam coisas a nós. O Prego no Sapato chamou-nos a atenção para uma carta ao director escrita, por A. Lima, para O Público. Faz uma viagem entre a história do que viu acontecer e do que viu na televisão como sendo o acontecido. Transcrevemos:


(...)
Ao chegar ao topo da escadaria percorreu dez metros, com dois ou três cumprimentos pelo meio, e entrou de imediato numa sala onde ficou fechado com algumas pessoas durante o restante período que permaneceu na Assembleia da República.

Durante esse pequeno percurso presenciei o fenómeno verdadeiramente assustador de cerca de 50 jornalistas, fotógrafos e operadores de câmaras num "assalto" completamente desvairado para captarem imagens ou recolherem declarações dos deputados. Corriam, empurravam-se e gritavam, fazendo com que os restantes presentes se afastassem estarrecidos com o que estava a suceder. Foi nessa ocasião que alguns fotógrafos (seis ou sete) saltaram para cima de uma mesa grande, que, com o peso e com outros empurrões desses trabalhadores da comunicação, se partiu com aparato.

(...)
Ao pé de mim, um fotógrafo levantou-se com um ar absolutamente tresloucado, muito vermelho, pingando suor e quase sem conseguir falar, dirigiu-se a quatro deputadas do PS e do PSD que se encontravam a um canto dos Passos Perdidos a observarem, espantadas, toda esta cena e, parecendo que lhes queria bater, gritou-lhes: "Quem é que pôs ali aquela merda."

Nessa altura, já Paulo Pedroso estava a caminho do Rato e aquela meia centena de jornalistas (até tenho dificuldade em chamar-lhes assim) precipitaram-se a correr para ir atrás dele.

(...)


Assim A. Lima termina a sua carta:


Estes são os factos que presenciei, que me fizeram perceber quanto, em Portugal, os verdadeiros profissionais da comunicação social carecem de fazer um debate sério sobre o que lhes anda a acontecer. Não tanto pelo triste espectáculo, mas pelo que, a partir da sua própria excitação, construíram para a opinião pública.

(...) Por favor, seriedade precisa-se!



A forma como estas coisas se passam não pode ser atribuída ao voluntarismo e histerismo de jornalistas jovens e impacientes por fazer e ser notícia. Tem a mão dos chefes que definem políticas e estilos de informação.

E o que lhes está a acontecer, como feras de uma selva de "in"formação, ainda faz acontecer alguma coisinha má a todos nós.

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