A aranha idosa

Ele sobe ao poder. Apoiado em aliados poderosos que dele precisam para fazer guerra a outros poderes na altura adversários dos seus aliados. Depois, o poder sobe-lhe à cabeça e vai-se cercando de tudo o que o poder pode dar: dólares, tesouros, palácios, etc. Embebeda-se de poder até jogar o jogo da vida, fome e morte do seu povo. O seu povo tem nada e ele nada em dólares e fausto. Está cego e não pode nem quer parar a escalada do terror. Para ser o mais poderoso entre os poderosos, decide ser profeta e até fazer guerra a alguns dos seus vizinhos. Sem reservas dos seus aliados, vai recebendo o apoio dos negociantes, em particular, de armamento.

Até que um dia entra em rota de colisão com os interesses dos seus antigos aliados – em ouro negro e dólares. É então que os ex-aliados declaram aberta a caça ao tesouro e do dono do tesouro. E despejam arsenais de loucura na caçada, transformando um país numa coutada. Açulam cães e furões com promessas de prémios de muitos milhares de dólares pela cabeça de raposas famosas como cartas de um baralho do jogo da guerra. E açulam países com promessas de contratos milionários na reconstrução do pais que ajudaram a destruir ao apoiar e, mais ainda, ao apear o ditador.

Um dia da semana passada, depois de meses de surtidas infrutíferas no que respeita a armas de destruição maciça, com caça de troféus menores e muitas baixas em acidentes de caça, lá apanharam o ás de espadas. Bem precisavam! Ainda sem conseguir apanhar o cobiçado troféu taliban, podem mostrar ao mundo o velho ditador enfiado num buraco coberto de lixo, na companhia de duas metralhadoras e centenas de milhares de dólares.

Virtuosos caçadores, poderosos do mundo, fazem biquinhos de doçura sobre o acontecimento. Até a voz lhes treme nas declarações sobre a importância da captura do símbolo do terror e da opressão. Nesse caminho que fez de caçador a caçado pelo poder, Saddam perdeu todo o brilho e aparece como um indigente cheio de dólares que já não servem para comprar o que quer e quem quer que seja.

Os políticos que têm a ilusão do poder eterno bem podem ver Saddam como a imagem que o espelho do poder lhes devolve quando se demoram a espreitar por ele. Tudo começa e acaba em dólares que deixam de ser baba para linhas de seda dos palácios da aranha ascendente e parecem ser o que são – podridão no túmulo da aranha idosa.


[o aveiro; 18/12/2003]

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