Quando eu era pequeno, na minha aldeia, a caixa vermelha do correio estava pendurada na parede exterior da loja de fazendas do meu tio-avô Claudino. Nunca cheguei a enfiar lá qualquer carta. Também não chegava à caixa. O meu tio vendia os envelopes, os selos e os postais e, em caso de necessidade, escrevia as cartas.
O carteiro vinha de Vagos de bicicleta com o grande saco preso no quadro. Se vinha carta e não havia gente na casa, a carta era metida por debaixo da porta da sala do Senhor. Mas a maior parte das vezes, o carteiro parava na estrada, chamava pelo nome quem andasse no campo e entregava a carta e o recado ali mesmo. As mulheres de mãos embrulhadas nos aventais esperavam o carteiro para lhe entregar cartas, documentos, ordens para aforros, dinheiro para enviar vales postais a este ou àquele, etc. Nesse tempo, em Vagos, não havia balcões de serviços como há hoje. Havia os correios.
A recolha e distribuição postal pelas aldeias e vilas de todos os pontos do território tem de ser assegurada como um serviço público, uma obrigação. Por pouco lucrativa que seja a prestação do serviço em regiões deprimidas e isoladas, nenhum argumento na base do lucro ou do prejuízo pode pô-lo em causa. O mesmo para a energia, transportes, telecomunicações, … As concessões do Estado para estes serviços essenciais tem de ser feita com salvaguarda da igualdade dos cidadãos no acesso aos bens e serviços essenciais.
Nas últimas semanas, ouvimos falar do encerramento de estações dos correios no interior do país. É claro que, como se percebe pela memória da minha infância, não tenho nenhuma objecção a que o serviço seja assegurado em combinação com outros serviços. Os centros cívicos das freguesias acrescentam animação comunitária com a prestação de serviços como a venda de selos, internet, multibanco, aforros, etc.
Estranho é que se oiça falar de iniciativa dos CTT com ameaça de fechar esta ou aquela estação por não ser rentável. Isso é intolerável e se a empresa concessionária o fizer, o Estado pode caducar a concessão rentabilíssima de ser a empresa Correios de … Portugal.
Ouvi alguns autarcas falar disso e do protocolo entre a ANAFRE e os Correios de Portugal, algumas reclamações dos trabalhadores dos correios e nada mais.
Não ouvi o Governo. Talvez não tenha recebido o postal de alarme… deste Ano Novo, por ter deixado despedir o carteiro.
[o aveiro; 31/12/2004]
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