1.
Eu bem tinha escrito que o ministro do turismo de verão ia governar para os lados da quinta do lago. Por uma revista do expresso, soube que a secretaria de estado fica muito perto. E descobri agora que o primeiro ministro foi para a quinta do lago para uns dias de veraneio e devaneio, acompanhado dos seus filhos. Não sei o que é a quinta do lago a não ser das referências das colunas das tias deles. Mas deve tratar-se daquilo a que os teóricos chamam uma nova centralidade.
2.
Os algarvios viram arder a serra e a terra. Reclamam apoios rápidos. O primeiro da quinta do lago não consegue declarar o estado de calamidade para a região. Porque será?
Felizmente temos chuva. Se não tivesse chovido, o que teria ardido? Quem diz que esta chuva estraga o verão, não sabe nada de salvação. Só sabe que é de um extremo mau gosto que chova onde é mais o sol o que convém. Quem nos dera o sol na quinta do lago e nas praias todas e chuva nas florestas (já que estas são mais pasto das chamas, também da incúria, e menos pasto para os seus habitantes).
3.
Pelas fotografias que vi, a quinta do lago deve ser a capital da cusquice do bronze. Por momentos, fiquei sem saber se o salvado passa os fins de semana a palrar com os jornalistas na quinta. Ele sempre se foi confessando como tecedeira de comentários sobre a actualidade. O director da judite dá-se a conversas de treta e, coitado!, nunca imaginou que os jornalistas do correio da manha chegassem ao extremo da perfídia de o gravarem para a sua posteridade. Quem nomeou este director da treta que quer passar de vítima da sua treta a vítima de uma conspiração de treta? Neste romance só há conspirações e cabalas! De cabala do salvado, a salvado da cabala? Neste verão cabalar, chovem cabalas.
4.
O independente publicou parte das conversas. A sua directora, conhecida por plantar papéis, vem plantar extractos de conversa gravadas sem autorização. Sem autorização, também ela. Concorrência desleal ao independente de portas e guedes! E lá se foram salvado e sara, com a água do banho. Provavelmente, o futuro dirá que não se passa nada de tão passado que está.
5.
E a pública, na falta de assunto, decidiu falar da história de sucesso dos ex-maoístas. Fui ver. O sucesso dos ex-maoístas é o barroso feito couve de bruxelas e o director do público ele mesmo, para além do lamego no iraque, da esther de israel, etc. Afiançam-nos que balsemão gostava de trabalhar com ex-esquerdistas, esquecendo-se dos gostos de belmiro. Aproveito para concordar com o morgado que ironicamente dá graças ao destino por não ter tomado o poder. Mais ainda por saber quem, de entre os ex-maoístas, perseguiu o poder até lhe tomar as rédeas . Como cavaleiros montam o poder. Como cavalos, lembram-se do freio nos dentes. Quem puxa as rédeas?
Se eles são assim na sua ascensão em democracia, imaginem o que seria se tivessem tomado o poder como ditadores do proletariado. Um pais que se deixa invadir por ex-maoístas só pode ser um pais atrasado.
Ex-maoístas a cair das nuvens é chuva ácida.
[o aveiro; 19/08/2004]
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