Meses e meses de trabalho a ensinar e a aprender e ninguém nos liga coisa alguma. Ninguém está interessado no que ensinamos e muito menos no que aprendemos, dia a dia. Todos pensam que esse labor quotidiano nem existe. Para todos os efeitos essa escola do dia a dia é uma sociedade recreativa. Fora da escola todos têm a certeza sobre a sociedade recreativa de estudantes e professores. O melhor do mundo são as crianças - disse o poeta. O pior do mundo são os professores e já não há professores que prestem - diz o pateta.
Um locutor da RTP1 disse que os jovens procuram nos professores explicadores a explicação sobre aquilo que os professores professores não sabem explicar nas salas da sociedade recreativa. Não há tolo que não acredite piamente nas suas tolices. Tolices professorais são inventadas por professores que desertaram.
Ao chegar a época dos exames, a sociedade recreativa apresenta-se como sociedade dramática e toda a gente quer saber o que fazemos em todos os minutos do dia a dia desta sociedade. E toda a gente, que não quis saber o que ensinamos nem o que disso sobrou em aprendizagem, quer saber o tamanho do que os alunos escreveram como respostas nos exames mais de consciência que de ciência. Se cada acto do dia a dia do ensino pouco ou nada vale para fora da escola, já cada acto e acontecimento do dia a dia dos exames é tudo, é o todo, é o drama, é o clímax, é ... o máximo. Não é? Em tempo de exames, cada palavra de ministra ou secretário de estado é amplificada pelo megafone do drama sindical. Cada acto legítimo dos sindicatos agiganta-se no medo de governantes que falam e não fazem o que deviam e dizem fazer. E até aconteceu, neste país dramacrático, ver professores e educadores a chorar e a lamentarem ter sido obrigados a assinar contra sua vontade isto ou aquilo por medo de represálias. Temos de confessar que assim é difícil imaginar a escola da educação cívica, se ainda for verdade que civismo tem a ver mais com a coragem da decência que com a docência. O que nós passámos para aqui chegar. Aqui? E agora, 30 anos depois da revolução democrática!
Para completar o meu desgosto, vai o Presidente da República até Leça do Bailio, do alto seu senso comum, confirmar-nos que, como outros políticos, não conhece as escolas portuguesas e conhece as escolas finlandesas. Alunos finlandeses informaram o nosso presidente que, por semana, têm 22 horas de aulas e os professores estão pela escola 50 horas para os apoiar em tudo o que é preciso. Para o nosso Presidente poder concluir: "Está tudo dito!"
E eu? Eu quero ser um professor finlandês.
[o aveiro; 23/06/2005]
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