Candidato

As campanhas políticas passam por nós e pelos dias da nossa vida. Agora passa por nós a campanha dos candidatos à Presidência da República. Passam pela nossa vida os candidatos, o que dizem os candidatos e o que dizem dos candidatos.

Por mim, passa tudo e passam todos duas vezes.

Numa primeira volta, ouço os candidatos todos apresentar as suas posições e as suas propostas políticas, para concordar com pequenos detalhes num ou noutro discurso e escolher um lado, um candidato.

E, por força das minhas escolhas, começa uma segunda volta. À minha volta, as vozes levantam-se gritando a inutilidade da candidatura do meu candidato e sobre o facto de ele não ser afinal candidato já que não se afigura provável a sua eleição e ele levanta problemas que não os triviais das candidaturas à Presidência da República, referindo principalmente opiniões divergentes das ideias e planos dos governos. Perguntam-me algumas vezes se ele é candidato ou não ou se não é mais que uma campanha. Perguntam-me se não seria mais sério e responsável ele desistir a favor de algum outro que reuna condições para uma disputa real. [Conselhos e opiniões muito semelhantes foram utilizadas contra a candidatura do Bloco de Esquerda às Câmara e Assembleia Municipais em que participei recentemente. Se os tivesse seguido, tinha aceitado que as minhas opiniões não contam e podiam ser perfeitamente contidas nas opiniões de algum eleito de um outro partido. E eu sei que isso não é verdade.]

A democracia empobrece quando alguma corrente de opinião desiste da sua afirmação pública e desiste das suas candidaturas. Até porque desiste de fazer representar na luta política as pessoas que lhe dão vida e se revêem na opinião política do seu candidato e porta voz.

Cavaco Silva é o economista também responsável pela desgraça a que chegámos , o cara de pau salvador do país com as mesmas artes da desgraça e apoiado nos mesmos artistas. Há mesmo quem acredite que desgraça após desgraça é graça certa.

Louçã é também economista. Vem dizer-nos que o que nos salva são as pessoas em acção e que Cavaco Silva não é mais que ministro de uma cerimónia ritual da alta finança em que os acólitos são os banqueiros por ele libertados das ameaças de crise que aflige tudo o que não é capital financeiro.

Escolho Francisco Louçã.

[o aveiro; 15/12/2005]

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