A festa

Todos nos queixamos da falta de avaliação rigorosa dos sistemas. Dizemos que quando pensamos em avaliação, estamos a pensar na avaliação dos outros e, forçados a aceitar que temos de ser avaliados como tudo o que mexe, tudo fazemos para contornar as mudanças a que uma avaliação séria nos forçaria. Falamos de avaliação e avaliamos todos os nossos dias.

É isso. Nestas vésperas das festas passamos os dias em avaliações do desempenho dos estudantes e sentimos há tanta avaliação a mais como consequências a menos. Sabemos que uma boa parte dos nossos fracassos não têm origem no trabalho de todos os dias, mas antes na falta do pão de todos os dias em cada uma das casas que habitamos. Falar de pão é falar de espírito, de cultura, da língua e das linguagens, de reconhecimento do trabalho como prestação social, ou de respeito pelos outros, de fraternidade, de solidariedade.

A avaliação nas escolas dá pela falta da primeira demão na pintura. Como se fosse natural, assume-se que nada há a esperar do lado dos primeiros pintores e a escola, sabendo que não pode dar a tal primeira demão, cobre a falta ou a ferrugem com uma demão de máscara e sobre a qual cola a sua marca, uma marca de instrução.

Os sistemas de recuperação, ao nível da marca da instrução especializada, não fazem mais que acrescentar máscara à máscara. Que se deixa cair e se perde a cada pequeno distúrbio ou sempre que alguém acerta com uma pergunta no essencial.

A frequentíssima avaliação nas escolas diz-nos o que não vale a pena e alerta-nos para o que valeria a pena mudar se o princípio de que partimos fosse que somos todos iguais em oportunidades que valem a pena, resultantes do esforço, se nutrem de mais esforço, que o que interessa é antes de mais o que se aprende e o que se sabe. E que a felicidade não tem como medida o vil metal e o privilégio. A frequentíssima avaliação nas escolas deixa-nos cansados ao mesmo tempo que diz à sociedade que estamos em férias e em festa. A sociedade fala disso avaliando-se. falando do que não sabe fazer.

Não foi a escola que contaminou a sociedade com o seu modelo de avaliação. É o contrário que acontece.

Boas festas, pois!

[o aveiro;22/12/2005]

Sem comentários: