Deixei de acreditar em asas para voar.
Casei-me para ter uma viúva capaz
de me ver voar sem asas como labareda no forno
ou como voa o fumo quando sai da chaminé
ou como voa a cinza no cume da liberdade
de um monte ventoso ou à porta de casa
em certos dias de cabeça perdida, de vento irrequieto
a desmanchar perucas, a levantar saias e a despedir
chapéus para as retretes públicas dos cães.
Outros animais de estimação, como eu, sem asas,
e até as crianças deixaram de poder brincar
nos ex-jardins públicos, privadas a céu aberto
Mas mesmo sabendo eu que o fumo da minha carne
e a cinza dos meus ossos podem cair num monte de caca
a minha esperança de voar sem asas permanece intacta.
1 comentário:
Boas...
Parabéns pelo de blog de apologia à diversidade caracterologica!
Tudo de bom.
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