De vez em quando, fico sozinho. Saio para a varanda de vento e fumo um charuto da herança de Estrela Rego. O tempo escoa-se enquanto traduzo (copio, manuscrevo) um livrinho de Teoria Axiomática dos Conjuntos. Para ler francês e escrever cuidadosamente símbolos, uns depois de outros, num caderninho pautado de capas pretas, para onde verto em português, de ano em quando. o livro de Krivine. O caderninho foi comprado numa papelaria da rua de entreparedes que já nem deve existir. Não há utilidade alguma nisto, mas não resisto a passar um teorema sempre que me lembro. Hoje salvei o caderninho e o livro das mãos afiadas da minha neta mais nova e manuscrevi mais um teorema. Não dá para mais que isso. Os dedos adormecem cada vez mais rapidamente. E tenho de voltar para o computador que me livra do formigueiro.
Tenho vários livros destes e, para cada um, um caderno. Nuns casos, do par, sobra-me o caderno. Noutros, sobra-me o livro. E ao dar com este ou aquele sei quantos anos se passaram desde a última vez, desde a última página. Mais ou menos, porque eu raramente escrevo as datas em que fiz e faço isto ou aquilo.
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