Estou a olhar para o dia que aí vem. Não consigo ver muito bem o que vai acontecer. Ao longo dos anos, os poderosos foram escrevendo, página a página, ano a ano, os nossos anos por viver. Deram-lhe a forma de leis, estudos, projecções, etc. Para nós lermos. Cada uma das páginas reclamava para o futuro que prometiam um ou outro sacrifício, esta ou aquela taxa, etc, garantindo sempre que ninguém melhor que eles podia compreender o que precisava de ser feito... Pediam que acreditássemos até porque nunca se enganavam, raramente tinham dúvidas e estavam de pedra e cal para governar por décadas e décadas, e embora parecessem diferentes seriam sempre os mesmos governos. intermitentemente.
De tudo o que eles escreveram, metade aconteceu mesmo. Os governos repetiram-se por força dos votos de vencidos e convencidos de que para a alternância não há alternativa. De resto, tudo mudou. Os eternos gestores dos dinheiros públicos vieram dizer aos pelintras da Europa que tinham sido esbanjadores, pouco produtivos, nada competitivos, e que, em consequência das políticas erradas e de decisões insensatas e tolas, o país estava a braços com uma crise difícil de superar. Para a combater, novos sacrifícios, mais anos de trabalho, congelamento de salários, etc, tinham de ser feitos pelos pelintras da europa. De um dia para o outro, tudo o que tinham escrito já não tinha sentido e outras medidas se impunham. O que tinham dito ser possível e desejável para amanhã, passou a ser impossível e digno de radical rejeição. Agora, era claro que se tinha trabalhado mal e pouco até agora. E aos velhos de quem dizem que trabalharam mal e pouco, produzindo ruínas pouco competitivas, reclamam agora que trabalhem mais anos, sem esclarecer como podem fazer melhor do que quando faziam tudo mal.
Agora, ficaram tão espertos e atrevidos que dizem hoje de manhã o que devemos fazer amanhã para que tudo corra bem e desmentem hoje á tardinha as ordens que deram de manhã e já tinham provocado mudanças na nossa vidinha. E logo nos repetem a cada desmentido do que dizem que tudo sabem e tudo fazem pelo nosso bem, sendo que o nosso bem vai mudando todos os dias para pior.
Quem são eles? Uma parte de uma história verdadeira que ninguém conta e em que ninguém conta.
[o aveiro; 27/9/2007]
1 comentário:
São autênticos exércitos de gente que reclama a acção dos outros, que põe ar de quem sabe como tudo deveria ser e que não diz realmente nada. Passei dois dias numa atmosfera saturada de "decisores"e "consultores". Dói-me a cabeça.
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