dois em um

Há muitos anos atrás, fiquei uns meses a trabalhar numa escola de Aveiro. Devia estar em mudança de São Tomé para Cabo Verde ou em Cabo Verde, de S. Vicente para a Praia. Não sei. Nem sei em que ano. E nem isso interessa. Posso saber do que aconteceu sem saber quando aconteceu. E cansa-me procurar.
Nesse pequeno intervalo (dois ou três meses) leccionei em algumas turmas que me estavam distribuídas. De uma delas, lembro-me de alguns alunos e há quem, passados muitos anos,tenha falado comigo lembrando pequenos episódios desses meses em passagem. Devem ter-se divertido e eu também.

Uma aluna de então, Gabriela(?), contou-me anos depois que me tinha achado muito estranho. Em alguma deslocação com o pai a uma fábrica da região de Aveiro, tinha-me conhecido como motorista (camionista) da empresa. Ela sabia que o seu professor de matemática era camionista de longo curso e até sabia onde eu pegava ao serviço como camionista. Não sei como é que ela resolveu o problema. Mas lembro-me de ter sido dois, realmente dois.

Dos dois, um morreu a meio da tarde da passada sexta feira. Nas horas de espera, conversei com pessoas que não via desde esse tempo antigo. Um deles, Miguel(?), chófer de praça em Vagos, que me levou (e à família) ao aeroporto de então, falou-me de tudo e de nada, de todos e de ninguém (porque eu não sei o que ele pensa que eu sei) e assistiu comigo à passagem do barulhento cortejo de camiões (famílias inteiras na cabina) com histórias de fascínio pelos camiões e do meu fascínio pelos grandes navios sem porto. Por momentos, dei por mim sem saber quem morrera: qual dos dois?

1 comentário:

RESPE.CT - ERASMUS+ disse...

Recebe um abraço de amizade fraterna. Quem tem um irmão como tu só pode ser feliz. Acredito que o Délio saiba isso.

somos, fomos, somos, seremos