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Somos nós quando interpretamos o cheiro do mar e só nós contamos os cheiros, um depois do outro, distintos como agulhas de pinheiro caindo do ar a pique sobre as narinas abertas e ao mesmo tempo fechadas para tudo o resto, para todos os restos, para os restantes há quem diga cheiros que o não são. Haverá cheiros que o não são? Os nossos cheiros constituem-se na nossa arrogância. O que cheira bem é a nossa arrogância a dizê-lo. O que cheira mal é a a nossa arrogância a declará-lo. O que não é cheiro que se cheire é a nossa natureza a nomear uma estranheza, é a nossa arrogância a fechar uma fronteira, a levantar um muro intransponível. Somos nós a não querer cheirar, a não querer meter o nariz onde não fomos chamados.
Somos nós quando nos interrogamos sobre os cheiros que o não são e cheiramos as escondidas dos cheiros que o não são, de que ninguém fala, que ninguém quer cheirar, que ninguém cheira para todos os efeitos. Somos nós quando abrimos o laboratório para fabricar cheiros que ninguém quer cheirar. Somos nós quando somos curiosos até para o que nos ofende o olfacto. Também somos nós.
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