4)
Somos nós sentados nas varandas altas vendo todos os outros como formigas laboriosas lá em baixo. Com as mãos firmadas na balaustrada, somos nós, de pé sobre as duas patas traseiras que imaginamos todos os outros incapazes, como formigas de um destino curto ou de uma determinação menor que não é a sua, de cada formiga que não sabe mais que o seu lugar na fila do carreiro para um formigueiro sem emoções. Somos nós quando falamos de nós como um formigueiro de emoções. Somos nós capazes de chorar e de rir de si, por si e para si, como se nenhum outro ser houvesse capaz da tragédia e da comédia. Somos nós capazes de imitar todos os outros seres e de pensar conhecê-los, de os classificar e nomear como se eles não passassem de nomeações, isso mesmo, nomes de coisas. Somos nós, equilibrados sobre as duas patas como se isso nos tornasse outros, únicos e capazes de toda a criação e de toda a compreensão sobre coisas e criaturas, capazes de escrever as escrituras com as mãos livres para a acção inteligente, mesmo se vã. Somos nós. A arrogância de ser o criador, os criadores.
Também somos nós, arrogantes construtores das escolas que nos treinam para seguir a formiga que vai à nossa frente, quando descobrirmos o argumento que segue o argumento escrito pelo que vai à nossa frente e nos deixa o seu património como deixa as suas caganitas a marcar o caminho, o carreiro nos tempos mais escuros. Também somos nós os que sabem treinar os que nos seguem sendo nós, apesar disso ser o contrário da arrogância original e da individualidade felina, feroz, escandalosamente animal, escandalosa por ser humana.
Sem comentários:
Enviar um comentário