um dia destes vou ver-te saltar à corda
os amigos servem para isso e pouco mais
admirar habilidades naturais como saltar
se tornam humanas nos nossos amigos
que treinam tão intensamente o salto
à corda como o salto à vara ou o assalto
à mão armada ou o assalto de consciência
ou a ciência aplicada ao amor e às relações
sociais também são os sócios no capital
os meus amigos do alheio sei lá eu qual
quase tudo o que vejo me é alheio agora
como o teu assalto à distância o remoto mergulho
em suor humano treinando o frio de cada músculo
por cada presente cruel e do futuro como causa.
desenhar farrapos
mataram-me o passado de que valia a pena cuidar
como se cuidasse um porco com abóbora couve e farelo
sobra-me a memória da lâmina da faca de cabo amarelo
com restos de sangue seco de passado ido a sangrar
agora bem me levanto a puxar a cortina para ver que dantes
nada há que me lembre a não ser o gesto diário de lavar
os dentes que sei ter sido um gesto antes sem ser lembrar
mas como uma certeza sobre os maquinismos dos instantes
cruzam-se comigo todos os dias ou sou eu que hoje vos vejo
como um reflexo de cada dia anterior em meu liso espelho
de porta do guarda roupa que dá para a rua onde moro
ou sou eu que acordo para acenar e soprar da mão o beijo
sem sair do quarto embora me agite vida de besouro velho
desenhando farrapos de tempo sem ver porque neles demoro.
como se cuidasse um porco com abóbora couve e farelo
sobra-me a memória da lâmina da faca de cabo amarelo
com restos de sangue seco de passado ido a sangrar
agora bem me levanto a puxar a cortina para ver que dantes
nada há que me lembre a não ser o gesto diário de lavar
os dentes que sei ter sido um gesto antes sem ser lembrar
mas como uma certeza sobre os maquinismos dos instantes
cruzam-se comigo todos os dias ou sou eu que hoje vos vejo
como um reflexo de cada dia anterior em meu liso espelho
de porta do guarda roupa que dá para a rua onde moro
ou sou eu que acordo para acenar e soprar da mão o beijo
sem sair do quarto embora me agite vida de besouro velho
desenhando farrapos de tempo sem ver porque neles demoro.
despedida
fica a saudade do pão do "the caffé" e dos quintais por ali mesmo por detrás dos prédios da avenida, onde se pode rezar a qualquer deus, em paz, se não houver "derby" por perto.
despedida
foi uma honra ter servido consigo! disse eu, quando chegámos ao pé do carro dela.
na despedida, antes de entrar no carro, ela disse: porta-te bem!
e eu continuei o caminho, para me ir despedir dos meus secretos quintais da avenida.
despedida
já de saída, passámos por exposições de fotografias e já cá fora por esculturas, pelo pantera...
continuo sem entrar num estádio, mas estive lá... muito perto.
continuo sem entrar num estádio, mas estive lá... muito perto.
despedida
enganámo-nos. andámos para cá e para lá e chegámos ao outro lado. e, invejoso, tirei a fotografia que ela tirou.
despedida
nem sempre sabemos de quem nos despedimos quando nos despedimos. só hoje me despedi de uma observação de há dois anos atrás sobre a catedral que dali se via. dali, onde hoje se acotovelam algumas fumadoras para a fotografia
catedral? qual catedral? perguntei então. até que, hoje, passados dois anos, ...
lá do cimo eu bem lhe disse:
não se vai ver.
ela retorquiu:
eu sei quem lá estava (e nos viu partir voando - devia ter dito deve ter pensado).
acrescentando desconfiada:
achas mesmo que por aqui se chega à catedral?
eu devia ter dito:
-e eu é que sei?
de facto,
de facto ninguém ouviu o tiro o estampido que ela ouviu
ou melhor sentiu como uma dor fina de uma orelha à outra
atravessando a cabeça como uma agulha de som como um eco
da vida que ali não está nem está em lado algum já se cansou
de procurar por ele e ninguém sabe embora toda a gente o tenha
visto caminhando distraído como sempre a caminho de cada
lugar dia a dia como se fosse necessário encontrá-lo onde
nunca fez falta todos o sabem menos ele que não sabe parar
de se mexer sem outro sentido que não seja o sentido do dever
sem dever nada a ninguém é o que dizem os que o não percebem
enquanto ela atarantada tenta perceber porquê e para onde ele
terá ido se não há quem por ele espere ou dele precise como
foi tão natural que toda a gente o tenha visto partir sem estranheza
como se a vida dele tivesse sido isso mesmo um desnorte só
ou melhor sentiu como uma dor fina de uma orelha à outra
atravessando a cabeça como uma agulha de som como um eco
da vida que ali não está nem está em lado algum já se cansou
de procurar por ele e ninguém sabe embora toda a gente o tenha
visto caminhando distraído como sempre a caminho de cada
lugar dia a dia como se fosse necessário encontrá-lo onde
nunca fez falta todos o sabem menos ele que não sabe parar
de se mexer sem outro sentido que não seja o sentido do dever
sem dever nada a ninguém é o que dizem os que o não percebem
enquanto ela atarantada tenta perceber porquê e para onde ele
terá ido se não há quem por ele espere ou dele precise como
foi tão natural que toda a gente o tenha visto partir sem estranheza
como se a vida dele tivesse sido isso mesmo um desnorte só
vais partir
vais partir: precisas de ouvir a porta a bater para saberes
o que ainda não sabes que vais caminhar sempre em frente
quando saíres do prédio de apartamentos para nenhures
sem destino sem norte só em frente sem olhar para trás
para que a estátua de sal que há muito és caminhe contigo
e passe pelas ruas onde a esculpiste para em vez de ti mesmo
sobrar na esquina talvez como um monte de sal ou cinza
porque vai contigo para que nada nem a sombra sobre
quem desaparece tem a certeza dos olhos que ficam presos
até que se desvanece à distância de um tiro de carabina
e não por dobrar um cabo dos trabalhos ou uma esquina
quem desaparece quer mesmo ir sempre em frente sem
uma muda de roupa sem telemóvel sem cuidar do tabaco
sem caderno nem um simples lápis para esboçar o quê
o que ainda não sabes que vais caminhar sempre em frente
quando saíres do prédio de apartamentos para nenhures
sem destino sem norte só em frente sem olhar para trás
para que a estátua de sal que há muito és caminhe contigo
e passe pelas ruas onde a esculpiste para em vez de ti mesmo
sobrar na esquina talvez como um monte de sal ou cinza
porque vai contigo para que nada nem a sombra sobre
quem desaparece tem a certeza dos olhos que ficam presos
até que se desvanece à distância de um tiro de carabina
e não por dobrar um cabo dos trabalhos ou uma esquina
quem desaparece quer mesmo ir sempre em frente sem
uma muda de roupa sem telemóvel sem cuidar do tabaco
sem caderno nem um simples lápis para esboçar o quê
a canção que
a canção que se ouvia era um fado pela voz de um sax
alto dizia qualquer coisa como todo o amor que começa
também acaba como a noite que acaba ao romper do dia
ou o enjoo que acaba quando a viagem acaba e sais ao ar
o problema está em não poder dizer que o que lá vai lá vai
e que parto daqui descansado e sereno como quem muda
de casaco ou escreve um poema como se fosse um ponto
final infeliz mas ponto e final sem mais perguntas ou recuos
dizendo ficamos amigos como dantes dizia eu a mim como
se tivesse havido antes e eu me tivesse conhecido realmente
ou tivesses hesitado ao ver-me partir para o lado de dentro
de onde se solta o fado cantado por um sax como um latido
do cão de guarda ou o gemido descontrolado de uma alma
que abre uma baínha com a espada que nela se esconderá
alto dizia qualquer coisa como todo o amor que começa
também acaba como a noite que acaba ao romper do dia
ou o enjoo que acaba quando a viagem acaba e sais ao ar
o problema está em não poder dizer que o que lá vai lá vai
e que parto daqui descansado e sereno como quem muda
de casaco ou escreve um poema como se fosse um ponto
final infeliz mas ponto e final sem mais perguntas ou recuos
dizendo ficamos amigos como dantes dizia eu a mim como
se tivesse havido antes e eu me tivesse conhecido realmente
ou tivesses hesitado ao ver-me partir para o lado de dentro
de onde se solta o fado cantado por um sax como um latido
do cão de guarda ou o gemido descontrolado de uma alma
que abre uma baínha com a espada que nela se esconderá
se soubesse quem
se soubesse quem és podias chamar-me pelo nome ou
se soubesses quem eu sou podia chamar-te pelo nome
mas não há problema em saber ou não saber a solução
que me aflige é mesmo uma ausência sempre presente
um esquecimento de tudo em volta de eu reconhecer
num detalhe ou noutro as caras e os nomes e juntar
a cada cara o seu nome ou a sensação de um cheiro
a limão colhido durante um passeio pela noite dentro
se não deste por mim é porque eu nem existo como nome
nem como tempestade de que me lembre ou te lembres
ou como lugar onde tivesses estado e eu contigo só
vagamente as ruas passam a ser umas depois das outras
corridas pelos teus pés incansáveis e pelos meus olhos
feridos no mais alto miradouro a ver e chorar-me com dó
se soubesses quem eu sou podia chamar-te pelo nome
mas não há problema em saber ou não saber a solução
que me aflige é mesmo uma ausência sempre presente
um esquecimento de tudo em volta de eu reconhecer
num detalhe ou noutro as caras e os nomes e juntar
a cada cara o seu nome ou a sensação de um cheiro
a limão colhido durante um passeio pela noite dentro
se não deste por mim é porque eu nem existo como nome
nem como tempestade de que me lembre ou te lembres
ou como lugar onde tivesses estado e eu contigo só
vagamente as ruas passam a ser umas depois das outras
corridas pelos teus pés incansáveis e pelos meus olhos
feridos no mais alto miradouro a ver e chorar-me com dó
regressos lentos
uns dias faz sol noutros dias faz-se a chuva e o frio
por fora e por dentro de nós caímos em nós variando
entre sensações umas e outras marcadas pelo andar
lento entre as árvores que perdem as folhas como eu
perco palavras por dizer ou esquecidas na cesta do pão
manhã cedo ainda havia muito tempo para falar ou calar
e transformámos os dias em espera pela calada da noite
um silêncio escuro o cansaço de tudo ter dito por dentro
o lugar que sou eu ou tu conforme é quem lê eu ou tu
a realidade ou a ficção em que ela se transforma no amor
clandestino que de mim fez tanto menino como velho tímido
entre o calor e o frio dos dias temerosas antecâmaras da noite
em que caímos até não haver mais que ver ou até viver
sei lá se vai ser procissão de romaria o funeral deste solavanco
por fora e por dentro de nós caímos em nós variando
entre sensações umas e outras marcadas pelo andar
lento entre as árvores que perdem as folhas como eu
perco palavras por dizer ou esquecidas na cesta do pão
manhã cedo ainda havia muito tempo para falar ou calar
e transformámos os dias em espera pela calada da noite
um silêncio escuro o cansaço de tudo ter dito por dentro
o lugar que sou eu ou tu conforme é quem lê eu ou tu
a realidade ou a ficção em que ela se transforma no amor
clandestino que de mim fez tanto menino como velho tímido
entre o calor e o frio dos dias temerosas antecâmaras da noite
em que caímos até não haver mais que ver ou até viver
sei lá se vai ser procissão de romaria o funeral deste solavanco
Um dia teria de voltar
Depois da azáfama do Encontro Nacional de Professores de Matemática - ProfMat2010 - podemos voltar a esta margem esquerda, aquela que pode ser feita com o lado esquerdo do corpo e serve de prova de vidinha.
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