o ofício de riscar papel


Se não fosse por acaso,
outra razão me levaria forçosamente  a riscarbr> o papel que me cerca. 
Se fosse ilha e a água me cercasse,
a água riscaria com o dedo fora de borda
como se eu fosse um barco.

Exactamente para romper o cerco.
 


agarra-te bem

Como consegues fazer isso de viver no ar?  
As mãos seguram  dois paus  ou seguram-se  neles?
E os pés? Parecem presos a duas linhas que não parecem tensas cordas. 
Será  que te seguram no  ar?
Pareces contente. Não te dói? Pensas em ti quando te moves? Pensas?



O cabelo de mãos nos bolsos






Tempos houve em que sonhava que os meus cabelos se confundiam com as costas e as mangas de um casaco coçado e as barbas me serviam de agasalho ao pescoço e ao peito. E, uma vez por outra, podia seguir fascinado um homem que era como nos meus sonhos. Até cheguei a dar título ao meu sonho - O homem de cabelo com as mãos nos bolsos. Nesse sonho de vida apareci sempre grisalho aos meus olhos e é, por isso, que compreendo bem que me digam - Estás sempre na mesma, pá! Só eu sei que vivo sainda o mesmo sonho de sempre





o que eu vejo tu não vês


O que eu vejo não é o que tu vês, o que eu ouço não é o que ouves, o que eu desenho ou digo não é o que lês. 
Escrever palavras que ninguém ouvirá é o que eu sempre procurei. E que as palavras que eu venha a dizer nunca sejam escritas. 
Porque as palavras escrevem-se para serem lidas e dizem-se para serem ouvidas. Não são as mesmas ainda que iguais pareçam, como me acontece ao não me reconhecer na minha voz gravada.
E o que eu escrevo não é o que tu escreves mesmo que sejam mesmas as letras das palavras que escrevemos, elas são entendidas de modos diferentes se atribuídas a mim ou a ti e mais diferentes ainda se as dissermos simultaneamente ou se eu as mesmas disser em momentos diferentes ou olhando para quem ouvê ou ouvive instantes diferentes.

a quem não se conhece

Houve tempo para escrever um epitáfio a cada um dos conhecidos  mas a pensar em todos os que não reconhecemos, assinalámo-los com uma  cruz sobre o chão onde descansavam, procurando tornar claro que os considerámos da nossa comunidade religiosa mesmo sendo pobres e não nos merecerem outra memória senão uma cruz por cada um. Para que não se pensasse que não os tratávamos como iguais, todas as cruzes eram iguais entre si e, não levando em linha de conta os adornos, mesmo iguais como cruz às cruzes que se espalhavam por todo o cemitério dividido em linhas e colunas separadas por caminhos de saibro as linhas e por pavimentos coloridos as colunas. Mas nada de palavras e datas que os pudessem identificar como fizemos com os que reconhecemos como sendo os nossos. Os estranhos curiosos que visitavam o cemitério louvavam o gesto mas não deixavam de perguntar quem seriam os mortos que não tinham nome e porque diacho ali tinham vindo parar e porque ali ficavam enterrados naquele esquecimento de tipo particular: procurávamos tornar públicos que ali havia ossos enterrados mas ossos de ninguém.
Porquê? - perguntavam. Enquanto os visitantes fizeram perguntas às pessoas da geração que criou o cemitério e a regra, tudo parecia natural e a nossa comunidade foi considerada solidária e respeitadora para com os seus visitantes do passado desconhecidos na comunidade.
Mais tarde das perguntas feitas a pessoas que não sabiam por não terem ouvido palavra a respeito desse estranho hábito em cada cruz a marcar a existência dos ossos de algum visitante desconhecido passaram a ouvir outras explicações. Alguma coisa se quebrou a dada altura do que resultou uma grande época sem visitas até que sobraram duas pessoas da comunidade e nem mais uma visita de fora nem de dentro. As duas pessoas que ainda lá vivem não se conhecem e por isso ainda existem como guardas às portas das duas entradas que a comunidade tem: uma à entrada para cobrar a vida de quem entra e outra à saída para garantir que a vida fora cobrada como mandava o hábito mais antigo e conduzida até à entrada do velho cemitério.

Estive recentemente num ano de passado

quem se levanta para ver se
num labirinto abre um olho
mostra depois como o labirinto
o visita tanto quanto o desejo
de alugar a sua cabeça de amores
por um estranho corpo de gato
assustado por ser
sendo
um outro labirinto feito de restos
do corpo impossível de classificar

inerte na mesa do tempo

os pés pelas mãos


Os fungos e outros parasitas habituados a habitar o corpo de Amarildo Vinagre sobreviveram vários anos comendo as pernas do Amarildo. Quando as pernas acabaram, os parasitas provaram os pés de Amarildo e não gostaram. Também não gostaram de continuar a comer subindo sempre como até aqui onde passaram algum tempo feliz a mastigar o pernil de Amarildo. Um dos parasitas deu um pequeno salto e achou-se numa das mãos e no caminho de um dos braços de Amarildo de que gostou. Não tendo ele voltado para trás, outros parasitas tentaram o mesmo salto. Um a um, até a família toda subir na vida a pulso de Amarildo. O Amarildo que até aí tinha andando a temperar as pernas com o seu Vinagre, passou a temperar com Vinagre os seus braços. Ao terem acabado com as pernas do Amarildo, os membros da família dos parasitas descansaram sobre o caminho a tomar. E num impulso trocaram os pés pelas mãos quando as mãos de Amarildo se coçaram em vez de serem as pernas a fazê-lo.

se ainda tens os dentes todos

lembro-me de ti muito vagamente
mas não sei - como posso saber? -
se ainda tens os dentes todos
o que pouco me interessa e só me intriga

poder viver pendurado pelo desejo de saber
dos teus dentes que talvez nunca tenha visto
porque, disto lembro-me bem, reagias lentamente
a cada parvoíce minha e o instante feliz

nunca mereceu mais que um meio sorriso
que eu sempre soube, de fonte segura,
não era mais que um disfarce da amargura

sobre o nível actual da minha falta de juízo
ou as nódoas que eu não via mas viviam
comigo bem visíveis na gravata que eu não vestia

ainda há quem resista à chuva prevista

volto ao lugar do tempo em que saltei
por impulso para o ar da varanda
levado pela tempestade anunciada
por meteorologistas amadores
como eu

aqui espetando o ar no céu
de chuva
e eu poder acertar na previsão:

agora aqui sim chove
como eu preciso.

há sempre um insuspeito de serviço para dizer o que…

por estes dias houve notícias provenientes de espanha sobre uma escapadinha ao fisco de milhões acrescentada da incompreensão por não ter daí vindo alguma prisão de encontro ao suposto escapista.

na mesma altura vieram as novas sobre as obras de museu do escapista filantropista e do seu talento para além da cor de algumas das suas botas e a desculpa contra os contabilidosos nome desde agora atribuído a cada um e  a todos os contabilistas de escapistas.

eu não sou dado a bisbilhotar a vida dos outros e muitas vezes nem dou pelas manobras de contabilidosos e  governos dados a riquinhos que em tempo de grandes fugas de dinheiro para idílicos bancoraísos e fugas de impostos para os braços da riqueza excessiva negoceiam na base do perdão de dois terços muito religiosos do roubo caso o gentil ladrão se dê por apanhado e devolva ao menos um terço do seu divinal roubo por que se trata de gente que por tanto merecimento nos combates da extravagância na  moda das figuras públicas publicitadas pela publicidade e pela socialite da merda que une os merdosos sem vergonha alguma ….. sei lá o quê.

mas desta vez choquei com umas considerações de um qualquer a julgar-se tão nsuspeito cidadão que até eu cheguei a tomá-lo por isso e já nem me lembro de quem é

dizia ele ser uma vergonha permitir algumas informações a acompanhar essa notícia e a garantir que com certeza não houve qualquer fuga de impostos e que tudo tinha sido resolvido de acordo com a lei e só por maldade podia pensar-se que o génio riquíssimo pudesse ter fugido aos impostos e ainda menos que ele não tivesse pago tudo o que algum cocabichinhos judicioso lhe mandasse pagar tanto é o dinheiro que tem e detém……


de outro modo ficamos a saber que nenhum riquíssimo pode ter interesse em não pagar impostos já que os impostos são as ninharias para os riquíssimos isto é representam tanto quantos os amendoins que damos aos elefantes na prisão do zoo ou a alpista que o riquinho dá à sua passarinha presa na gaiola dourada cuja única obrigação é cacarejar bom dia ao seu dono e senhor sempre que ouve notícias da bolsa.

um português minimamente atento sabe é que os mais ricos dos ricos notáveis incluindo velhas rainhas e riquinhas não fogem aos impostos e que são exageradas as notícias dos que aceitam o perdão do crime e da prisão por devolverem religiosamente um terço do crime lavando dois terços que é considerado regresso a casa do dinheiro tornado apátrida por acaso.

é com o dinheiro assim lavado que os riquinhos podem receber a absolvição no confessionário judicioso e fiscalizodioso para acompanhar como padrinhos descendentes e parentes à comunhão solene ou ao casamento forrado com dinheiro lavado.

aqui há homens e mulheres e não há gatos

muitas notícias que leio não têm homens nem mulheres.

o leitor pode colocar as virgulas onde quiser para obter a leitura que lhe interese ter ou dar a ler. refiro-me sem virgulas algumas a notícias de investigações judiciais e tribunais com referências a corrupção de gabarito roubo descarado ao estado que nós todos formamos crimes de bem vestidos amigos de seus amigos de colarinho branco e mãos sujas bem cuidadas que mexem na merda com luvas etc.

muitas delas nem nomes de pessoas referem por segredos vários a começar pelo segredo da justiça quando convém pelo segredo devido ao filho da mãe ou pelos problemas que levanta ver pessoas muito importantes e ricas envolvidas em situações que nunca parecem o que são e nunca são o que parecem e postas em público poderiam criar um alvoroço tal que para além dos pobres até os riquinhos perderiam a vontade comer e de má nutrição inundariam as consultas de psiquiatria.

noutras são referidos nomes de pessoas inefáveis que aparecem como se estivessem voando sem nunca deixar marcas em átrios brilhantes nem em papéis que nunca chafurdam apesar de porcos com porcarias bem limpas penduradas em todos os fatos sendo algumas delas comendas e encomendas das almas em seu redor. as pessoas sabem que eles não existem porque quem passa por eles e os vê não acredita na sua existência ou porque aparecem limpos demais de um mundo de muitas porcarias asssertivos a falar baixo e doce com as palavras bem silabadas e salivadas tanto quanto precisam e nem mais uma gota disso. estamos convencidos que elas não existem para além das palvras que as cercam porque nunca são condenadas e nenhumas palavras as comovem e elas continuam a aparecer naquelas revistas cor de rosa ou cor de laranja ou cor de burro que não precisa de fugir ou mesmo na televisão a comentar sobre a foram como o estado é ladrao ou os defeitos da ralé que enfim é o que é. nestes casos há nomes de pessoas mas não há pessoas. mesmo quando sonhamos com os nomes e lhes atribuímos corpos eles aparecem-nos como osgas mais ou menos transparentes agarradas aos tetos dos palácios (ou das vacas que os pariram) e isso torna as notícias com nomes de homens corruputos e mulheres corruputas sem homens nem mulheres.

quando vamos para velhos só nos resta tentar compreender e aguçar os sentidos ao mesmo tempo que perdemos a memória essa desgraça que nos lembra a necessidade de nos levantarmso para ler as notícias sobre isso e o lixo.

guarda-roupa

Desde que passou a usar recipientes para a roupa suja no lugar das orelhas, nunca mais teve tempo para fazer cera.

ventira

O moço falava com dificuldade e trocava as letras ao falar.
Na minha terra toda a gente dizia baca em vez de vaca e não era bergonha.
Mas no caso do moço, escrevo assim para manter o anonimato do moço, que coitado já se fez falso tímido.
De facto, o problema de fala do moço talvez seja mais parecido com aquelas pessoas que não sabendo soletrar o rre diz le, de tal modo que quando queria dizer burro dizia vule atraindo a condescendência das senhoras distraidas que esperavam o chá bendito e não palavras mal ditas por um qualquer.
Mas não era bem estas trocas de letras, nem era como aquelas pessoas incapazes de pronunciar o quê.
Ouvi um amigo meu contar a história de um barbeiro de aveiro

(eu preferia pronunciar ábeiro, como também prefiro ibalho a ílhavo, mas tudo bem! se querem aveiro, ouçam aveiro quando eu falar de ábeiro)

a quem isso acontecia e se tornava difícil entender quando ao pronunciar contem lhe saía ontem, não sei se estão a seguir-me e a ver o verdadeiro problema do barbeiro?

Eu troco tudo, também troco as letras e até as sílabas dentro das palavras, mas é possível que mais tarde ou mais cedo me entendam porque posso repetir corrigindo até que se perceba.
A família não compreende esses "dislates" e me perguntam-me porque faço eu o papel de belhinho

(que outro papel pode fazer um velhinho daqui?)

e já me ralharam uma ou outra vez, em público e na presença do moço, quando me saíu alguma parvala fora do sítio, chegando a chamar-me tótó!

Mal eles sabem que eu, sempre numa boa, distribuía pelos meus alunos mais jovens a palavrinha tótó

e carinhosamente

E foi assim, por isso, que eu não estranhei quando ouvi, o que é raro, o falso tímido falar

ventira!

em minha defesa.

Andar de vespa

Cabeça tronco e membros. Perde-se a cabeça e os membros e sobra o tronco que deve ser capaz de rodopiar autónomo em torno do eixo das pernas. Estudei o assunto durante muitos anos, partindo desse princípio e concluí que o tronco só podia ser um sólido de revolução - uma revolução. Mais tarde concluí que teria de ser um pião e ainda mais tarde vim a inclinar-me para que podia haver dois piões rodando independentes. Foi então que percebi que o mundo das vespas era a perfeição para modelo feminino e fiquei de rastos quando compreendi que toda a gente aí tinha chegado antes de mim, sem precisar de literatura nem de matemática ou física. Era só química a não exigira qualquer esforço intelectual. A frase “ela tem uma cinturinha de vespa” era um condensado das minhas hipóteses e das minhas teses a respeito da revolução e dos seus sólidos. Muitos anos após a desilusão científica, ouvi um amigo queixinhas, que tinha dedicado toda a sua vida ao estudo de vespas, queixar-se que já não havia cinturinhas de vespa e já não cantava “oh minha vespa rainha, faz de mim … o instrumento do teu prazer …e da tua glória, sim oh sim! “ e que começava a acabrunhar toda a gente em redor incluindo as obreiras (à rainha nunca tinha visto cintura) com a sua lamúria repetida: “já não há cinturinhas de vespa”. Foi ele que me levou de volta à observação pertinaz até que os meus olhos de fundo de garrafa me mostraram uma cinturinha de vespa a deambular, entre nós em passeio de tristes, com dois movimento de rotação que a levaram para longe de nós que ficamos a rodar por ali como dois cilindros tontos e enjoados. Não conseguindo travá-la para uma conversa e, reduzidos à categoria de cilindros, nem de uma fotografia fomos capazes. Em casa, de memória cilíndrica, desenhei um esboço que mostrei ao meu amigo. Nunca mais falou comigo e amontoou todos os seus piões numa gloriosa fogueira. Ao longo da sua vida tinha comprado com afinco piões para oferecer aos netos que nunca pudera entregar por haver sempre alguém a gritar que era perigoso brincar com piões. Da fogueira sobraram os bicos metálicos dos ex-piões, de diversos feitios mais ou menos afiados, mais ou menos rombos. Guarda-os numa caixinha e todas as tardes, enquanto outros jogam a sueca ou ao dominó, ele faz passar entre os dedos, um a um, os bicos metálicos dos ex-piões. dividindo e separando, sem descanso, os bicos dos ex-piões de cima dos bicos dos ex-piões de baixo. Eu guardei o meu esboço e pedi-lhe autorização para o publicar no facebook. Ele não disse nada, como sempre, e eu, como quem cala consente, dei a conhecer a minha ideia de cinturinha de vespa. Que o meu amigo me perdoe se estas palavras lhe doerem.

de como fué la creación

Érase una vez
un mundo en el que no había nada.

Nada.
Nada de cuanto es conocido,
ni siquiera un viento que soplara,
ni un sol que calentara,
ni el agua para beber,
ni el frio para hacerte estremecer.

Nada.

Nada de verdad!



Ph.Lechermeier & R. Dautremer.
una bíblia - antiguo testamento.
edelvives. Espanã:2017
Livraria Gigões e Anantes, Aveiro

sair de casa

eu saio de casa para ir em redor da casa sempre pelas mesmas ruas, cumprindo rotinas que não sei de onde vêm e são por isso não rotinas. espero as pessoas que quero ver todos os dias no outro passeio que não o meu e aproximando-se pela minha frente ou sej am sentido contrário ao meu. as pessoas que eu quero ver nem as conheeço e elas nem sabem que eu existo, simplesmente me cruzo com elas e elas sorriem ao meu assobio que varia muito dependendo das música s que vou ouvindo e sobre alguns temas conhecidos a partir dos quais são os assobios improvisados. para mim, basta-me as pessoas que passam em sentido contrário ao meu e sem me reconhecerem. esta rotina permite-me caminha depressa e não parar. às vezes um conhecido trava-me e tece considerações sobre a música, o tempo e a família e eu disparo disparates como se precisasse de falar muito que é uma forma de não ouvir o que ainda não sei por ser actual ou que não quero saber de novo. há dias em que penso mesmo que sou feliz e já ouvi pessoas que me conhecem há muitos anos garantir que eu sou um tipo muito feliz e de bem com a vida. assobio a isso.

ir por dentro deste mundo é envelhecer

espera

as cadeiras cruzam-se nos corredores trocando sorrisos, vénias, cumprimentos respeitosos uns, interessantes outros como passos de dança. as cadeiras entrelaçam-se cada uma rodando em torno de uma perna da outra até que aquela menos robusta se deixa colar à parede onde tudo se dá ou tudo se pede.

a demolição

por aqui, como em casa, nunca abandono as pequenas coisas. não sei abandonar. a maldição de não saber sair de casa onde se amontoa a tralha que a enche como se enche o casinhoto ao canto do campo com as ferramentas e a sua ferrugem nem as ferramentas nem a ferrugem existem enquanto eu continuo a guardar na cabeça cada uma delas e as veja olhando o rasgão aberto, instalado na cabeça que não abandona e eu não abandono a ela antes de ser abandonado por ela

lembrança da vida real por via de conversas em Vila Real

Ontem fui à Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro participar num debate sobre o ensino de ciências e tecnologia e a investigação também em C&T. Quando o moderador decidiu apresentar-me citou este blog (o lado esquerdo) como prova da minha intervenção cívica. De facto, este site foi criado como depósito de textos escritos para um jornal local "o aveiro" que já nem existe e aqui foram depositados textos durante vários anos, uns mais ou menos jornalísticos e outros mais feitos de deambulações. Mas deixou de ser isso a partir da altura da morte de "o aveiro" e, especialmente a partir da minha aposentação.


Sem outro objetivo que não fosse respeitar/depositar (um registo) as minhas desorganizadas reflexões, leituras e divagações feitas antes e depois da aposentação. O envelhecimento de todos nós e a morte de alguns amigos, especialmente José António Moreira que era a voz, a música escolhida, o alinhamento e a realização (seja isso o que for), a gravação de vários programas de rádio, e mais tarde podcasts", mudaram-me já que me lembraram que eu não tinha feito qualquer depósitos dessas divagações escritas ao longo dos anos nem tinha organizado qualquer depósito disso e os guardadores desse rebanho de ideias começavam a desaparecer.


Os programas de rádio tinham emissora
  1. Radio Independente de Aveiro com José António Moreira e os programas também:
    • "Dedo no Ar" (educação) - 3 séries - vários anos;
    • "Golpe de Estado" (clandestino, de que não sobrou mais que um papel com um desenho e a ideia de ser tão improvisado como a vida é até ter falecido precocemente);
    • "Aldeia Global" (textos gravados com as vozes das crianças André Moreira e João Martins e escolhidos, traduzidos e escritos por mim como responsável na escola do projeto Apple Global Education) "Círculo Virtuoso" (ainda tenho de verificar o que seriam os textos, escritos por mim seguramente na totalidade ou em parte
    • "Sons da Escrita" de longa duração e da responsabilidade exclusiva de JAM de divulgação da literatura especialmente a poética e sobreviveu como o primeiro podcast desta face europeia;
    • "PreTextos" (diário das minhas divagações, em que foram integrados textos de André Moreira e, penso eu, de José António Moreira quando a minha vida andava enredada em outros eixos: projetos de formação intensiva, associativos ou políticos)
  2. Rádio Oceano (?) com o programa
    • "Feira do Livro" temos escolhidos, escritos e ditos por mim e pela Manuela Seiça Neves com apoio técnico de Francisco Vaz da Silva que também tinham feito parte do círculo virtuoso do Dedo no Ar.

Tinha e tenho problemas de memória com a escrita para a rádio que não foi guardada e muito menos organizada em lado algum a não ser em memórias que já não podem ajudar. Eu costumo dizer que escrevi para ser ouvido (lido, gravado, radiodifundido no tempo em foi escrito e nada mais). Já não posso ter esperança na minha capacidade de organização e memória. Por isso, e à medida que reencontro papeis (partes dos discos e dos sites não são legíveis porque são velhos ou foram fechados por quem, não sendo dono dos conteúdos, tinha meios e autoridade(?) para fechar). E eu sou um distraído da minha vida. Misturados com coisas de ontem e de hoje, sem querer saber se já estão guardados em algum sítio, mantive
  1. o blog GEOMETRIA
  2. e o mooodle AS GEOMETRIAS feito de restos e memórias que foram dinâmicas e talvez ainda sejam, exercícios elementares


E criei outros lugares onde guardo, como restos de memória persistente, alguns textos de ontem e de hoje em artigos e páginas à medida das guinadas de memória, encontros com papéis e com livros e pessoas. Aqui estão alguns (url):
  1. aposentos:reforma e reformatório
  2. mesura"
  3. desenha

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