dos almeidas

meu avô sentava-se no pólo norte da esfera e fumava sobre a ambição de amar a natureza e o cristal derretido que escolhia o percurso dos olhos do cego e o riso do meu avô afogava-se em álcool puro pela garganta ferida: sabedoria do meu avô esconjurando dum só golpe a vida e a morte. conjunção — conjugação estamos todos cercados este é o desespero refectivos em grades usadas pelas nossas mãos e brilhantes e o muro infindável rodeando tudo definitivamente e a amargura nascendo na boca até à ocupação do dia e do corpo e o sol caindo vertical sobre a vida queimando tudo. e a vida irada rasgando-se e no ventre vago da erva seca um fogo purificador crescente na ideia do menino. gigantes as formigas carregando fatias de sol para a gruta do velho ferrador e a aldeia esmagada entre a bigorna e o maço de ferro e os passageiros actuais têm duas dimensôes e são o mesmo. o novo sangue colectivo pode ser utilizado. numa cadeia de produção do ramo electrodomésticos com vantagens múltiplas. LENDAS aos homens disseram: pesquem que é um bom desporto! acreditaram e fizeram. o melhor isco de homem morto diz-se que os peixes não quiseram. inventam-se lendas por tudo e por nada. ------------------------------------------ as minhas duas pastas Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis as pastas dentífricas porque sempre me esqueci das escovas, que embrulho antes de sair de casa para esquecer. Mas a pasta sempre me foi útil para guardar os pequeníssimos sabões e as toucas dos quartos dos hotéis que me perseguem há mais anos que os pequenos frascos de compota que o avião me fez cair no regaço. Hoje, ao partir, verifiquei as duas pastas dentífricas na pasta de cabedal e verifiquei também, tarde demais embora, que me esqueci dos bilhetes para a ópera, para além das escovas de calçado. o não me fazem falta, porque também me esqueci dos dentes dentro do seu copo de água nocturno, onde costumam rir-se de mim ........................................... de Arsélio Martins, mesmo quando não parece

muitas vezes me lembro de mim...

...a pensar me que falo me seguindo:

segue-me que eu sei o caminho
que me diz a mulher que vai
não sei para onde
desejando mais um companheiro
para viagem mais do que viagem
até um nenhum lugar como seu sendo lugar.

não sei começar como acabar o que não começo?

um dia passou-me pela cabeça uma tolice que se me pegou aos dentes disse
estava eu a colar os dentes que não tinha para cortar a tolice
e a saúde não me matou
o assobio que soou

novos dados só os dedos

eu bem me disse que estava a ser parvo

por pensar que só com os meus dentes
chegavam para morder até o futuro

e nem com a ajuda dos meus dedos
eu podia lá chegar

o lado esquerdo

as duas pastas

Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis as pastas dentífricas porque sempre me esqueci das escovas, que embrulho antes de sair de casa para esquecer. Mas a pasta sempre me foi útil para guardar os pequeníssimos sabões e as toucas dos quartos dos hotéis que me perseguem há mais anos que os pequenos frascos de compota que o avião me fez cair no regaço. Hoje, ao partir, verifiquei as duas pastas dentífricas na pasta de cabedal e verifiquei também, tarde demais embora, que me esqueci dos bilhetes para a ópera, porque também me esqueci dos dentes dentro do seu copo de água nocturno, onde costumam rir-se de mim enquanto eu bebo a água que respiram por suas guelras mordentes. ------------------------- * risos de há muitos anos

despudor claro






quero não me levantar ou antes  não levantar os ohos  para ver lá fora  
e ainda não tinha olhos que não chorassem comigo  
pela seguinte curva pedida pelo pé do dedo que se curvou e
se calou para o dia restante



de Arsélio Martins, mesmo quando não parece
.

somos, fomos, somos, seremos

Aqui me apresento como fui

Será que lá chego? diz o miúdo
Talvez chegues à minha idade? digo eu
O miúdo replica logo: Não posso chegar à tua idade.
E eu, o homem calo-me.

Acho estranho ele dizer que poderá fazer
o que eu ainda não fiz por saber o que ele sabe
depois de me ver por me ser difícil ver
e o que ele escreveu no papel que eu escrevi
e o que ele copiou do que eu escrevi

23, raramente

raramente escrevo sobre algum assunto que desperte
o interese de muita gente
nem o interesse de pouca gente que seja importante
nem sirva para alimentar algum diz que disse
que valha a pena seguir nos dias imediatos a ter sido escrito.

também raramente escrevo sobre os assuntos importantes
ou ajudo à discussão de assuntos importantes
com as frases importantes para a circunstância
dos assuntos importantes e fico sempre nas margens daimportância

de facto, eu gostava de ser o verso em branco de uma página
com uma linha que me tivesse marcado e a mais ninguém até ao ficar
convertido a ser a página seguinte do verso irredutível
mas desconhecido por todos
os anos do resto da minha vida.

raramente penso na minha vida como a página em branco que ela é
para continuar a ser uma oportunidade perdida
por mim e por ter escolhido uma forma de ser feliz
não sendo coisa alguma mais que os olhos capazes de ver o invisível
ar quando ele passa por perto
e se ri com aquelas gargalhadas que nem eu ouço.

Forquilhas

Forquilhas 
~~~~~~~~
Forquilhas tinha duas irmãs mais velhas. Uma delas chegou a frequentar os dois primeiros anos de um curso de manequim na Universidade de Santiago e anda à procura de emprego pelas montras da cidade. A outra acabou o preparatório na Escola da Variante e, tendo abandonado os estudos, anda a fazer inquéritos ao trânsito por conta do senhor Instituto. Forquilha foi criado por elas até à idade da reforma. Muito cedo, as irmãs deixaram de ter tempo para tomar conta dele e mal ele começou a gatinhar foram entregá-lo na porta do reformatório. 

No reformatório, Forquilhas aprendeu a arte de viver sem chatear a deus, nem ao director do reformatório e, ao fazer dezoito anos, deram-lhe alta. Ao sair do grande portão, deu de caras com duas mulheres. Espantado, viu que elas avançaram até ele e, depois de o beijarem, arrastaram-no para a limousine. Durante a curta viagem que fizeram, desde o reformatório até ao solar do livre arbítrio, lá lhe foram refrescando a memória sobre a família. 

Forquilhas ficou assim a conhecer as suas duas irmãs mais velhas, das quais já não se lembrava. Elas não pediram desculpa por nunca o terem visitado e ele também não esperava nada disso.
 
Ao lado do solar, numa pequena arrecadação, um jardineiro já velho acomodou o Forquilhas entre outras ferramentas. 
 ........................ ..........................
Arsélio Martins escreveu 
para a voz de 
José António Moreira
na Rádio Independente de Aveiro
......................................................
18/09/93

Bem passado pelo espelho 3/10/2018

 Bem passado pelo espelho

3/10/2018

quando o olho no espelho se vê a si mesmo

não vê o portador do olho que quer ver o olho

dará dois passos atrás  o portador e, com ele,  o olho

e este será então parte do portador onde se procura


Um dia, ainda era madrugada, a minha mãe, disse que eu já não ia tirar o esterco das vacas. Tirou-me o engaço das mãos e entre  os meus dedos colocou uma canetas de dois gumes. Foi assim que, peremptória, aceitou a derrota  face à minha irmã  e me enviou para o esterco da universidade. Lá fui com o rabo entre as pernas, e,  na falta de melhor razão para tanto exílio, comecei  a estudar matemática nas horas que serviriam para tirar o esterco da cama da vaca minha. E  nas horas que se destinavam à leitura dos folhetos da feira, sentado ao fundo do curral, comecei a estudar política.

Durante uns anos maduros, não percebi muito bem porque tinha sido esse o meu destino e roía-me  de inveja dos olhos vivos e maliciosos dos meus companheiros camponeses que continuaram a tradição da sueca, da missa exterior de domingo, dos tremoregados com o vinho das tardes de domingo.

Agora já percebo. Com a entrada na comunidade aos vacas deixaram de usar camas de palha e junco e há máquinas de sugar o esterco dos currais para as terras e o leite das tetas das nossas vacas para os depósitos da cooperativa leiteira. E já se fala que o mercado há-de enterrar a fruta que faz falta na Europa de leste, na Etiópia ou em mo, mas não falta na Europa civilizada e comunitária. O internacionalismo mercantil tem a ver com o internacionalismo da miséria e não com o internacionalismo da partilha dos bens. Mesmo os bens que são distribuídos pela ajuda internacional são cotados em bolsa ou no mercado das comunidades benfazejas.

Se tivesse ficado na agricultura, já estava a pensar na reforma da minha mentalidade e da minha actividade. Como professor só tenho que enfrentar, para já, as reformas da entidade.


-------------------------------------------------------------

do outro tempo, sem mudar o que se escreveu antes

Do passado para Rádio Independente de Aveiro...... como também para agora

Labirinto

O labirinto é. 

Cada um dos pereregrinos no labirinto pensa que conhece uma saída. Desenharam-lha no mapa da fé que recebeu como herança. 

Quando, num dos corredores do labirinto, um peregrino encontra outro de fé diversa, pode puxar da metralhadora. É por isso que os corredores dos labirintos do homem estão juncados de cadáveres. 

O chão do labirinto é feito de cadáveres que, na sua rigidez e podridão, criam uma elevação de cartografia sem fé. Quando a elevação é tal que os pergrinos podem ver por cima das muralhas do labirinto, são castigados pela luz. 

Cada um, à maneira da sua fé, benzem-se perante a realidade e, em vez da metralhadora, podem estender a mão. Falo dos peregrinos que se benzem de pé.

Os que só se benzem ajoelhados nunca verão por cima das muralhas. Para estes, a realidade tem o cheiro inconfundível dos seus mortos. Para estes, a saída é a redonda e abençoada boca da metralhadora capaz de fazer sobrepor o cheiro da pólvora ao cheiro dos mortos ou de tornar o cheiro inconfundível dos mortos dos outros mais forte que o cheiro dos seus mortos. 

Nos muros de Jerusalém desenhei estas palavras, nem tocadas pela fé, nem tocadas pela esperança. Queria dizer que as minhas palavras são sopradas pela razão e pela mente. Mas, perdido no labirinto das razões, sei que não há razão sem fé não sei em quê. 

22/09/93

ainda é hoje e já nos dizem que

andamos todos a falar de um novo dia
e depois de um novo mês e de um novo ano
até nos desatarmos a chorar tolos de alegria

num novo e melhor mundo quem sabe o lusitano

literatura ou loucuratua .... de jovem invocando a sua loucura...

I

Vem loucura mãe das ideias todas
protectora amável do pensamento disperso
da ciência e da arte verdadeiras
das invenções modernas e do futuro.
Vem loucura tu que és a alma de tudo
e do nada
vem daí dançar esta noite é nossa
e toda a terra anseia os teus passos
serenos ou
um violento sapateado
tu que és a serenidade e a violência
que és a calma das almas sem calma
a raiva dos pobres de espírito
dos que pedem misericórdia
e se a pedem
é a ti quem pedem
ó loucura
minha alma
imaginação das coisas
das formas dos objectos sensíveis
e da sensibilidade dos dedos das operárias
que te tecem
ó loucura.

Tu musa das musas inspiração total
para lá das coisas visíveis
Vem
loucura
amante do esquecimento
e conduz o meu cérebro para esse vazio
para essa liberdade total
antes da morte.

Vem
loucura
imaginação da imaginação
loucura científica industrial técnica
da dissociação da matéria da fusão nuclear
roldana da forca do mundo

Vem
loucura
destruição da destruição
destruição total
maquinismo com alma
com direcção própria
imparavel mecanismo acima
do homem.

Vem loucura
ouve o meu louvor
e evita-me uma batalha perdida contra ti.
Tu que me revelaste o caminho
o progresso para um fosso universal
como se me abrisses a visão do inferno

Vem
e liberta-me desta condição selvagem
da luta quotidiana
contra a tua energia admirável.

Vem
e queima-me as mãos
mas deixa intacta a estrutura da casa
para os ratos do futuro.

Tu
loucura
da electrónica das modernas bombas
das guerras químicas
perdidas pelo homem
e já impossíveis de controlar
pelo homem

Vem.
Loucura dos impérios sem imperadores
impérios sem face das multinacionais
dos grandes trusts
dos computadores
onde cada homem não é mais
do que um gesto
(classificado e registado em fita magnética)
de que não adivinha as relações e a síntese
Vem.

Vem
loucura
e liberta-me do meu trabalho social
de reproduzir a tua matemática para acelerar
o teu poder já quase absoluto.
Vem
loucura
cabeça do mundo
e perde-me para a tua dominação material.
Mergulha-me nas trevas
em mim mesmo.
Faz-me passear pelas tuas ruas inventando cenas
e balbuciando coisas incompreensíveis
para que as pessoas se riam.

Vem
loucura
ajuda-me a partir
para esse reino dos que compreenderam
a tua magia

e preferem caminhar num para-universo
estranho
e ajudar-te como um gás hilariante
provocando na passagem
o riso até às lágrimas
inconscientes.

Vem
loucura
e enche a minha alma
de expressões sem significado
para a lógica do mundo
que é a tua lógica
afinal.
E sê piedosa para os que não sabem servir-te sem remorsos
Sê piedosa para ti mesma
acolhe-me na sombra do teu reino absoluto
antes de decidir sobre mim.

Vem
loucura
tu que me tens nas mãos
faz de mim a tua vontade.
Deixa-me só olhar uma última vez
as agulhas verdes dos pinheirais da aldeia
protecção derradeira porque longínqua
da tua civilização.

Deixa-me olhar a paisagem
por onde não desperdiçaste os teus desfolhantes
experimentais
mas já de comprovada eficácia
guardados às toneladas
nos teus armazéns
ó loucura.

Deixa-me mastigar uma laranja verdadeira
do quintal do meu irmão
embora já tingida da tua química
que tem fortalecido todos os géneros de bichos
à excepção do homem
inteligência perto da tua
e
por isso
objecto da tua última guerra.

Vem
loucura
sê minha alma
queima os meus circuitos
a minha memória da ciência
da pequena parte da ciência
que me deste
e me mandas transmitir.

E traz-me o alívio da inconsciência total
para que te sirva sem remorso.

II

Deixa-me depois vaguear como um desespero sonâmbulo
pelas tuas catedrais tecnológicas
pelos corredores dos teus computadores
pelas salas das tuas administrações mundiais.

Deixa-me rir contigo
destas pequenas guerras do petróleo
destes pequenos ensaios
que parecem preocupar o mundo.

Deixa que me aqueça nestas pequenas chamas
dos pipe-lines dos poços às refinadoras.

Deixa-me enganar o frio mortal
que me percorre o fio da espinha
enquanto espero
alma errante
o erro global
final.

Ó loucura bem amada
deixa-me partilhar do teu lado
a tua caminhada irreversível
para uma vitória só tua
que mais ninguém poderá reivindicar
nenhum governo
nenhuma multinacional
nenhum comité
ninguém
à altura do homem
poderá gozar.

Deixa-me saborear a inconsciência
do homem
antes da morte total
as suas pequenas presunções
as suas lutas gratuitas
que são as tuas pequenas experiências.v
Deixa-me
ó loucura
(verdadeira imperatriz
de uma humanidade de servos
que te conhecem mas não te conhecem
mas que te sevem sem pestanejar)
viajar pelos teus sub marinos atómicos
pelas tuas catapultas modernas de mísseis
intercontinentais
terra-ar
terra-terra
terra-lua
onde os teus servos guardam o seu ar seguro de vencedores
só porque decidem do movimento terrível desta
ou daquela partícula mortal.

E deixa-me visitar os pequenos países que demandam
o progresso actual
que instalam novas tecnologias
trocando o seu chão por tecnologia
só para ganhar as tuas graças
para mais decididamente estarem ao teu serviço
convencidos de outra coisa ou de coisa nenhuma
ó loucura desses povos
que não compreenderam ainda
que a ciência é um universo
que não serve outro senhor
que não sejas tu

ó loucura do mundo
acima do mundo.

E deixa-me visitar os grandes institutos
onde se fazem as melhores experiências
onde o homem prepara a grande energia
em nome do futuro e da defesa do homem.

Deixa-me ver os cientistas humanistas
lamentar que
em vez dos seus fins pacificos
armas ainda mais definitivas
saiam do ventre dos seus laboratórios.

III

Vem
loucura
digna-te descansar sobre os ombros
do teu servo.

Tuv que me falaste um entendimento claro
completo e universal
e
que
por isso
só podes ser uma linguagem de ti mesma
uma linguagem síntese de todas as línguas
repousa
e toma a minha língua
habitua-a à pronúncia dos teus sons
para que o homem não me entenda o delírio
o gozo de te servir.

Vem
loucura
linguagem única
e confunde nas cordas vocais da minha alma
as palavras
que a minha mãe
e a escola
me ensinaram a reproduzir
eu sei
eu sei que para o teu serviço
mas sê piedosa ó loucura
que os sons que eu produza
sejam a síntese das línguas humanas
sejam o recuo às cavernas
de onde partiste para o assalto
há milhões de anos.
Tu
loucura
solidão das solidões
altiva eternidade solitária
permanência dos urros e guinchos
nos ante-homens que recusaram erguer-se
sobre as duas pata traseiras
para te seguir
e preferiram mergulhar na consciência animal mais baixa
até que o seu extermínio
pela mão do homem
seja cumprido
este homem
ó loucura
que se exterminará a si mesmo
que para isso se dividiu em mil1ínguas diversas
ó loucura
todas da mesma raíz que és tu
que para isso inventou mil sistemas contraditórios
porque é na contradição que habita
a tua ideia
e és a síntese
a síntese final:
a última guerra
conduzida das tuas núvens de poeira atómica
pela unidade final
ó loucura
língua do universo
língua das línguas
que as tuas ordens são entendidas por todo o homem
para a acção
mas de que ao homem está vedado o significado mais profundo:
o fim desta harmoniosa
existência de contrários
desta evolução para a grande unidade cósmica
unidade
em torno do caos
do nada
essa tua verdadeira essência
ó loucura
bendito carrasco do mundo
língua de fogo
purificadora absoluta.
ó loucura
dona dos meus versos insensatos ao homem
domina a minha língua
usa-a para o teu exclusivo serviço
usa a minha demência
repousa nos ombros do teu servo.

IV

Guardo para ti
para te elogiar
em teu louvor absurdo
ó loucura
todas as horas mais criativas mais profundamente vividas
e espero de ti
ó loucura
que me tomes ao teu serviço
noutra esfera para lá do homem.

Só espero que compreendas a fraqueza
que se apodera da minha alma
a fraqueza de uma consciência
incapaz
de te servir
sem remorso.

Tu
que estás em todos os homens
e em nenhum
homem
tu
que comes em todas as mesas da inteligência humana
que tudo conheces
o conhecido e o desconhecido
que conheces o por vir
que te serves dos homens que te servem
que lhes conheces os medos
as incompreensões
e que os aconselhas
que lhes iluminas os caminhos do entendimento
as sombras do intraduzível
que dás explicações às suas consciências
para todas as dúvidas
que projectas a tua luz total
à medida que o homem descobre a sua escuridão
ou a pressente
tu
que cegas o homem com a crua luz
da tua finalidade fingida
neste ou naquele aspecto particular
do abismo humano
ó loucura
tu
que tudo compreendes
compreende o teu servo
e traz-lhe uma cegueira total
para a estrada destes séculos
da crise preparatória
da grande hecatombe.

Ó loucura
queima o passado
o presente
e a previsão do futuro
que domina este teu servo.
Deixa-me só a memória
da natureza vibrante
da ante-natureza do homem
deixa-me imaginar só os abismos naturais
as quebras relativas
e não os grandes abismos
forçados pelas grandes explosões subterrâneas
destes séculos definitivos
deixa-me ó loucura
a percepção do movimento da terra
as suas fracturas tectónicas
devidas às atracções naturais entre grandes astros
entre planetas
e entre planetas e a luz.

Não me deixes empalidecer
ao mesmo tempo
que o sol e os outros astros
afastados
aparentemente mais afastados
mas realmente menos visíveis
com as tuas nuvens de poeira se interpondo
entre o homem e o seu universo.

Ó loucura
deixa-me cegar
ou pelo menos
perder a sensibilidade
desta visão do presente
e do futuro
que os meus olhos procurem seu pasto
numa paisagem interior
mesmo
ó loucura.

de quem e de quê nos lembramos......

 de quem te lembras? 
 quem segues ou quem te segue?
 algum dia viste a cara de quem segues?  
algum dia viraste a cara para veres quem te segue?  

só sabes que um dia falarás do passado e ouvirás um de vós 
- o outro - que te falará do futuro. 
 ambos concordarão então que interessante é o futuro
  e dirão para quem vos queira ouvir mais tarde
 que só vos interessou um futuro bem passado.


nunca perder a vista

não te deixes enganar pelas plantas


Compramos o olhar do que não temos e nunca teremos o chão onde se encontra o que nunca veremos. Amarramos um dedo para apontar o lugar que não queremos tomar nem ver e nem ouvir o cão que nos ladra. Um dia mais tarde experimentamos o nariz que atiramos fora de nós. O tempo passou enquanto nós acenámos para que ninguém nos veja cair.

GEOMETRIA : A curva do ingénuo revisitado (geogebra)

GEOMETRIA : A curva do ingénuo revisitado (geogebra) : Revisitamos "31 de Janeiro de 2005" de entrada ligada a texto de setembro ...