a segunda feira de cor
ando a escolher as cores
que fiquem bem em corredores
e vendo pela oferta mais baixa
o quadro de que se mostram pormenores
nesta caixa
fico à espera do primeiro dedo de amigo no ar
se deixar endereço, trato do envio e não cobro nem portes de correio.
o passeio de domingo
quero ser o passeio
em margens
onde corra como um rio
ou ser preso na casa
de seda
em volta da mulher
e escrever o poema
numa pele de lençois
da cama por fazer
quero ser o passeio que ela faça
quando andar nas nuvens
quero ser o senhor dos passos
em margens
onde corra como um rio
ou ser preso na casa
de seda
em volta da mulher
e escrever o poema
numa pele de lençois
da cama por fazer
quero ser o passeio que ela faça
quando andar nas nuvens
quero ser o senhor dos passos
transumância
pelo pasto das chamas a dor
ladra avisos até ficar rouca
que já não cabe dentro da boca
a língua de fogo do pastor.
ladra avisos até ficar rouca
que já não cabe dentro da boca
a língua de fogo do pastor.
partida
Eu vou ver o branco dos olhos magoados
as madrugadas onde elas estiverem na preguiça
e em alguns dias dos mais desesperados
cantarei, pela salvação da minh'alma, uma missa
Se alguém sossegar a um canto da minha igreja,
gozando a solidão do fresco da nave lateral,
farei do meu canto um tal silêncio feito em cal
até não ser mais que estátua o que de mim se veja.
as madrugadas onde elas estiverem na preguiça
e em alguns dias dos mais desesperados
cantarei, pela salvação da minh'alma, uma missa
Se alguém sossegar a um canto da minha igreja,
gozando a solidão do fresco da nave lateral,
farei do meu canto um tal silêncio feito em cal
até não ser mais que estátua o que de mim se veja.
Modelos financeiros
O desenvolvimento económico e social coloca à disposição dos cidadãos uma enorme variedade de produtos e serviços. E, de cada tipo de produtos, a rentabilidade das cadeias de produção é assegurada pela produção de enormes quantidades que precisam de ser escoadas por serviços de distribuição eficazes. Dito de outra forma, as sociedades industriais desenvolvidas produzem cada vez mais (em diversidade e em quantidade) e criam serviços capazes de criar a necessidade social (soma de necessidades individuais) dos diferentes produtos para alem da sua distribuição por todos os lugares da terra.
Em sociedades como a nossa, para se garantir um acesso generalizado aos bens disponíveis (muitos ainda antes de haver deles necessidade real e sentida) criam-se outros tipos de serviços (por exemplo, serviços financeiros, banca, seguros) que antecipam meios, por via dos empréstimos (crédito), aos cidadãos para que eles comprem os produtos a todo o custo.
Os ciclos infernais de produção são acrescentados pela obtenção de lucros rápidos baseada também ela na rápida e brutal a exploração da mão de obra. A necessidade de vender é acelerada pela concorrência e por sistemas de rotação de produtos que os tornam rapidamente obsoletos. Esta necessidade de vender transforma-se em pressão sobre o conjunto dos consumidores que são cidadãos por terem acesso aos bens essenciais ao seu bem estar e são vítimas sem direitos logo que se deixam cair na passadeira rolante financeira de marcha mais rápida do que a marcha dos reais rendimentos do seu trabalho. O que há mais nas sociedades de consumo é má gestão de expectativas. E há os donos de tudo que precisam de ter cada vez maiores lucros e, de uma só vez, chegam a sacrificar produtores e consumidores. Cada produtor é consumidor e um desempregado não produz nem consome.
Os problemas sociais a este nível são de tal ordem e têm tal influência na vida pessoal, familiar e social, que os sistemas educativos tratam estes assuntos sob os mais diversos aspectos. Por exemplo, em alguns programas de Matemática portugueses, já aparecem os modelos financeiros e não só para que cada pessoa possa agir de forma mais responsável (e logo mais livre) quando recorrer ao crédito e para evitar o endividamento excessivo, mas também para participar nas decisões sociais sobre o endividamento das autarquias, dos governos, etc.
Estou em crer que poucos jovens se inscrevem em cursos com Matemática Aplicada às Ciências Sociais e continuaremos com uma população juvenil sem formação em modelos financeiros. Nem de propósito. A formação nestes aspectos é uma exigência da cidadania. Mas na falta dela, podíamos contar com o exemplo das autoridades e das instituições que mostrassem, pela sua acção, em palavras e em actos, que utilizam os seus conhecimentos sobre os modelos financeiros para fazer uma boa gestão da coisa pública. A sua imagem valeria mais que mil palavras dos professores.
Mas ... a manipulação contabilística e o manobrismo financeiro, praticados pelos governos e pelas câmaras, não ajudam a educação do povo. A Câmara de Aveiro é também um mau exemplo. Cobrar aos munícipes 3 milhões por um serviço de distribuição de um bem essencial (como é a água potável) sem pagar o que quer que seja ao fornecedor do produto acrescenta maldição de má-educação financeira genuína a tudo o que já condenámos como miséria politica em matéria de buracos negros para onde foram atraídos todos os fundos e todas as frentes da nossa ca(u)sa colectiva.
[o aveiro; 29/7/2004]
Em sociedades como a nossa, para se garantir um acesso generalizado aos bens disponíveis (muitos ainda antes de haver deles necessidade real e sentida) criam-se outros tipos de serviços (por exemplo, serviços financeiros, banca, seguros) que antecipam meios, por via dos empréstimos (crédito), aos cidadãos para que eles comprem os produtos a todo o custo.
Os ciclos infernais de produção são acrescentados pela obtenção de lucros rápidos baseada também ela na rápida e brutal a exploração da mão de obra. A necessidade de vender é acelerada pela concorrência e por sistemas de rotação de produtos que os tornam rapidamente obsoletos. Esta necessidade de vender transforma-se em pressão sobre o conjunto dos consumidores que são cidadãos por terem acesso aos bens essenciais ao seu bem estar e são vítimas sem direitos logo que se deixam cair na passadeira rolante financeira de marcha mais rápida do que a marcha dos reais rendimentos do seu trabalho. O que há mais nas sociedades de consumo é má gestão de expectativas. E há os donos de tudo que precisam de ter cada vez maiores lucros e, de uma só vez, chegam a sacrificar produtores e consumidores. Cada produtor é consumidor e um desempregado não produz nem consome.
Os problemas sociais a este nível são de tal ordem e têm tal influência na vida pessoal, familiar e social, que os sistemas educativos tratam estes assuntos sob os mais diversos aspectos. Por exemplo, em alguns programas de Matemática portugueses, já aparecem os modelos financeiros e não só para que cada pessoa possa agir de forma mais responsável (e logo mais livre) quando recorrer ao crédito e para evitar o endividamento excessivo, mas também para participar nas decisões sociais sobre o endividamento das autarquias, dos governos, etc.
Estou em crer que poucos jovens se inscrevem em cursos com Matemática Aplicada às Ciências Sociais e continuaremos com uma população juvenil sem formação em modelos financeiros. Nem de propósito. A formação nestes aspectos é uma exigência da cidadania. Mas na falta dela, podíamos contar com o exemplo das autoridades e das instituições que mostrassem, pela sua acção, em palavras e em actos, que utilizam os seus conhecimentos sobre os modelos financeiros para fazer uma boa gestão da coisa pública. A sua imagem valeria mais que mil palavras dos professores.
Mas ... a manipulação contabilística e o manobrismo financeiro, praticados pelos governos e pelas câmaras, não ajudam a educação do povo. A Câmara de Aveiro é também um mau exemplo. Cobrar aos munícipes 3 milhões por um serviço de distribuição de um bem essencial (como é a água potável) sem pagar o que quer que seja ao fornecedor do produto acrescenta maldição de má-educação financeira genuína a tudo o que já condenámos como miséria politica em matéria de buracos negros para onde foram atraídos todos os fundos e todas as frentes da nossa ca(u)sa colectiva.
[o aveiro; 29/7/2004]
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