no dia combinado
Tenho uma filha que nasceu no dia combinado para isso, faz agora trinta e um anos. Nem eu sei contar até tantos. Nasceu ainda durante o antigo regime,tinha eu saído para jantar. Não me lembro do filme que tínhamos ido ver quando ela começou a reclamar uma saída ao ar livre da noitinha de Espinho. Não me lembro da ementa do jantar. Se bem me lembro ela nasceu quase ao mesmo tempo que o meu serviço militar obrigatório. E faz-me lembrar a ordem unida, a marcha a contragosto e... a seguir, a liberdade das ruas por onde marchávamos com as gargantas limpas.
a forma nova
dizem que não há paixões humanas que prestem
e que todos os poemas foram já ditos e escritos
não mais que personagens de um fado bem passado
poetas são ratos de biblioteca a sobreviver
em buracos dos livros que não páram de roer
poetas são os que usam formas novas para cozer
em lume brando o poema mastigado e vomitado
até este ficar queimado pegado colado
e parecer que não tem nada a ver
nada para entender
e pouco ou nada para ler
dizem que já não há líricos tísicos nem sanatórios
e que os poemas são incerta forma para citações
ditadas e reeditadas experiências de laboratório
onde não entram nem saem emoções.
E já nem preciso é sequer manuscrever.
e que todos os poemas foram já ditos e escritos
não mais que personagens de um fado bem passado
poetas são ratos de biblioteca a sobreviver
em buracos dos livros que não páram de roer
poetas são os que usam formas novas para cozer
em lume brando o poema mastigado e vomitado
até este ficar queimado pegado colado
e parecer que não tem nada a ver
nada para entender
e pouco ou nada para ler
dizem que já não há líricos tísicos nem sanatórios
e que os poemas são incerta forma para citações
ditadas e reeditadas experiências de laboratório
onde não entram nem saem emoções.
E já nem preciso é sequer manuscrever.
tirania
não me digas que as comeste
porque ninguém
a começar pela tua mãe
te avisou que as lâminas
de barbear
não são para comer.
porque ninguém
a começar pela tua mãe
te avisou que as lâminas
de barbear
não são para comer.
crime da razão futura
a história não vai falar dos nossos
mártires porque nela entraram carregando
o espanto sobre a pacatez da vida o desmando
do trágico navio que transporta ossos
para a história.
[o futuro só vai contar mártires entre
os agressores: tenham ficado vivos ou
tenham morrido abraçados a causa ou
seita com memória e os lembre entre
tanto...]
a história espalha o pó fino que sufoca
os gritos e simula na pedra funerária
que todos os outros morreram pela boca
de cena sendo actores da vida adversária
daquela história.
mártires porque nela entraram carregando
o espanto sobre a pacatez da vida o desmando
do trágico navio que transporta ossos
para a história.
[o futuro só vai contar mártires entre
os agressores: tenham ficado vivos ou
tenham morrido abraçados a causa ou
seita com memória e os lembre entre
tanto...]
a história espalha o pó fino que sufoca
os gritos e simula na pedra funerária
que todos os outros morreram pela boca
de cena sendo actores da vida adversária
daquela história.
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