O homem olha para trás, por cima do ombro. Os olhos pouco vêem, mas não lhe escapa uma sombra na parede. Apressa o passo para o lugar inundado pela luz. Ali chegado, descansa encostado a uma parede que nem existe. Ali sente-se bem e seguro: tem governo europeu, nacional, regional e local, tem presidente, tem pároco, bispo, cardeal e tem... papa. Não lhe falta nada porque ninguém lhe falta.
O homem olha para trás, por cima do ombro. Agora que o afastaram de todas as sombras e de todas as dúvidas, o homem pode descansar. O homem, da sua varanda de luz, diz para quem o quer olhar que nem tudo o que lhe é dado ver merece ser olhado com compreensão.
[ Cada um de nós sabe que algumas verdades apregoadas já foram desmentidas pelo rigor dos factos observados e dos resultados das experiências vividas e não mostramos compreensão pelo relativismo. Podemos combater as ideias perniciosas e opostas a evidências científicas sem condenar ou agredir fisicamente quem as defenda. E não mostramos a mínima compreensão para quem defenda a violência, viole os direitos de outros, destrua o património natural e construído de todos e de cada um, ... ]
O homem olha para trás, por cima do ombro. Ensinaram-lhe isso, mesmo antes de lhe darem a sua quota parte de ciência e de lhe cederem um lugar humano. Ensinam-lhe isso dando-lhe a beber crenças que o incluem numa parcela humana e o excluem das outras.
[Mas a aldeia global que o mundo é oferece-nos a visão do outro com suas crenças, muitas vezes tão opostas nos interesses sectários como unidas em origens comuns. E isso fez-nos olhar para os outros, para compreender e não excluir. Sem nos obrigarmos a mudar de crenças, sabemos da variedade e da unidade e aprendemos a olhar.]
O homem olha para trás, por cima do ombro. Por medo das sombras e das dúvidas. Nesta semana, ouvimos muitas vezes falar da necessidade de negar e renegar o relativismo neste sentido das crenças religiosas. De que falamos quando falamos de relativismo? No que respeita à universalidade dos direitos humanos não aceitamos qualquer relativismo cultural ou étnico nem relativismo contra as evidências científicas.
Da obra humana, o que mais há que não seja relativo?
[o aveiro; 21/04/2005]
o que se encontra
De um caderno antigo, cai-me um papel que tinha um recado
Do outro lado, da folha há quem exista por ter sido desenhado
em 1986, em alguma reunião do sindicato.
sonito
arranjei uma des
culpa para te te
lefonar esta vez
foi bom ouvir-te
mas saber-te dis
tante tão que es
queceste o feliz
riso entredentes
não te lembrares
do meu nome inda
vá mas do cheiro
o nada guardares
triste'sim find'a
mor num tinteiro
culpa para te te
lefonar esta vez
foi bom ouvir-te
mas saber-te dis
tante tão que es
queceste o feliz
riso entredentes
não te lembrares
do meu nome inda
vá mas do cheiro
o nada guardares
triste'sim find'a
mor num tinteiro
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