Se fosses andando? ...

Há na praça quem escreva contra a limitação dos mandatos dos autarcas. Argumentam eles que os autarcas adquiriram grande influência e poder e aos aparelhos partidários centrais ou aos deputados interessa limitar a sucessão de mandatos nas autarquias. E é pela democracia que se limita a sucessão de mandatos já que ela é o cimento da troca de favores, dizem os limitadores. Patos bravos, empresários vários e presidentes de câmara foram a nascente de rio de influências mal cheirosas. E é nele que se afoga a honra da nação?
É verdade que, em muitos concelhos, assistimos ao milagre do presidente. Ouvimos falar de dívidas e mais dívidas e de mais capacidade de endividamento. Anda tudo pelos milhões. E quando cresce o clamor da falta de vergonha e de dinheiro para cumprir compromissos básicos, de precariedade dos contratos de trabalho municipais e abusos, tudo se cala e acalma nas garantias dadas pelo presidente. À nossa volta, cada vez se aperta mais um colar de betão.
Os partidos começam a apresentar os seus candidatos às presidências das câmaras das grandes cidades. E ao lado das candidaturas dos partidos, tomam lugar nas linhas de partida os nomes de alguns dos modelos das "virtudes" criticadas. Os casos de Isaltino Morais e Valentim Loureiro são os mais conhecidos.
Há um fascínio especial no exercício do poder autárquico? Dinheiros mal parados a parar na Suíça não podem ser excedentes dos vencimentos de autarcas que são tios. Que é que uma câmara pode ter a ver com um banco suíço? Porque é que há autarcas que usam apitos dourados ou os contratam? Que é que uma câmara tem a ver com apitos dourados e porque é que os presidentes usam ligas e até abusam de superligas? Eu queria ouvir falar de uma câmara daqui perto que não tivesse dívidas e tivesse obras sociais para mostrar, que não suscitasse dúvida sobre a sua independência dos construtores civis na construção da cidade.
Estamos a começar a campanha para as autarquias. No ar, poeira do cimento e um certo cheiro a cobre. De que limpeza falamos quando falamos de autarquias?

[o aveiro; 12/05/2005]

carta a lucilio

... quando um factor externo faz impender sobre nós a morte, não é possível decidir, de uma forma geral, se a atitude correcta consiste em antecipar ou em aguardar essa morte: muitas são as circunstâncias que poem fazer pender para uma ou outra solução. Se, por exemplo, a alternativa for entre uma morte no meio de torturas e uma morte directa e rápida, como não escolher sem hesitação esta última? Se eu escolho o navio em que vou navegar ou a casa em que vou habitar, também, ao deixar esta vida, posso escolher a forma como morrer....

Séneca

vou desenhar uma esquina

não sei bem o que vou fazer em lisboa. o mais provável? nada. e é por isso que nem te peço nem me despeço. parto como se pudesse não voltar. de meu pouco tenho e menos ainda levo. de mim levo tudo. para nada.

sabes o que te digo?

que a felicidade não é o que eu penso foi o que me disseram sem que eu tivesse perguntado. pensei: dentro do ouvido interior as frases não têm a mesma força que da boca para fora. disse: sabes o que te digo? e calei-me.

as duas pastas

Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis a...