a pressa dos feios

Sábios governantes do PSD/PP disseram que nos tínhamos afundado com o PS até ficarmos de tanga e prometeram que nos salvavam do monstruoso défice, saneando as contas públicas com receitas extraordinárias e contenção da despesa pública, etc. Os novos sábios, agora governantes do PS, fazem apelo aos mesmos sacrifícios de ontem, levantando pontas do véu onde se esconde o défice orçamental do estado a que chegámos pela via do PS e do PSD. Tem piorado sempre - dizem,mentindo, a verdade. Nah! Para alguém isto está a melhorar. Cada vez mais se alarga e aprofunda o abismo entre ricos portugueses e portugueses pobres. O que quer dizer que têm sido os pobres e a tal classe média a pagar todas as crises. E talvez algumas das crises não tenham sido mais do que invenções chantagistas para que os pobres aceitem pagar mais ainda, ajudando os patrões na "criação de riqueza" para seu gozo pessoal que não para melhorar o país do povo. São cientistas estranhos estes sábios economistas da situação! As suas teorias são feitas à medida. Ao povo vão sendo desvendados factos à medida que são precisos para confirmar a justeza dos interesses dominantes na circunstância. Melhor será dizer que não há ciência nisto. Técnica há! Mas é só técnica de engate!
Como em todos os engates, quando o povo percebe a traição muda os seus votos. A fidelidade eterna jurada ontem pelos grandes servidores públicos desfaz-se em fumo. E é ver como os antigos governantes, perdidas as maiorias, sem qualquer respeito pelos seus eleitores tentam mudar de vidinha e não cumprir o mandato para que foram eleitos. Parecem pulgas saltitantes à procura de esconder os negócios daquilo a que chamam a retaguarda segura e à procura de tachos milionários aqui, ali ou no estrangeiro.
Esse é outro aspecto tenebroso! Nesta coisa, não interessam as políticas, as ideias. Pensa-se e diz-se que as pessoas votam mais nos políticos do que nas políticas, votam mais em caras feias que em ideias. Quando o povo vota em ideias fortes, a confusão é total. Todos os jornais e todos os partidos procuram pessoas que sejam o corpo das ideias ganhadoras. Tem de haver pessoas a justificar cada voto como mau hálito de alguma influência. Porque tudo se passa como se fosse um repetido engate rasca num picadeiro global.
Ainda não li ideias fascinantes nesta semana das pré-campanhas autárquicas. Mostraram-se as cabeças nomeadas e coroadas. E são feios os candidatos, tão feios como eu! Se acaso tiverem uma ideia, não quero pensar nela como mais um enfeite de maquilhagem.

[o aveiro; 19/05/2005]

sair mesmo depressa

sair de lisboa

a ultima lisboa

viste ao menos a água escondida?

a tua mãe não te ensinou a apanhar cricos. também não ensinou qualquer dos teus irmãos.
mas eles atavam o ancinho no quadro da bicicleta e, com um saco de serapilheira pelos ombros, um ligeiro empurrão de um pé fincado no chão e uma pedalada contida, arrancavam sem dizer água vai. para voltarem horas mais tarde com um saco cheio de cricos, lama e limo.
como é que eles aprenderam? como é que eles aprendem?
ainda hoje passas a vida a fazer perguntas dessas. e não aprendes.

os objectos

da varanda da casa, os espíritos...

Se fosses andando? ...

Há na praça quem escreva contra a limitação dos mandatos dos autarcas. Argumentam eles que os autarcas adquiriram grande influência e poder e aos aparelhos partidários centrais ou aos deputados interessa limitar a sucessão de mandatos nas autarquias. E é pela democracia que se limita a sucessão de mandatos já que ela é o cimento da troca de favores, dizem os limitadores. Patos bravos, empresários vários e presidentes de câmara foram a nascente de rio de influências mal cheirosas. E é nele que se afoga a honra da nação?
É verdade que, em muitos concelhos, assistimos ao milagre do presidente. Ouvimos falar de dívidas e mais dívidas e de mais capacidade de endividamento. Anda tudo pelos milhões. E quando cresce o clamor da falta de vergonha e de dinheiro para cumprir compromissos básicos, de precariedade dos contratos de trabalho municipais e abusos, tudo se cala e acalma nas garantias dadas pelo presidente. À nossa volta, cada vez se aperta mais um colar de betão.
Os partidos começam a apresentar os seus candidatos às presidências das câmaras das grandes cidades. E ao lado das candidaturas dos partidos, tomam lugar nas linhas de partida os nomes de alguns dos modelos das "virtudes" criticadas. Os casos de Isaltino Morais e Valentim Loureiro são os mais conhecidos.
Há um fascínio especial no exercício do poder autárquico? Dinheiros mal parados a parar na Suíça não podem ser excedentes dos vencimentos de autarcas que são tios. Que é que uma câmara pode ter a ver com um banco suíço? Porque é que há autarcas que usam apitos dourados ou os contratam? Que é que uma câmara tem a ver com apitos dourados e porque é que os presidentes usam ligas e até abusam de superligas? Eu queria ouvir falar de uma câmara daqui perto que não tivesse dívidas e tivesse obras sociais para mostrar, que não suscitasse dúvida sobre a sua independência dos construtores civis na construção da cidade.
Estamos a começar a campanha para as autarquias. No ar, poeira do cimento e um certo cheiro a cobre. De que limpeza falamos quando falamos de autarquias?

[o aveiro; 12/05/2005]

carta a lucilio

... quando um factor externo faz impender sobre nós a morte, não é possível decidir, de uma forma geral, se a atitude correcta consiste em antecipar ou em aguardar essa morte: muitas são as circunstâncias que poem fazer pender para uma ou outra solução. Se, por exemplo, a alternativa for entre uma morte no meio de torturas e uma morte directa e rápida, como não escolher sem hesitação esta última? Se eu escolho o navio em que vou navegar ou a casa em que vou habitar, também, ao deixar esta vida, posso escolher a forma como morrer....

Séneca

vou desenhar uma esquina

não sei bem o que vou fazer em lisboa. o mais provável? nada. e é por isso que nem te peço nem me despeço. parto como se pudesse não voltar. de meu pouco tenho e menos ainda levo. de mim levo tudo. para nada.

as duas pastas

Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis a...