o porto ... de gaia

a descer

atractor

Muitos aspectos da actividade lectiva de hoje podem ser melhorados pelo recurso a computadores e telecomunicações. Se é certo que cada vez há mais computadores pessoais nas escolas, resta determinar que indicações se podem dar aos jovens para os usar com vantagem e resolver a questão de saber que recursos podem ser utilizados pelos professores das escolas com pequenos orçamentos. Isso só pode levar os professores a estudar para abordagens mais potentes e a procurar “software” livre de encargos.
Para o ensino de Matemática, há ferramentas gratuitas para apoiar todos e cada um dos temas de ensino, a partir dos quais podemos preparar actividades que não só permitem introduzir os conceitos e técnicas, como permitem que os jovens aprendam a utilizar computadores com vantagem para as suas necessidades de estudantes. Se é claro que os computadores não podem substituir o estudo e o trabalho necessários, de papel e lápis, o seu uso pode multiplicar as experiências matemáticas significativas dos jovens, criando novas oportunidades para conjecturar com segurança e, pelo recurso à mesma escrita (de papel e lápis) obter um imenso manancial de experiências que o cálculo automático pode propiciar. Usado de forma inteligente, o computador permite ao estudante confirmar com uma grande variedade de exemplos a matemática que lhe é dada e pedida em novas aplicações. Muitas das aprendizagens antes feitas por imitação e mergulhadas em subentendidos, são agora ampliadas por exigências de compreensão real e crítica, já que a tecnologia exige sempre a explicitação de cada relação e uma escrita sem ambiguidades.
A comunidade académica e científica tem produzido uma multiplicidade de modelos informáticos muito dinâmicos para divulgar e tornar acessíveis muitos temas que até agora eram de difícil aproximação Os estudantes podem manipular parâmetros ou posições de elementos de figuras que esclarecem rapidamente resultados, confirmando ou infirmando informações que se transmitem.

De resto, prontos a usar podemos encontrar muitos materiais que podem suportar actividades complexas em ambiente de sala de aula ou em plataformas a que os estudantes podem aceder a partir dos computadores pessoais. Entre todas as realizações, destacamos o Atractor, da Associação Atractor dirigida por Manuel Arala Chaves, e em que participam, como associadas, departamentos, faculdades ou universidades, a Associação de Professores de Matemática e a Sociedade Portuguesa de Matemática. O trabalho realizado está patente em módulos expostos no Pavilhão do Conhecimento Ciência Viva e outros locais, que podem ser revisitados no “site” do projecto.
Qualquer discussão sobre o uso de computadores no ensino ou sobre o recurso a experimentação para ampliar a compreensão de conceitos matemáticos tem de passar pela referência portuguesa que o Atractor é. Não é legítimo esperar que as escolas possam (ou sequer devam) construir materiais do nível dos produzidos para os grandes espaços, mas é legítimo esperar que os professores nas escolas reconheçam nessas exposições a possibilidade de enriquecimento do ensino e das aprendizagens. Do mesmo modo, é óbvio que ninguém espera que os professores produzam módulos, com recurso a ferramentas computacionais, ao nível dos que são produzidos e disponiblizados na rede pela Associação Atractor.
Sabemos que, para serem utilizados em sala de aula ou como materiais de apoio, os materiais produzidos pelo Atractor precisam de ser estudados e trabalhados pelos professores do ensino não superior e precisam de ser objecto de escolhas criteriosas, de modo a serem usados de forma adequada e não servirem, todos e cada um deles, como motivo para não abordar, por falta de tempo, os temas dos programas oficiais. À semelhança da gestão que tem de ser feita do programa e dos manuais adoptados pelas escolas, é preciso escolher e adaptar os materiais do Atractor. O Atractor funciona como uma ferramenta potente para o trabalho do professor, alerta para os assuntos e apoio no seu estudo, pode e deve ser aconselhado para os estudantes e público em geral, sendo certo que cada professor tem de escolher e tornar claro qual a utilização possível em sala de aula para a generalidade dos estudantes.
A Associação Atractor é um projecto generoso. Muitos materiais podem ser descarregados facilmente para os computadores dos professores e podem ser incorporados em módulos definidos e decididos por cada professor de forma adaptada às suas aulas e ao trabalhos dos estudantes de cada turma.
É tão necessário apoiar o desenvolvimento do Atractor, como apoiar os professores no trabalho de adaptação que é preciso fazer para dar aulas com o Atractor.

[a página de educação; Abril 2008]

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a casa, a rua vazia

onde me sente

onde me deite

a velha que dança

Há alturas em que parece impossível não termos assunto. E sobre os assuntos do dia, há mesmo quem espere que todos falem, mesmo que não saibam do que falam ou digam o mesmo que já foi dito. Ler e reler opiniões que não adiantam coisa alguma ao já dito, torna-se tão cansativo! O assunto do dia sai da ordem do dia para passar a ser da ordem do horrível Quando um dos nossos assuntos se torna assunto do dia e da moda, sobre o qual todos temos de falar, tornamo-nos mudos para a nossa vida. Mudos de espanto, diminuídos e tristes!
Perdidos do nosso assunto, e incapazes para qualquer outro assunto. Sem assunto, pois.
Tentando não ceder à avalanche das mensagens dos que cavalgam a onda dos professores e da educação(?) numa euforia sem limites, começamos a dar atenção às coisas e pessoas em que não reparamos habitualmente.

À minha frente, uma jovem de negro segue calmamente. Penso em acelerar, mas desisto porque a jovem de negro vai de um lado ao outro do passeio e eu não acerto com os melhores momentos para a ultrapassagem. Ou é ela que é imprevisível na sua forma de andar em frente? Pelo sim, pelo não, deixo-me ir atrás dela que não tenho pressa. Depois da passadeira, parece-me que ela se integra num grupo que já circulava por aquele passeio.
E eu continuo o meu caminho sem assunto. Até que olho para o telefone e relógio que começara a vibrar como um alarme a avisar-me para não me atrasar e a mandar-me acelerar para, sem pressas, chegar a tempo ao lugar do trabalho.

Ao alargar a passada, volto a olhar para as costas que seguem à minha frente. Para escolher a melhor abordagem ao passeio estreito, para a ultrapassagem perfeita. E vejo que a jovem de negro, de novo isolada no passeio, dança ao som de uma música só dela. Eu não ouço, mas é como se ouvisse o som da brisa que a faz oscilar como um junco, em pé e arrancado das suas raízes.

Contrariado, decido mesmo ultrapassá-la. Um pé no passeio, outro na estrada, faço uma magnífica manobra de ultrapassagem. Magnífica, mas ridícula. Ao ouvir a gargalhada, olho para trás. E vejo as linhas e rugas das mãos dançando na jovem de negro. E vejo os olhos brilhantes e alegres de um belo rosto, rasgado por rugas.

A velha que dança vai ficando para trás, feliz por ver-me pelas costas.


[o aveiro; 20/03/2008]

eu virei as costas

sem poder levantar-me, acordado, deixei que a manhã acordasse
a tomar um café da esquina como o de todos os outros dias
enquanto
um vento ligeiro ao lado de uma neblina parda ou uma aragem prenha
com as águas a rebentar foi arrefecendo e ganhando a forma
do tambor
que marca a marcha fúnebre e a despedida.

depois vieram tambêm cá