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O que fazemos aqui?

Na actividade politica e social, cada um dos actores ou agentes na vida pública ganha notoriedade ou visibilidade nacional, regional ou localmente. Grande parte dessa notoriedade é regulada pelos meios de comunicação social, em especial, pela televisão. De certo modo, sempre que alguém se candidata a este ou aquele lugar ou cargo público conta com isso e com a respectiva responsabilidade pública. Quanto mais perto estamos de quem nos elegeu, mais conhecidos e importantes, mais responsabilizados por cada problema local no dia a dia. Mesmo que não reunamos as condições para ultrapassar as dificuldades, sabemos que os nossos vizinhos nos responsabilizam como intermediários entre eles e o poder.

Em cada freguesia, o presidente da junta é conhecido e responsabilizado pelos seus fregueses. Em cada município, o presidente da câmara é conhecido e responsabilizado pelos munícipes. Assim deve ser e é, por isso, que cada pessoa se candidata a cargos públicos locais e é essa ligação de serviço, também afectiva, que dá sentido à representação almejada e conquistada pelos candidatos. Claro que cada um dos eleitos espera o reconhecimento, não só dos seus eleitores, mas de todos os eleitores e de cada um dos membros da comunidade.

Em democracia representativa, é preocupante descobrirmos que, a nível local, os eleitos nem são conhecidos e reconhecidos localmente. A preocupação aumenta à medida da ignorância da comunidade local (e na razão inversa da sua dimensão) sobre quem são os seus representantes, como foram eleitos e por quem, quais são as suas competências e junto de que organizações assume importância a sua representação.

Após dezenas de anos de eleições democráticas para o poder local, ficamos preocupados com o desinteresse dos eleitores e mais ainda com o desconhecimento dos jovens que estão em vias de tornar-se responsáveis, eleitores e elegíveis. Alguma coisa não está certa quando descobrimos que nenhum dos nosso alunos de matemática aplicada às ciências sociais conhece, pelo nome os representantes locais, as sedes das juntas, ... Pior ainda ficamos quando descobrimos que, em suas demandas às sedes do poder local, os jovens não retiram qualquer conforto e aproximação ao poder local e devolvem a ideia de dificuldade em obter informações e dados sobre os actos eleitorais e seus actores, sobre os cadernos eleitorais e eleitores.

A vida nos dirá das consequências deste afastamento dos jovens dos órgãos locais. Estamos a falar de jovens escolarizados que escolheram estudar matemática aplicada às ciências sociais, apoio à decisão – teoria das eleições e da partilha, entre outros assuntos sociais.

Temos de fazer pela vida. Cada pessoa sabe que, pela sua acção, pode mudar a vida, a sua e a dos outros. Para o melhor e para o pior. Para melhor! É o que queremos e não nos cansamos de repetir.

[o aveiro; 19/12/2008]

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Como chamar ninguém pelo nome?

Vivemos num estado de direito e sabemos quem faz as leis, quem as fiscaliza nas suas aplicações e consequências, quem as promulga. Ninguém mais que os professores deve saber isso, saber dos passos, dar os passos. E dar lição e testemunho disso.

Cada professor vota e deve conhecer os deputados que elege, conhece os ministros e secretários de estado que assinam leis, os deputados que as podem aprovar ou reprovar. Pelo nome, conhecem quem assina as propostas de lei, quem as promulga, as chama a si e as verifica, recomenda alterações e as pode vetar. O sistema é ainda mais transparente para os dirigentes dos professores, ligados à política activa, a partidos e sindicatos.

Ninguém mais que os professores está habituado a reclamar contra alterações de decretos por despachos. Estas alterações de circunstância que aparecem como esclarecimentos, adequações ou similares parecem trapalhadas umas vezes e trapaças outras vezes. Os professores falam da necessidade do cumprimento da lei e reclamam o direito de cidadania de lutar contra as leis para influenciar as instâncias próprias para a sua alteração ou negação. Os educadores sabem onde estão as sedes do estado de direito e sabem quem representa os seus interesses nestes jogos de poder em que a diversidade da opinião é fundamental. E sabem que essa diversidade de opinião, espelhada na assembleia, garante o sim e o não, o mais e o menos, o equilíbrio feito de pequenos nadas ou gestos do deputado que vota, quando volta da terra do nunca.

Como são professores os ministros, secretários, assessores, directores, subdirectores e funcionários da administração central, regional e local, também os professores podem ser deputados e os deputados professores. Muitos deles representam nada nem ninguém quase todo o tempo e a sua inexistência é má educação, deficiência profunda e ferida.

Os professores sabem que os seus deputados conhecem a agenda da assembleia e podem decidir faltar aos trabalhos parlamentares no dia em que podem mudar o curso da lei - sobre a avaliação de professores, por exemplo.

Mas só vagamente se fala dos deputados que faltam quando são precisos, porque todos sabemos que não sabemos se alguns deles alguma vez foram precisos. Porquê? Porque são nomes... de ninguém.

[o aveiro; 12/12/2008]

as duas pastas

Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis a...