da varanda à nuvem, um passo

adormece

adormece, adormece, esquece quem quer que seja
não é preciso ouvir todos os ruídos da casa nem
avaliar o valor das jóias que não tiveste nem tens
nem rever o filme da tua vida nem há quem o reveja

tudo fizeste para que de ti nada sobrasse nem pó
que as cinza já as espalhaste em vida numa vinha
logo tu que já nem és nem deixas mulher sozinha
e não sendo de boa cepa nem queimado és o pó

da terra que não te quer e do ar que te não respira
só te resta adormecer sem querer saber ver ouvir
escutas de ti mesmo e só conjugas o verbo tossir
tens ainda presa em ti a morte quando a vida expira

para além do teu pesadelo inventado: vida e festa
de ti da tua morte da tua vida nada nem rasto resta

talvez ainda um dia alguém refugiado do inferno
te use sem saber de ti para aquecer-se no inverno

escola


nesta eternidade de buracos nas nossas ruas e de pavimentos instáveis, a água e a lama facilmente voam e nos atingem lançadas pelos carros passando. hoje, bastou-me caminhar descontraído passeio fora para, numa passada simples acordar a água e a lama sob uma placa do passeio e ver como ela se atira às nelas de qualquer peão.
água e lama do caminho

icosaedro mergulhado na escuridão

as duas pastas

Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis a...