Para onde vai o grupo dos 8…
Arsélio Martins
O grupo dos 8 governos dos países mais ricos do mundo tinha o hábito de se reunir aqui e ali para discutir a estratégia dos 8 para o governo global do mundo. Eles acertavam as agulhas para questões, como as da energia e da distribuição de interesses na produção e no comércio mundial, e resolviam algumas das suas divergências. Assim aconteceu mais uma vez na recente reunião de Évian (França). Tiraram-se fotografias de Chirac com a mão no ombro de Bush e anunciaram-se os convites para os churrascos texanos.
Só que de há uns anos a esta parte, o movimento pela globalização alternativa acompanha a agenda das reuniões dos grandes. E lá se foi a tranquilidade. Até há poucos anos, países ou cidades ansiavam por ser anfitriões dos 8. Os movimentos anti-globalização ou pela globalização alternativa estão a criar tantas perturbações e tão graves que as cidades vizinhas das reuniões querem ver-se longe dos 8. Pelo menos, as cidades que precisam da livre circulação das pessoas ficam a braços com movimentos que as polícias do mundo civilizado (?) não conseguem controlar. Ironias.
Ironia maior vem de um país rico, como o Brasil, que combina a maior riqueza de uns poucos com a maior pobreza da imensa maioria, ter eleito para presidente um da multidão da globalização alternativa. Enquanto Bush se propõe financiar programas de investigação sobre a sida para vender os resultados comprimidos, Lula da Silva pede um fundo mundial para o combate à fome e diz que o dinheiro deve vir de imposto sobre a indústria e o comércio das armas. Lula sabe que não há resolução de qualquer problema global, incluindo o da sida, sem travar a miséria real da imensa maioria da população do mundo, e que isso não pode ser feito com “ajuda alimentar”, mas com desenvolvimento sustentado das regiões deprimidas.
No rescaldo da guerra, com as Nações Unidas a caucionar o facto consumado da guerra e a ocupação ilegítima por parte dos países agressores, os grandes reúnem-se para se alinharem na distribuição dos despojos e do saque. E conseguem-no em parte. Só em parte, porque as opiniões públicas e as oposições dos Estados Unidos e da Inglaterra começam a cheirar a verdade que sempre transpirou. Nas suas terras, para as suas gentes, Bush e Blair têm de responder sobre a mentira da ameaça das armas de destruição que não existiam.
Para onde vai o grupo dos 8, vai o mundo. Uma multidão humana de milhares e milhares de pessoas com milhões de perguntas e propostas e uma infinidade de ideias, estas últimas definitivamente impossíveis de controlar. Onde é a próxima reunião dos 8? Não, no meu quintal! - diz quem recusa a lixeira.
[o aveiro, 5/6/2003]
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