quem fui eu quando fui eu?



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se quando escrevo não penso no que escrevo.....

Eu tive um amigo perturbado por frases que eu escrevi (sem pensar porque quando penso) com cuidado o que escrevo não é o que eu penso. Penso que isto não é muito claro precisamente porque é muito escuro como um dado que se perde quando se quer que ele fique fora da conversa ou do jogo. Talvez uma conversa seja um jogo ou um desenho no chão como uma necessidade de ilustração do que estamos a dizer mesmo quando estamos calados. ..... se quando falo não penso no que digo.....ou digo o que não penso

ainda como se fosse ontem


então o que escrevi sobre o mais importante que é torcer o nariz foi só mostrar-te tal qual és visto pela minha mão direita

Prevertido


Prévert foi ao mercado das flores
comprar as flores mais lindas e mais silvestres
para adornar o peito da mulher mais bela.


Prévert foi ao mercado das roupas
comprar os vestidos mais leves, frescos e belos
para vestir o corpo da mulher mais bela.


Prévert foi ao mercado dos vinhos
comprar os melhores néctares
para celebrar a mulher mais bela.


Prévert foi ao mercado das ferragens
comprar a corrente mais bonita e forte
para prender a mulher mais bela.


Prévert foi ao mercado dos escravos
para comprar a mulher mais bela




Felizmente tu,
meu amor,
não estavas lá.










para me lembrar outro Arsélio Martins de outro século

12022021, hoje

do que me lembro de quando eu pensava que o que não via não existia:
O que eu vejo não é o que tu vês, o que eu ouço não é o que ouves, o que eu desenho ou digo não é o que lês. Escrever palavras que ninguém ouvirá é o que eu sempre procurei. E que as palavras que eu venha a dizer nunca sejam escritas. Porque as palavras escrevem-se para serem lidas e dizem-se para serem ouvidas. Não são as mesmas ainda que iguais pareçam, como me acontece ao não me reconhecer na minha voz gravada. E o que eu escrevo não é o que tu escreves mesmo que sejam mesmas as letras das palavras que escrevemos, elas são entendidas de modos diferentes se atribuídas a mim ou a ti e mais diferentes ainda se as dissermos simultaneamente ou se eu as mesmas disser em momentos diferentes ou olhando para quem ouvê ou ouvive instantes diferentes.


hoje vejo uma máscara mal amanhada sem tapar a boca que nos come e o nariz que nos respira

Neste mês de Fevereiro, sobra-...

....-me tempo para um pouco de tudo. Nunca me senti tão conforme com o estado do tempo que aí vem e de aí foi e de novo virá de aí... ainda aí?
Tenho tempo demais para pensar no inexistente de lá fora... furturo ou talvez melhor furto do futuro, porque há quem assim diga. Mas isso tem o seu temporal porvir. Para hoje o tema....
...é outro e apaixonante: há quem escreva como se não escrevesse.
[Assim é, claro! digo eu como especialista do assunto. Sabido e admitido é que quem escreve finge querer deixar uma herança aos vindouros que não pode confundir-se com a utilidade do texto de algum velho ou novo testamento ou de testamento dado à guarda de juizo, advogado, solicitador para que o acumulado seja entregue a mula ou a cu....do em acordo com alguma vontade mesmo que não expressa forçosamente impressa. Ainda em vida percebi que ninguém dos meus sobrevivos sentirá obrigação em levar-me e entregar o meu cadáver para uma participação no teatro anatómico.
Há muitas trocas de opinião entre os mais próximos do cadáver: ouvi mesmo dizer que isso não tem sentido até porque o morto nunca pode ter a certeza de não vir a calhar em sorte um naco de sistema respiratório ou reprodutivo de bisavó ... à mesa do teatro anatómico em sorte atribuída a um seu bisneto...]
Quando chegamos aqui e agora, na hora de escrever o que nos falta impingir, só nos falta o que fomos acumulando que é tudo o que esquecemos até agora, aqui mesmo. O que escrevo, sei eu antes e agora, só a mim interessa. Como exemplo, houve um tempo em que escrevia para ser dito na rádio independente de aveiro e ouvido mesmo aqui ao lado sem pensar que não sobrava para ser lido. Do mesmo modo, escrevi para jornais locais (e não só) para ser lido não me lembro por que leitores que não ouviam as letras que juntara para as acompanhara até adormecerem nas páginas de jornal Sei que foi assim. E o que foi já era ... de outra era.

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