a estupidez que uma pequena coisa denuncia


a qualidade de uma administração local mede-se por pequenas coisas: como é possível haver um passeio cortado por um pequeno muro? há quantos anos se mantém este pequeno monumento a celebrar a estupidez na nossa cidade?

A reforma e a revolução

Reformado, deixei de dar aulas. De resto, estou cercado pelos mesmos livros, alguns dos quais já não terei tempo de ler. Passo a vida a consultar, isto é, a estudar com vista a alguma realização determinada por um passado feito de aulas. As ideias que fui adiando para um tempo sem aulas continuam a ser adiadas até não ter tempo para lá chegar. Definitivamente. Começa a tomar forma no meu espirito a necessidade de uma nova reforma. Passará por eliminar das estantes do cubículo as montanhas dos últimos papéis e livros. Pensei em trocá-los por outros papéis e livros perdidos na cave, para jogar com a memória de velhos livros e cadernos de poemas. Mas o melhor será trocá-los pelo vazio nas prateleiras ou por objetos de que não me lembre e tenham perdido importância com o passar dos anos, embora permaneçam em algum canto da cave. E pela leitura em bibliotecas que me lembrem que há mais para ler fora do perímetro das minhas preferências, dessas, exactamente dessas de que guardo uma memória baça. As próprias referências, a começar pelas enciclopédias e dicionários, podem ter-se perdido na bruma do tempo que passou. Desarrumarei este meu tempo presente. E talvez recomece a caminhada, como quem sai de casa e segue para nenhum lugar ou para o sítio onde nunca pensei chegar. Quem sabe?

pateira vista de s. paio

outono no rio vouga

da janela

Créditos? Mal parados?


Recebi uma mensagem da Helena Alves (obrigado!) com esta entrevista, publicada na in verbis. E li vários outros artigos e opiniões (da imprensa) sobre o mesmo assunto transcritos na revista digital de justiça e sociedade que pode ser lida online no portal verbo jurídico

ainda agora

Os caloiros e veteranos (falsos-pseudo-quase-)contabilistas  que vejo aqui da minha varanda andam desde setembro em marchas e gritos e gritinhos, abusos uns dos outros e mais gritinhos, grunhidos estúpidos e mais gritinhos, guinchos e mais gritinhos etc.  Hoje, sábado, pelas 8 horas da manhã já tinham comparecido à chamada de um deus qualquer, uns com as t-shirts de caloiros que é preciso integrar na boçalidade (pelos vistos  dominante) de uma certa (in)disciplina e na obediência que só pode ser testada na cedência aos mais estúpidos dos estúpidos de negro capados. Muitos deles ou todos estarão de acordo com o governo da praxe e o governo da maldição nacional e andam há meses a repetir para si mesmos que devem ser austeros no sentido de íntegros à telmo  e limitações de homens ou mulheres de estado ineressante no sentido paulatino ou do gaspar coelho. O governo também foi eleito por um povo praxado que ouviu promessas de integração para receber esta sova que é em tudo contrária ao prometido. Ou não e estou  eu a reinventar esses discursos dos predadores mentirosos. Estas integrações baseadas em códigos da praxe só podiam dar nisto. Está tudo bêbedo desde a juventude... partidária em que se dedicaram ao garimpo e à garupa que o governo da nação é. Tornaram-se especialistas  no ar  de fato compenetrado. Treinaram a pose e posam. Se o país fosse a cidade onde vivo, diria que tínhamos chegado ao fim da linha e de algum modo contribuído para  a possibilidade dos jotas, mestres do salgado e chefes das tunas formarem um governo da nação. Pelos vistos credível aos olhos sensíveis dos cegos mercados surdos a todos os apelos da razão pura e da razão prática, desde que, como vendilhões e vilões ao tempo de cristo,  foram expulsos do templo. Nunca morreram. Foram 'offshore stormers', especuladores económicos, banqueiros filosóficos e co-gestores de organizações financeiras e escandaleiras internacionais,  empreendedores  sabe-se lá de que empreendimentos,  administradores de falências, trabalhadores de grupos de trabalho de alto nível, thinktankers, analistas de gráficos viciados, ratos, goldmen, sachs e zundapps.. E agora voltaram. Voltam sempre como predadores. Podem ser caçados, como sempre

é a cor da luz do outono...

é a cor que os meus olhos veem,
fiapos de luz levados pelo vento
e chuva de prata como espadas 
na lua que de mim se esquiva e
bem se vê a morte na água tinta
 brilhos castanhos fumo e fogo os
deste outono de gumes de cobre

mais nada habita a vida lenta indo

Os bons e os maus costumes

Nos últimos dias, assistimos a todas as variantes de degradantes poses do estado português para ordenar a miséria do seu povo. Tudo se passa com os partidos no poder e de todos os poderes de décadas de regime, responsáveis por todas as malfeitorias feitas na via pública e na via privada, depois de terem ganho eleições (e administrações) na base de palavras que os atos de governação desmentem.  Habituaram-se à ideia que as eleições são tudo e que a sua representação é tudo, mesmo sabendo que as palavras usadas para obter votos são o contrário dos seus desacatos,  e acham que o povo perde o direito à palavra e à ação indignada em nome da democracia do seu favor. Os governos dos últimos dias cavam covas para quem? E as pessoas? Cavam daqui ou cavam trincheiras?

sombras

5 de outubro

A república aproximou-se mansa, cansada melhor dito. Não falou comigo, porque nada há para ser dito. Não foi bem assim, devo confessar. Educada, a república murmurou as boas tardes antes de se sentar. Poucos momentos depois e, como ela estava cansada!, tinha a sua cabeça poisada no meu ombro. Reparei que, apesar de regime de tenra idade, não esconde as rugas de uma vida cheia de lutas e provações. Reparei num recato que não lhe conhecia. Mesmo reclinada como estava, o seio não se via descoberto. O meu braço subiu até ser um leve meio abraço que cuidava de a proteger caso adormecesse. Tenho um grande carinho por a conhecer desde sempre e não gostaria de a ver de cabeça partida. Conheço muita gente que está convencida que as cabeças da república merecem ser partidas em pedaços. As cabeças e as cabeçadas da república não são para aqui chamadas e, apesar de tudo, não me sinto capaz de perturbar este pequeno sono da república, que ela bem o merece coitada.
Acabei eu também por adormecer como me acontece sempre que fico distraído e parado no tempo. Quando acordei, estava sozinho, deitado sobre o banco. Do sonho só sobrava o carinho de um barrete da república sob a minha cabeça. Estremunhado e de barrete na mão, olhei em volta na esperança de ver a república dos meus sonhos, agora de cabeça descoberta. Ninguém à volta. Nada. Mas guardo na memória de velho teimoso o meu sonho de república. Quem sabe um dia... ela vem para recuperar o barrete de hoje.

ouvi dizer que

que tenho os olhos cansados
e que ouço mal
é o que percebi do que me disseram

falo mais alto?
falam mais alto à minha volta?
isso não sei

só sei que tenho de escolher
entre lupas ampliadoras
e orelhas amplificadoras
para continuar a comer
apesar da crise

golpe de rins

e se não recolher os votos
da imensa maioria
na sua parcela de república das bananas

pode suceder
ao conselheiro da república
um golpe de estado

e o conselheiro

desconforto

Há dias assim

em que um conselheiro
do estado da república
ameaça a república
com a independência de parte da república
que em parte representa:

e a república nada diz e nada faz
a não ser vergar-se sob o fardo
que o conselheiro é

acima da lei da república
e da sua gravidade

a esquina a lápis


pés da porta

a escada degrau da escada sem vão 
é uma escada de degraus por cada
uma outra escada degrau a degrau
desenhada numa folha de caderno
escada desenhada na folha a lápis
primeiro a escada depois a casa vã 



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