o frio do dia
não falas comigo ou sou eu que te não ouço
à distância que edificaste como muro e muralha?
não falas comigo porque os anos te pesam hoje
mais que ontem quando travávamos desejo e batalha?
escreve-me uma carta: escreve pela tua mão
o desamor que te faz mudar de passeio ao ver-me
ou leva-me de volta às regueiras dos montes
por uma mão que aprenda, ruga a ruga, a ler-me.
verás que o tempo passou mais e menos do que devia
por mim longos anos quando por ti não mais que um dia.
breve
Se te posso suportar,
és uma dor ligeira,
se não posso,
serás uma dor breve!
[Séneca; Cartas a Lucílio]
és uma dor ligeira,
se não posso,
serás uma dor breve!
[Séneca; Cartas a Lucílio]
se me odiasses
sente
os meus dedos ágeis
desenhando o corpe
te
bordando na pele
uma onda a língua
entende
me
os meus dedos ágeis
desenhando o corpe
te
bordando na pele
uma onda a língua
entende
me
Rios que correm
Aqui onde me lêem, a vida corre como um rio.
Aos vinte e quatro dias do mês de Maio, a Escola Secundária Mário Sacramento lembra o seu patrono. Eu fui visitá-la para falar de um aspecto da batalha mundial pelos direitos humanos - o trabalho da Amnistia Internacional. A educação para os direitos humanos nunca foi tão necessária e tão urgente e ela só ganha sentido se constituir em si mesma participação cívica para a juventude de hoje, felizmente tão longe das graves violações de há uns anos atrás, mas preguiçosamente convencida da perenidade das garantias dos direitos democráticos, incapaz de dar pelo perigo se ele tomar conta do caminho.
Ninguém pode imaginar a alegria que é para um professor como eu visitar uma escola que está melhor, limpa e acolhedora... e a fervilhar. Sentindo-me em casa.
Aos vinte e cinco dias do mês de Maio, a Escola Secundária José Estêvão abre-se para um dia especial. Olhamos para ela e sentimos que ela precisa de obras para melhorar. Melhorar as condições para todos os que nela trabalham e estudam e de acolhimento a todos os que a ela acorrem. Todos nos queixamos disto ou daquilo, mas temos de reconhecer que as escolas estão a mudar para melhor e isso só pode acontecer porque elas são habitadas pela humanidade inteira. Comparamos as bibliotecas de ontem e de hoje e salta-nos a tampa para o lado da alegria.
Quem nos dera que os patronos destas escolas de Aveiro fossem anjos da guarda! As vidas e obras de José Estêvão e Mário Sacramento, bem como a dos patronos de outras escolas de Aveiro, devem ser lembradas e estudadas pelos nossos jovens. Procuramos muitas vezes fora de nós o que nós fomos, somos e podemos ser. Porque não uma ou outra pública leitura de trechos de José Estêvão e Mário Sacramento? Na esperança de lhes ouvir a viva voz por nossa interposta voz e promessa de os honrar.
As escolas levantam em ombros as figuras maiores da cidade. Por muitos problemas que as escolas tenham, o maior reconhecimento de um cidadão honrado é o que uma escola lhes pode dar, confirmando que a eles se deve a escola e que eles fizeram escola.
José Estêvão é uma escola. Mário Sacramento é uma escola. Não podíamos dizer melhor.
[o aveiro; 26/05/2005]
Aos vinte e quatro dias do mês de Maio, a Escola Secundária Mário Sacramento lembra o seu patrono. Eu fui visitá-la para falar de um aspecto da batalha mundial pelos direitos humanos - o trabalho da Amnistia Internacional. A educação para os direitos humanos nunca foi tão necessária e tão urgente e ela só ganha sentido se constituir em si mesma participação cívica para a juventude de hoje, felizmente tão longe das graves violações de há uns anos atrás, mas preguiçosamente convencida da perenidade das garantias dos direitos democráticos, incapaz de dar pelo perigo se ele tomar conta do caminho.
Ninguém pode imaginar a alegria que é para um professor como eu visitar uma escola que está melhor, limpa e acolhedora... e a fervilhar. Sentindo-me em casa.
Aos vinte e cinco dias do mês de Maio, a Escola Secundária José Estêvão abre-se para um dia especial. Olhamos para ela e sentimos que ela precisa de obras para melhorar. Melhorar as condições para todos os que nela trabalham e estudam e de acolhimento a todos os que a ela acorrem. Todos nos queixamos disto ou daquilo, mas temos de reconhecer que as escolas estão a mudar para melhor e isso só pode acontecer porque elas são habitadas pela humanidade inteira. Comparamos as bibliotecas de ontem e de hoje e salta-nos a tampa para o lado da alegria.
Quem nos dera que os patronos destas escolas de Aveiro fossem anjos da guarda! As vidas e obras de José Estêvão e Mário Sacramento, bem como a dos patronos de outras escolas de Aveiro, devem ser lembradas e estudadas pelos nossos jovens. Procuramos muitas vezes fora de nós o que nós fomos, somos e podemos ser. Porque não uma ou outra pública leitura de trechos de José Estêvão e Mário Sacramento? Na esperança de lhes ouvir a viva voz por nossa interposta voz e promessa de os honrar.
As escolas levantam em ombros as figuras maiores da cidade. Por muitos problemas que as escolas tenham, o maior reconhecimento de um cidadão honrado é o que uma escola lhes pode dar, confirmando que a eles se deve a escola e que eles fizeram escola.
José Estêvão é uma escola. Mário Sacramento é uma escola. Não podíamos dizer melhor.
[o aveiro; 26/05/2005]
bic
Depois de o ter desenhado, deixei de fumar. Se não preciso do isqueiro, muito menos preciso do desenho. Aqui o deito para que durma em paz.
santos da casa
em casa não se fazem milagres:
a aura é feita de luz artificial
patrocinada pela cerveja sagres
como outra selecção nacional.
em nome
neste caso não fui eu quem te fez o altar
que já lá estavas quando ceguei à luz coada
a teus pés de joelhos tremendo humilhada
se suicida minh'alma sem saber a quem rezar
a pressa dos feios
Sábios governantes do PSD/PP disseram que nos tínhamos afundado com o PS até ficarmos de tanga e prometeram que nos salvavam do monstruoso défice, saneando as contas públicas com receitas extraordinárias e contenção da despesa pública, etc. Os novos sábios, agora governantes do PS, fazem apelo aos mesmos sacrifícios de ontem, levantando pontas do véu onde se esconde o défice orçamental do estado a que chegámos pela via do PS e do PSD. Tem piorado sempre - dizem,mentindo, a verdade. Nah! Para alguém isto está a melhorar. Cada vez mais se alarga e aprofunda o abismo entre ricos portugueses e portugueses pobres. O que quer dizer que têm sido os pobres e a tal classe média a pagar todas as crises. E talvez algumas das crises não tenham sido mais do que invenções chantagistas para que os pobres aceitem pagar mais ainda, ajudando os patrões na "criação de riqueza" para seu gozo pessoal que não para melhorar o país do povo. São cientistas estranhos estes sábios economistas da situação! As suas teorias são feitas à medida. Ao povo vão sendo desvendados factos à medida que são precisos para confirmar a justeza dos interesses dominantes na circunstância. Melhor será dizer que não há ciência nisto. Técnica há! Mas é só técnica de engate!
Como em todos os engates, quando o povo percebe a traição muda os seus votos. A fidelidade eterna jurada ontem pelos grandes servidores públicos desfaz-se em fumo. E é ver como os antigos governantes, perdidas as maiorias, sem qualquer respeito pelos seus eleitores tentam mudar de vidinha e não cumprir o mandato para que foram eleitos. Parecem pulgas saltitantes à procura de esconder os negócios daquilo a que chamam a retaguarda segura e à procura de tachos milionários aqui, ali ou no estrangeiro.
Esse é outro aspecto tenebroso! Nesta coisa, não interessam as políticas, as ideias. Pensa-se e diz-se que as pessoas votam mais nos políticos do que nas políticas, votam mais em caras feias que em ideias. Quando o povo vota em ideias fortes, a confusão é total. Todos os jornais e todos os partidos procuram pessoas que sejam o corpo das ideias ganhadoras. Tem de haver pessoas a justificar cada voto como mau hálito de alguma influência. Porque tudo se passa como se fosse um repetido engate rasca num picadeiro global.
Ainda não li ideias fascinantes nesta semana das pré-campanhas autárquicas. Mostraram-se as cabeças nomeadas e coroadas. E são feios os candidatos, tão feios como eu! Se acaso tiverem uma ideia, não quero pensar nela como mais um enfeite de maquilhagem.
[o aveiro; 19/05/2005]
Como em todos os engates, quando o povo percebe a traição muda os seus votos. A fidelidade eterna jurada ontem pelos grandes servidores públicos desfaz-se em fumo. E é ver como os antigos governantes, perdidas as maiorias, sem qualquer respeito pelos seus eleitores tentam mudar de vidinha e não cumprir o mandato para que foram eleitos. Parecem pulgas saltitantes à procura de esconder os negócios daquilo a que chamam a retaguarda segura e à procura de tachos milionários aqui, ali ou no estrangeiro.
Esse é outro aspecto tenebroso! Nesta coisa, não interessam as políticas, as ideias. Pensa-se e diz-se que as pessoas votam mais nos políticos do que nas políticas, votam mais em caras feias que em ideias. Quando o povo vota em ideias fortes, a confusão é total. Todos os jornais e todos os partidos procuram pessoas que sejam o corpo das ideias ganhadoras. Tem de haver pessoas a justificar cada voto como mau hálito de alguma influência. Porque tudo se passa como se fosse um repetido engate rasca num picadeiro global.
Ainda não li ideias fascinantes nesta semana das pré-campanhas autárquicas. Mostraram-se as cabeças nomeadas e coroadas. E são feios os candidatos, tão feios como eu! Se acaso tiverem uma ideia, não quero pensar nela como mais um enfeite de maquilhagem.
[o aveiro; 19/05/2005]
viste ao menos a água escondida?
a tua mãe não te ensinou a apanhar cricos. também não ensinou qualquer dos teus irmãos.
mas eles atavam o ancinho no quadro da bicicleta e, com um saco de serapilheira pelos ombros, um ligeiro empurrão de um pé fincado no chão e uma pedalada contida, arrancavam sem dizer água vai. para voltarem horas mais tarde com um saco cheio de cricos, lama e limo.
como é que eles aprenderam? como é que eles aprendem?
ainda hoje passas a vida a fazer perguntas dessas. e não aprendes.
mas eles atavam o ancinho no quadro da bicicleta e, com um saco de serapilheira pelos ombros, um ligeiro empurrão de um pé fincado no chão e uma pedalada contida, arrancavam sem dizer água vai. para voltarem horas mais tarde com um saco cheio de cricos, lama e limo.
como é que eles aprenderam? como é que eles aprendem?
ainda hoje passas a vida a fazer perguntas dessas. e não aprendes.
Se fosses andando? ...
Há na praça quem escreva contra a limitação dos mandatos dos autarcas. Argumentam eles que os autarcas adquiriram grande influência e poder e aos aparelhos partidários centrais ou aos deputados interessa limitar a sucessão de mandatos nas autarquias. E é pela democracia que se limita a sucessão de mandatos já que ela é o cimento da troca de favores, dizem os limitadores. Patos bravos, empresários vários e presidentes de câmara foram a nascente de rio de influências mal cheirosas. E é nele que se afoga a honra da nação?
É verdade que, em muitos concelhos, assistimos ao milagre do presidente. Ouvimos falar de dívidas e mais dívidas e de mais capacidade de endividamento. Anda tudo pelos milhões. E quando cresce o clamor da falta de vergonha e de dinheiro para cumprir compromissos básicos, de precariedade dos contratos de trabalho municipais e abusos, tudo se cala e acalma nas garantias dadas pelo presidente. À nossa volta, cada vez se aperta mais um colar de betão.
Os partidos começam a apresentar os seus candidatos às presidências das câmaras das grandes cidades. E ao lado das candidaturas dos partidos, tomam lugar nas linhas de partida os nomes de alguns dos modelos das "virtudes" criticadas. Os casos de Isaltino Morais e Valentim Loureiro são os mais conhecidos.
Há um fascínio especial no exercício do poder autárquico? Dinheiros mal parados a parar na Suíça não podem ser excedentes dos vencimentos de autarcas que são tios. Que é que uma câmara pode ter a ver com um banco suíço? Porque é que há autarcas que usam apitos dourados ou os contratam? Que é que uma câmara tem a ver com apitos dourados e porque é que os presidentes usam ligas e até abusam de superligas? Eu queria ouvir falar de uma câmara daqui perto que não tivesse dívidas e tivesse obras sociais para mostrar, que não suscitasse dúvida sobre a sua independência dos construtores civis na construção da cidade.
Estamos a começar a campanha para as autarquias. No ar, poeira do cimento e um certo cheiro a cobre. De que limpeza falamos quando falamos de autarquias?
[o aveiro; 12/05/2005]
É verdade que, em muitos concelhos, assistimos ao milagre do presidente. Ouvimos falar de dívidas e mais dívidas e de mais capacidade de endividamento. Anda tudo pelos milhões. E quando cresce o clamor da falta de vergonha e de dinheiro para cumprir compromissos básicos, de precariedade dos contratos de trabalho municipais e abusos, tudo se cala e acalma nas garantias dadas pelo presidente. À nossa volta, cada vez se aperta mais um colar de betão.
Os partidos começam a apresentar os seus candidatos às presidências das câmaras das grandes cidades. E ao lado das candidaturas dos partidos, tomam lugar nas linhas de partida os nomes de alguns dos modelos das "virtudes" criticadas. Os casos de Isaltino Morais e Valentim Loureiro são os mais conhecidos.
Há um fascínio especial no exercício do poder autárquico? Dinheiros mal parados a parar na Suíça não podem ser excedentes dos vencimentos de autarcas que são tios. Que é que uma câmara pode ter a ver com um banco suíço? Porque é que há autarcas que usam apitos dourados ou os contratam? Que é que uma câmara tem a ver com apitos dourados e porque é que os presidentes usam ligas e até abusam de superligas? Eu queria ouvir falar de uma câmara daqui perto que não tivesse dívidas e tivesse obras sociais para mostrar, que não suscitasse dúvida sobre a sua independência dos construtores civis na construção da cidade.
Estamos a começar a campanha para as autarquias. No ar, poeira do cimento e um certo cheiro a cobre. De que limpeza falamos quando falamos de autarquias?
[o aveiro; 12/05/2005]
carta a lucilio
... quando um factor externo faz impender sobre nós a morte, não é possível decidir, de uma forma geral, se a atitude correcta consiste em antecipar ou em aguardar essa morte: muitas são as circunstâncias que poem fazer pender para uma ou outra solução. Se, por exemplo, a alternativa for entre uma morte no meio de torturas e uma morte directa e rápida, como não escolher sem hesitação esta última? Se eu escolho o navio em que vou navegar ou a casa em que vou habitar, também, ao deixar esta vida, posso escolher a forma como morrer....
Séneca
Séneca
vou desenhar uma esquina
não sei bem o que vou fazer em lisboa. o mais provável? nada. e é por isso que nem te peço nem me despeço. parto como se pudesse não voltar. de meu pouco tenho e menos ainda levo. de mim levo tudo. para nada.
sabes o que te digo?
que a felicidade não é o que eu penso foi o que me disseram sem que eu tivesse perguntado. pensei: dentro do ouvido interior as frases não têm a mesma força que da boca para fora. disse: sabes o que te digo? e calei-me.
os pés de barro
Quantas vezes passaste as mãos calejadas pelo rugoso tronco na esperança de veres o tempo recuar? Quantas vezes sentiste ou imaginaste sentir no cavado da tua mão de escultor o cabo do canivete? Olhas a lâmina escondida, por breves instantes faiscando ao sol, com que cavas a tua jura de amor na velha casca da árvore. Sentado na balaustrada norte do jardim, com uma indiferença sobressaltada, disfarças os gestos meticulosos com que talhas o nome dela.
Lembras-te de cada sobressalto, do medo de seres descoberto pelos guardas do jardim ou por quem por ti passasse ou por algum colega que, se adivinhasse, não deixaria de troçar de ti, cantando o nome dela. Lembras-te de tudo. E não podes encontrar vestígios desse gesto.
Sentes a marca que fizeste, como sentirias uma mão depois de ter sido amputada. Sabes que não está lá, que não sobram vestígios desse baixo-relevo insensato e, talvez por isso, vejas agora mais nitidamente que antes o nome talhado e ainda impossível de nomear.
Tu sabes que ela nunca soube que o nome dela cavou o teu peito tão fundo quão fundo foi o teu desespero ao nomeá-la na velha árvore do extremo do jardim onde esperavas a camioneta para voltar à aldeia, ao fim da tarde, depois das aulas. Ninguém pode calcular a ternura que esta memória carrega, porque ninguém tem balança que pese paixão que nem ousou levantar os olhos e nem foi reconhecida para não ser rejeitada. Vivida por uma solidão maior, fez-se maior paixão, sem sim e sem não, e ... sem compaixão. Nunca foi além desse gesto de esperança na eternidade do nome em casca daquela árvore e abrigo.
Passavas pela tua árvore e imaginavas que ela ali estava, tão perto da entrada do parque e tão escondida pelo pequeno café-bar. De vez em quando, fotografavas a árvore como ias fotografando outras. Era isso o que dizias a ti mesmo, sabendo que ela era uma irrepetível escultura do tempo... e tua. Como vais aceitar que a tenham encontrado seca e enrugada, indefesa como tu, e tenham decidido ceifá-la? Tinhas-te convencido que ela não incomodava ali atrás do pequeno café e era, como era para ti, a mais bela árvore de torturados ramos.
Sempre soubeste que uma parte de ti ali ficara. Passados quase cinquenta anos, incapaz de perdoar a quem matou o sonho, não podes fazer mais do que tirar mais uma fotografia e passar a tua mão pela ferida vegetal, cheirar a serradura e olhar as tuas unhas que se quebraram a arranhar a eternidade.
[o aveiro;5/5/2005]
Lembras-te de cada sobressalto, do medo de seres descoberto pelos guardas do jardim ou por quem por ti passasse ou por algum colega que, se adivinhasse, não deixaria de troçar de ti, cantando o nome dela. Lembras-te de tudo. E não podes encontrar vestígios desse gesto.
Sentes a marca que fizeste, como sentirias uma mão depois de ter sido amputada. Sabes que não está lá, que não sobram vestígios desse baixo-relevo insensato e, talvez por isso, vejas agora mais nitidamente que antes o nome talhado e ainda impossível de nomear.
Tu sabes que ela nunca soube que o nome dela cavou o teu peito tão fundo quão fundo foi o teu desespero ao nomeá-la na velha árvore do extremo do jardim onde esperavas a camioneta para voltar à aldeia, ao fim da tarde, depois das aulas. Ninguém pode calcular a ternura que esta memória carrega, porque ninguém tem balança que pese paixão que nem ousou levantar os olhos e nem foi reconhecida para não ser rejeitada. Vivida por uma solidão maior, fez-se maior paixão, sem sim e sem não, e ... sem compaixão. Nunca foi além desse gesto de esperança na eternidade do nome em casca daquela árvore e abrigo.
Passavas pela tua árvore e imaginavas que ela ali estava, tão perto da entrada do parque e tão escondida pelo pequeno café-bar. De vez em quando, fotografavas a árvore como ias fotografando outras. Era isso o que dizias a ti mesmo, sabendo que ela era uma irrepetível escultura do tempo... e tua. Como vais aceitar que a tenham encontrado seca e enrugada, indefesa como tu, e tenham decidido ceifá-la? Tinhas-te convencido que ela não incomodava ali atrás do pequeno café e era, como era para ti, a mais bela árvore de torturados ramos.
Sempre soubeste que uma parte de ti ali ficara. Passados quase cinquenta anos, incapaz de perdoar a quem matou o sonho, não podes fazer mais do que tirar mais uma fotografia e passar a tua mão pela ferida vegetal, cheirar a serradura e olhar as tuas unhas que se quebraram a arranhar a eternidade.
[o aveiro;5/5/2005]
A família e os amigos.
1.
Há assuntos de família. Os assuntos de família dos outros não me dizem respeito. Não me interessa minimamente a família de Freitas do Amaral. Mesmo quando algum membro da família de Freitas do Amaral foge ao fisco e aos credores, penso que cabe à justiça tratar do caso. Não é assunto que me leve a escrever.
Mas quando o membro da família de Freitas do Amaral que foge ao fisco e aos credores (também trabalhadores por conta dele) aparece com cargo (e mais que bem remunerado) no Ministério dos Negócios Estrangeiros já tenho de me preocupar com ele e com Freitas do Amaral. É mau sinal. O homem não paga ao estado o que lhe deve e recebe do bolo para o qual não dá. E o estado paga-lhe mesmo quando não deve? Não temos um Ministério de Negócios Estranhos.
Denunciado, o familiar demitiu-se. Mas é preciso não esquecer.
2.
E as amizades? As amizades de alguns políticos são curiosas. O nosso Durão Barroso é uma das maiores atra(i)cções de amigos. Há menos de 30 anos, Durão Barroso era um jovem militante maoísta e os amigos que então tinha não vêm ao caso. Há cerca de seis anos chegou ao topo do PSD e a primeiro ministro. Nessa altura, ainda mal aquecera o seu lugar de primeiro quando um amigo de Durão Barroso, com ilha no Brasil, o convida (família incluída) para uma de boas festas com viagem em jacto particular. Quanto custará a prenda do milionário amigo? Durão não deu cavaco ao espanto do povo que maldisse entredentes a compra pelo governo de um magnífico topo de gama à empresa do amigo, bem como a concretização de outros chorudos negócios.
Ainda não passou um ano de chefe dos comissários da União Europeia e já nos dizem que Durão e família teve direito a um cruzeiro de milionário. Durão Barroso alargou o seu leque de amizades milionárias e foi um milionário grego quem lhe ofereceu o cruzeiro. Por acaso, é alguém que não quer ver-se grego nos negócios que mantém com a união de que Durão é chefe executivo.
A família não se escolhe. Os amigos escolhem-se. Os negociantes milionários escolhem, para amigos, primeiros ministros e presidentes de comissão. Há um primeiro ministro e presidente da comissão europeia que é português e aceita prendas milionárias. Em exercício.
Quem disse que estes tipos prestigiam o nome de Portugal? O bom nome?
3.
Foi para estes que se fez o "25 de Abril"?
[o aveiro, 28/04/2005]
Há assuntos de família. Os assuntos de família dos outros não me dizem respeito. Não me interessa minimamente a família de Freitas do Amaral. Mesmo quando algum membro da família de Freitas do Amaral foge ao fisco e aos credores, penso que cabe à justiça tratar do caso. Não é assunto que me leve a escrever.
Mas quando o membro da família de Freitas do Amaral que foge ao fisco e aos credores (também trabalhadores por conta dele) aparece com cargo (e mais que bem remunerado) no Ministério dos Negócios Estrangeiros já tenho de me preocupar com ele e com Freitas do Amaral. É mau sinal. O homem não paga ao estado o que lhe deve e recebe do bolo para o qual não dá. E o estado paga-lhe mesmo quando não deve? Não temos um Ministério de Negócios Estranhos.
Denunciado, o familiar demitiu-se. Mas é preciso não esquecer.
2.
E as amizades? As amizades de alguns políticos são curiosas. O nosso Durão Barroso é uma das maiores atra(i)cções de amigos. Há menos de 30 anos, Durão Barroso era um jovem militante maoísta e os amigos que então tinha não vêm ao caso. Há cerca de seis anos chegou ao topo do PSD e a primeiro ministro. Nessa altura, ainda mal aquecera o seu lugar de primeiro quando um amigo de Durão Barroso, com ilha no Brasil, o convida (família incluída) para uma de boas festas com viagem em jacto particular. Quanto custará a prenda do milionário amigo? Durão não deu cavaco ao espanto do povo que maldisse entredentes a compra pelo governo de um magnífico topo de gama à empresa do amigo, bem como a concretização de outros chorudos negócios.
Ainda não passou um ano de chefe dos comissários da União Europeia e já nos dizem que Durão e família teve direito a um cruzeiro de milionário. Durão Barroso alargou o seu leque de amizades milionárias e foi um milionário grego quem lhe ofereceu o cruzeiro. Por acaso, é alguém que não quer ver-se grego nos negócios que mantém com a união de que Durão é chefe executivo.
A família não se escolhe. Os amigos escolhem-se. Os negociantes milionários escolhem, para amigos, primeiros ministros e presidentes de comissão. Há um primeiro ministro e presidente da comissão europeia que é português e aceita prendas milionárias. Em exercício.
Quem disse que estes tipos prestigiam o nome de Portugal? O bom nome?
3.
Foi para estes que se fez o "25 de Abril"?
[o aveiro, 28/04/2005]
O que é a inovação?
Inovação é pegar em conhecimentos novos e transformá-los em riqueza! - diz uma mulher na televisão.
25 de Abril, sempre!
Não parámos de correr ao lado do nosso tempo. Ás vezes pensávamos que corríamos à sua frente. Mas isso sabemos hoje que é o puro engano que queríamos ou de que precisávamos para continuar a correr para o lado da frente, onde, por convenção, o tempo se está a desenrolar sem parar.
De todos os rumos que a conversa podia ter tomado, rumámos para o lado da liberdade e da democracia. Não demos tanta importância ao desenvolvimento sempre que ele nos aparecia como coisa desgarrada da liberdade, da democracia e até da igualdade. Houve tempos em que mantivemos uma confusão entre igualdade e igualitarismo. Mas não foi isso que estragou a caminhada.
De resto, a nossa vida não chegou para mais do que uma conversa intermitente sobre a cultura em geral, a matemática como tema e o ensino bem sucedido na aprendizagem como obsessão. Comprámos todas as ideias que havia para comprar. Tudo se resumia em encontrar uma que funcionasse. A ideia foi estratégia e táctica, pedagogia e didáctica, actividade e tarefa, situação e problema, teoria e prática, etc. Fora isso, navegámos sempre com os amigos à vista e eram eles quem nos guiavam nos disparates maiores sobre a ilusão das criação do homem novo pela educação e pelo bem estar geral, pela fraternidade universal,... A idade leva-nos a pensar que nada é tão profundo assim e que o nosso papel e o da nossa época é infinitesimal. De facto, até esses amigos fomos perdendo de vista à medida que os víamos do lado dos poderosos e sem serem os exemplos que nós queríamos ver.
Há quem arranje novos amigos dos novos conhecidos que são ricos e poderosos. Conhecemos militantes marxistas leninistas que, em trinta anos, se tornaram políticos nos partidos do poder e ganharam amigos milionários ou são eles mesmos milionários. Amigos? Estranho, não é?
Talvez não! Provavelmente não estamos a falar de amigos, mas de trocas de favores e tráfico de influências. O mais provável é que nem haja amigos nesse mundo para onde eles foram.
Fugimos desse mundo. E arriscamo-nos a ser acusados de crimes vários e cobardia. Mas se é verdade que a democracia é o melhor de entre todos os maus sistemas políticos, continuamos a acreditar que os tipos da nossa geração que foram para o poder fizeram algum mau serviço quando foram exemplos de corrupção e levaram multidões a pensar que o poder corrrompe, que todos os políticos são uma merda sem excepção e que não foi para alimentar estes filhos da puta que se fez o 25 de Abril.
Não podemos resumir o que fizemos e o que falhou de tudo o que fizemos, nem podemos saber o que sobrou do que fizemos. De certo modo, podemos fazer a lista dos desejos que perseguimos, sabendo que hoje continuamos no caminho, um pouco mais à frente no caminho para o que sabemos inacessível e não desistimos de atingir.
De todos os rumos que a conversa podia ter tomado, rumámos para o lado da liberdade e da democracia. Não demos tanta importância ao desenvolvimento sempre que ele nos aparecia como coisa desgarrada da liberdade, da democracia e até da igualdade. Houve tempos em que mantivemos uma confusão entre igualdade e igualitarismo. Mas não foi isso que estragou a caminhada.
De resto, a nossa vida não chegou para mais do que uma conversa intermitente sobre a cultura em geral, a matemática como tema e o ensino bem sucedido na aprendizagem como obsessão. Comprámos todas as ideias que havia para comprar. Tudo se resumia em encontrar uma que funcionasse. A ideia foi estratégia e táctica, pedagogia e didáctica, actividade e tarefa, situação e problema, teoria e prática, etc. Fora isso, navegámos sempre com os amigos à vista e eram eles quem nos guiavam nos disparates maiores sobre a ilusão das criação do homem novo pela educação e pelo bem estar geral, pela fraternidade universal,... A idade leva-nos a pensar que nada é tão profundo assim e que o nosso papel e o da nossa época é infinitesimal. De facto, até esses amigos fomos perdendo de vista à medida que os víamos do lado dos poderosos e sem serem os exemplos que nós queríamos ver.
Há quem arranje novos amigos dos novos conhecidos que são ricos e poderosos. Conhecemos militantes marxistas leninistas que, em trinta anos, se tornaram políticos nos partidos do poder e ganharam amigos milionários ou são eles mesmos milionários. Amigos? Estranho, não é?
Talvez não! Provavelmente não estamos a falar de amigos, mas de trocas de favores e tráfico de influências. O mais provável é que nem haja amigos nesse mundo para onde eles foram.
Fugimos desse mundo. E arriscamo-nos a ser acusados de crimes vários e cobardia. Mas se é verdade que a democracia é o melhor de entre todos os maus sistemas políticos, continuamos a acreditar que os tipos da nossa geração que foram para o poder fizeram algum mau serviço quando foram exemplos de corrupção e levaram multidões a pensar que o poder corrrompe, que todos os políticos são uma merda sem excepção e que não foi para alimentar estes filhos da puta que se fez o 25 de Abril.
Não podemos resumir o que fizemos e o que falhou de tudo o que fizemos, nem podemos saber o que sobrou do que fizemos. De certo modo, podemos fazer a lista dos desejos que perseguimos, sabendo que hoje continuamos no caminho, um pouco mais à frente no caminho para o que sabemos inacessível e não desistimos de atingir.
... la verdad es un armario lleno de sombra
Juro que la belleza
no proporciona dulces
sueños, sino el insomnio
purísimo del hielo,
la dura, indeclinable
materia del relámpago.
Gamoneda
no proporciona dulces
sueños, sino el insomnio
purísimo del hielo,
la dura, indeclinable
materia del relámpago.
Gamoneda
Hábitos de leitura?
O prego no sapato pergunta e eu respondo:
1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Confesso que nunca me passaria pela cabeça querer ser um livro.
2. Já alguma vez ficaste apanhadinho por um personagem de ficção?
Também me deixei maravilhar com velhos eternos que vivem no realismo fantástico latino-americano ou personagens dos romances de Amado, London ou Gorki ou ... de Umberto Ecco, por exemplo. Mas eu sou apanhado por tudo quanto é personagem dos romances que leio. Sou um fraco.
3. Qual foi o último livro que compraste?
O último? Geometria, do Eduardo Veloso, num encontro de professores de Matemática ali para os lados de Albufeira. De vez em quando compro mais uma Geometria do Veloso. Antes, para além de alguns livros de divulgação científica, tinha comprado a "Poesia" de Montale, "A Tábua de Flandres" de Pérez-Reverte, "Glória" de Vasco Pulido Valente e "Documentos Arabicos para a História Portugueza copiados dos originais da Torre do Tombo...." de Fr. João de Sousa. E comprei as "Cartas a Lucílio" de Séneca. Não sei qual foi o último.
4. Que livros estás a ler?
Poesia, de Montale. Rimas, de Petrarca (VGM). A Tábua de Flandres, de Arturo Pérez-Reverte. E descanso a cabeça na geometria deste e daquele
5. Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Nunca saberei. Porque iria para uma ilha deserta? Para morrer? Para ler? Para fugir daqui? Escolhia alguns desafios matemáticos que pudessem dar bons desenhos na areia. E talvez levasse "A ordem alfabética" porque numa ilha deserta teria de ter presente todos os perigos de alguma boa ordem, um Vian qualquer, uma Lírica de Camões para ser feliz e infeliz com todo o encanto.
6. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
Ao Arcêncio de "Um murtoseiro" porque sim, ao Delfim de "A sebenta" porque não? e à Rosário Fardilha de "Divas e Contrabaixo" por não a conhecer e não conhecer outra diva com contrabaixo.
1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Confesso que nunca me passaria pela cabeça querer ser um livro.
2. Já alguma vez ficaste apanhadinho por um personagem de ficção?
Também me deixei maravilhar com velhos eternos que vivem no realismo fantástico latino-americano ou personagens dos romances de Amado, London ou Gorki ou ... de Umberto Ecco, por exemplo. Mas eu sou apanhado por tudo quanto é personagem dos romances que leio. Sou um fraco.
3. Qual foi o último livro que compraste?
O último? Geometria, do Eduardo Veloso, num encontro de professores de Matemática ali para os lados de Albufeira. De vez em quando compro mais uma Geometria do Veloso. Antes, para além de alguns livros de divulgação científica, tinha comprado a "Poesia" de Montale, "A Tábua de Flandres" de Pérez-Reverte, "Glória" de Vasco Pulido Valente e "Documentos Arabicos para a História Portugueza copiados dos originais da Torre do Tombo...." de Fr. João de Sousa. E comprei as "Cartas a Lucílio" de Séneca. Não sei qual foi o último.
4. Que livros estás a ler?
Poesia, de Montale. Rimas, de Petrarca (VGM). A Tábua de Flandres, de Arturo Pérez-Reverte. E descanso a cabeça na geometria deste e daquele
5. Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Nunca saberei. Porque iria para uma ilha deserta? Para morrer? Para ler? Para fugir daqui? Escolhia alguns desafios matemáticos que pudessem dar bons desenhos na areia. E talvez levasse "A ordem alfabética" porque numa ilha deserta teria de ter presente todos os perigos de alguma boa ordem, um Vian qualquer, uma Lírica de Camões para ser feliz e infeliz com todo o encanto.
6. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
Ao Arcêncio de "Um murtoseiro" porque sim, ao Delfim de "A sebenta" porque não? e à Rosário Fardilha de "Divas e Contrabaixo" por não a conhecer e não conhecer outra diva com contrabaixo.
Como vamos de amores?
O homem olha para trás, por cima do ombro. Os olhos pouco vêem, mas não lhe escapa uma sombra na parede. Apressa o passo para o lugar inundado pela luz. Ali chegado, descansa encostado a uma parede que nem existe. Ali sente-se bem e seguro: tem governo europeu, nacional, regional e local, tem presidente, tem pároco, bispo, cardeal e tem... papa. Não lhe falta nada porque ninguém lhe falta.
O homem olha para trás, por cima do ombro. Agora que o afastaram de todas as sombras e de todas as dúvidas, o homem pode descansar. O homem, da sua varanda de luz, diz para quem o quer olhar que nem tudo o que lhe é dado ver merece ser olhado com compreensão.
[ Cada um de nós sabe que algumas verdades apregoadas já foram desmentidas pelo rigor dos factos observados e dos resultados das experiências vividas e não mostramos compreensão pelo relativismo. Podemos combater as ideias perniciosas e opostas a evidências científicas sem condenar ou agredir fisicamente quem as defenda. E não mostramos a mínima compreensão para quem defenda a violência, viole os direitos de outros, destrua o património natural e construído de todos e de cada um, ... ]
O homem olha para trás, por cima do ombro. Ensinaram-lhe isso, mesmo antes de lhe darem a sua quota parte de ciência e de lhe cederem um lugar humano. Ensinam-lhe isso dando-lhe a beber crenças que o incluem numa parcela humana e o excluem das outras.
[Mas a aldeia global que o mundo é oferece-nos a visão do outro com suas crenças, muitas vezes tão opostas nos interesses sectários como unidas em origens comuns. E isso fez-nos olhar para os outros, para compreender e não excluir. Sem nos obrigarmos a mudar de crenças, sabemos da variedade e da unidade e aprendemos a olhar.]
O homem olha para trás, por cima do ombro. Por medo das sombras e das dúvidas. Nesta semana, ouvimos muitas vezes falar da necessidade de negar e renegar o relativismo neste sentido das crenças religiosas. De que falamos quando falamos de relativismo? No que respeita à universalidade dos direitos humanos não aceitamos qualquer relativismo cultural ou étnico nem relativismo contra as evidências científicas.
Da obra humana, o que mais há que não seja relativo?
[o aveiro; 21/04/2005]
O homem olha para trás, por cima do ombro. Agora que o afastaram de todas as sombras e de todas as dúvidas, o homem pode descansar. O homem, da sua varanda de luz, diz para quem o quer olhar que nem tudo o que lhe é dado ver merece ser olhado com compreensão.
[ Cada um de nós sabe que algumas verdades apregoadas já foram desmentidas pelo rigor dos factos observados e dos resultados das experiências vividas e não mostramos compreensão pelo relativismo. Podemos combater as ideias perniciosas e opostas a evidências científicas sem condenar ou agredir fisicamente quem as defenda. E não mostramos a mínima compreensão para quem defenda a violência, viole os direitos de outros, destrua o património natural e construído de todos e de cada um, ... ]
O homem olha para trás, por cima do ombro. Ensinaram-lhe isso, mesmo antes de lhe darem a sua quota parte de ciência e de lhe cederem um lugar humano. Ensinam-lhe isso dando-lhe a beber crenças que o incluem numa parcela humana e o excluem das outras.
[Mas a aldeia global que o mundo é oferece-nos a visão do outro com suas crenças, muitas vezes tão opostas nos interesses sectários como unidas em origens comuns. E isso fez-nos olhar para os outros, para compreender e não excluir. Sem nos obrigarmos a mudar de crenças, sabemos da variedade e da unidade e aprendemos a olhar.]
O homem olha para trás, por cima do ombro. Por medo das sombras e das dúvidas. Nesta semana, ouvimos muitas vezes falar da necessidade de negar e renegar o relativismo neste sentido das crenças religiosas. De que falamos quando falamos de relativismo? No que respeita à universalidade dos direitos humanos não aceitamos qualquer relativismo cultural ou étnico nem relativismo contra as evidências científicas.
Da obra humana, o que mais há que não seja relativo?
[o aveiro; 21/04/2005]
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