(arte) postal



desenho em postais do correio, desenho em folhinhas a6, desenho em papel de mesa, desenho em guardanapos, e, sempre que possível, para compensar a falta de palavras, no verso escrevo endereço e colo o selo. as pessoas que recebem as folhinhas pelo correio nunca me escreveram de volta sobre qualquer dos desenhos que lhes enviei. de vez em quando, preocupo-me em saber se as folhas volantes chegaram ao seu destino. e só.
as mais incríveis folhinhas têm chegado ao seu destino e os correios de portugal ainda não pararam de me surpreender. do que eu mais gosto e o que eu mais admiro é a diligência dos carteiros no seu circuito.

admirar de admirar mesmo.

negativo de um postal, só o negativo que ora mostro.

o girassol dissidente

Recebi o teu postal de reunião. Foi bom, por uma vez, ter na caixa de correio algo diferente de uma factura para pagar!
Em troca, mando-te este girassol dissidente que nasceu aqui perto da minha casa.
Abraço
Marília

Perguntei-lhe:
- Um girassol virou-se para ti e os outros viraram-te as costas? Porquê?
Ela respondeu:
- Estes girassóis são muito esquisitos. Estão sempre virados para o mesmo sítio, no caso para nascente, independentemente da posição do sol. Excepto um, o de primeiro plano, que está sempre voltado para poente. Chamei-lhes transgénicos. Não mudaram de posição. Fotografei-os. Ficaram na mesma. Nem um se voltou para mim, nem os outros me viraram as costas. São mesmo assim, bonitos mas, esquisitos.
Darão semente?

a vontade

Não aceito um Não. Ainda há pouco disseste que eu era o maior e agora dizes-me Não? Não pode ser. Nada é pior que um Não! O pior Não é aquele que se segue a grandes declarações de amor e dedicação! O pior Não é aquele que está rodeado de pequenos sins, é aquele que nós rodeamos de todos os carinhos para ser um sim. Não me faças isso, não me digas Não!
Quando eu te mando fazer isto ou aquilo é para teu bem e, por isso, está fora de causa que digas que Não fazes! Que diabo te leva a dizer Não? Não consigo compreender o teu Não. Claro que nunca me passaria pela cabeça preocupar-me com um sim senhor, pois claro! Quando dizes sim aos meus pedidos e aos meus desejos isso é tão natural que não me interrogo sobre as razões que te levam a dizer-me sim. Natural é estares de acordo comigo. Todos sabemos quem tem razão. Quem tem razão sou eu. Mesmo que eu mal te explique porque hás-de gostar de mim, natural é que gostes de mim e me digas sim, sim, sim. Não? Que ideia mais infeliz a tua!
Onde foste buscar coragem para me dizer Não? Parece impossível! Todos os meus amigos e conhecidos só podem aconselhar-te a dizer que sim ao que eu quero. Está tudo tratado para o teu sim, Se disseres que sim, vamos ser felizes para sempre! Como podes duvidar? Não te chegam as minhas promessas? Antes de dizer Não, bem podias ter pedido qualquer coisinha que te interessasse. Eu nunca te diria Não! Podia mandar-te mesmo um braçado de rosas, um maço de notas, um beijo, uma carta de amor, um cartão de boas festas e até mesmo boas festas antecipadas. Isso tudo. Não, eu não me importava nada de te prometer mundos e fundos. Ou até dar-te fundos. Agora, dizer-me Não, depois de todas as minhas promessas e depois de teres conhecimento que todos os meus conhecidos e amigos (que são toda a gente, com sabes) já me disseram sim! Parece impossível! Diz-me porquê! Eu preciso de saber porquê. Um Não, porquê?
Quem és tu para me dizer Não? Afinal quem pensas que és? Não, não podemos aceitar o teu Não. O teu Não não tem sentido. É um contra-senso. E é um contratempo!
Não te compreendo! O que é que queres? Um divórcio? É isso que tu queres? Não é melhor pararmos para reflectir? Eu sei que se pensares melhor vais dizer sim, não é? Não é? Diz alguma coisa! Vá, diz alguma coisa que me ajude a perceber. Quem julgas que és? O que é que tu queres, afinal? Dizes Não e pronto? Isso é assim? Isto não fica assim!
Quem é que tu pensas que és?

A Irlanda.

[o aveiro; 19/06/2008]

a linha dos olhos

a linha dos olhos

galafura


quem se alimenta de pedra
faz-se pedra

não se desfaz em pó e cinza
ao entardecer

galafura


até ao rio por esta vereda

leva os teus olhos
a serpente que se afoga

as duas pastas

Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis a...