impossível como um sonho
a tirania
esqueceram-se de ti num lugar perto deles e fingem tomar conta de ti, dia e noite,
tomam conta das tuas memórias até teres só memórias deles, as mais convenientes;
tomam conta das tuas coisas até deixarem de ser tuas ou até deixarem de ser
esqueceram-se de ti até seres uma santa de porcelana prestes a cair da prateleira
do jazigo em que vives tu e eles uma eternidade infantil.
tomam conta das tuas memórias até teres só memórias deles, as mais convenientes;
tomam conta das tuas coisas até deixarem de ser tuas ou até deixarem de ser
esqueceram-se de ti até seres uma santa de porcelana prestes a cair da prateleira
do jazigo em que vives tu e eles uma eternidade infantil.
sophia
(...)
Dai-me o sol das águas azuis e das esferas
Quando o mundo está cheio de novas esculturas
E as ondas inclinando o colo marram
Como unicórnios brancos.
(...)
[Sophia. Coral,ed definitiva]
Dai-me o sol das águas azuis e das esferas
Quando o mundo está cheio de novas esculturas
E as ondas inclinando o colo marram
Como unicórnios brancos.
(...)
[Sophia. Coral,ed definitiva]
nos 100 anos do piolho
(...)
Não deixes entrar os americanos em casa. Foi o que ele disse ainda não se tinha sentado na cadeira mesmo à minha frente. Com os cotovelos grudados na mesa onde o meu café tinha começado a tremelicar de medo, ele olhava-me fixamente nos olhos. Quando ele fazia isso para se sentir dono da minha mesa, eu mantinha os olhos ocupados a ler as placas das reuniões dos cursos antigos.
Graças ao meu amigo, que eu nunca tive o prazer de conhecer, decorei uma parede de placas. Não me deixes entrar os americanos em casa - repetia. Mais baixo, reclamava: O que nós devíamos era correr com eles à bomba! E voltava a fixar-me nos olhos, depois do elegante gesto de arrumar farripas treinadas para a intimidade reflexiva. Nestas alturas, eu deixava correr o tempo e lia placas, umas atrás de outras.
Uma eternidade de placas depois, ele falava de novo. Sabes se os americanos já chegaram? ainda dizia antes de, finalmente, dizer o que eu esperava desde o início: Pagas-me o café? Naquele dia, eu abri a boca e soltei a frase que ele nunca me tinha ouvido: Não tenho dinheiro. Desculpa. Sem acreditar, levantou-se até chegar ao dobro da minha altura, virou-me as costas e saíu do Piolho para sempre ... o dia seguinte.
(...)
(depoimento pessoal pedido pelo Ciência Hoje - ora viva, Jorge Massada)
Não deixes entrar os americanos em casa. Foi o que ele disse ainda não se tinha sentado na cadeira mesmo à minha frente. Com os cotovelos grudados na mesa onde o meu café tinha começado a tremelicar de medo, ele olhava-me fixamente nos olhos. Quando ele fazia isso para se sentir dono da minha mesa, eu mantinha os olhos ocupados a ler as placas das reuniões dos cursos antigos.
Graças ao meu amigo, que eu nunca tive o prazer de conhecer, decorei uma parede de placas. Não me deixes entrar os americanos em casa - repetia. Mais baixo, reclamava: O que nós devíamos era correr com eles à bomba! E voltava a fixar-me nos olhos, depois do elegante gesto de arrumar farripas treinadas para a intimidade reflexiva. Nestas alturas, eu deixava correr o tempo e lia placas, umas atrás de outras.
Uma eternidade de placas depois, ele falava de novo. Sabes se os americanos já chegaram? ainda dizia antes de, finalmente, dizer o que eu esperava desde o início: Pagas-me o café? Naquele dia, eu abri a boca e soltei a frase que ele nunca me tinha ouvido: Não tenho dinheiro. Desculpa. Sem acreditar, levantou-se até chegar ao dobro da minha altura, virou-me as costas e saíu do Piolho para sempre ... o dia seguinte.
(...)
(depoimento pessoal pedido pelo Ciência Hoje - ora viva, Jorge Massada)
por onde eu vou
por onde eu vou vão as formigas
fazendo carreiro
quem sabe o que vai fazer ou para onde vai?
ou as coisas começaram um dia por acaso e daí
para cá cada um segue o da frente confiante
no carreiro.
para onde eu vou correm diligentes formigas
e eu.
fazendo carreiro
quem sabe o que vai fazer ou para onde vai?
ou as coisas começaram um dia por acaso e daí
para cá cada um segue o da frente confiante
no carreiro.
para onde eu vou correm diligentes formigas
e eu.
portogaia
quando passo de uma margem a outra
os olhos ficam retidos na fronteira
na condição de refugiados.
os olhos ficam retidos na fronteira
na condição de refugiados.
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