As festas dos políticos populares
Arsélio Martins
No tempo em que havia festas populares, as pessoas organizavam as suas pequenas coisas ao seu gosto e ocupavam os seus bairros ou a sua cidade para darem largas à alegria que podiam construir enquanto comemoravam ou louvavam algum santo da sua predilecção no seu dia assinalado. Hoje já não há uma única grande festa que seja da iniciativa popular, embora haja mais gente envolvida em cada uma das grandes festas.
A televisão deixou de cobrir noticiosamente as festas, fazendo directos sobre o que vai acontecendo. Faz muito mais que isso. Vai para os locais onde havia a festa popular, monta os seus palcos e faz acontecer outra festa, a sua festa com os seus apresentadores, os seus convidados e os artistas de variedades que contrata. E as pessoas que andavam de um lado para o outro, dançando e falando umas com as outras, assistem agora à festa que lhe propõem e, em bicos de pés, lutam por um fugaz momento de glória nacional e internacional. Os palcos da televisão são animados durante dias inteiros e revezam-se nas transmissões em directo. Em notas de rodapé aparecem ainda as mensagens mais íntimas que as pessoas mandam para a televisão em vez de as sussurrarem aos ouvidos de quem amam.
Diversos palcos são montados, mesmo quando não parecem palcos. Há palcos para artistas de variedades e há palcos para os políticos do poder, cujo papel consiste em aparecer para dizer, por exemplo, que é noite de festa e não é altura para falar de política. Que é afinal o que fazem quase sempre. Aparecem e são encontrados (?) nos lugares públicos por algum motivo e muito raramente por razões políticas. Quem diria? Começo a pensar que não há política que lhes valha e que lhes sobra o espectáculo de estar onde está o povo quando este está em festa e longe dele quando as manifestações são outras. As festas deixaram de ser em louvor dos santos populares e, na maior parte dos andores, a televisão carrega mundanos mais ou menos políticos que não se dão bem com o anonimato popular.
Assim se fez a noite em nome de S. João do Porto, com fogos artificiosos em ambas as margens do mesmo rio Douro e do mesmo partido, com palcos e barcos à deriva pelo continente e ilhas. E também o Santo António de Lisboa tinha sido um produto de televisão.
A comédia dos costumes culturais do S. João do Porto é o cenário da farsa em volta da administração da Casa da Música e lateralmente do Rivoli ou mesmo do Teatro Nacional de S. João. A ignorância que toma as rédeas do poder é uma mula fascinada pelo cavalo que monta. O coice da emenda demora tanto quanto dura uma tragédia em quatro anos de drama.
Santo António e São João já se acabaram. O que nos reserva o S. Pedro?
[o aveiro; 26/06/03]
O homem que dita as cartas.
Arsélio Martins
Vê-se uma cúpula de luz. E ouve-se a multidão dos sons indistintos que ocupam uma grande estação de comboios ou autocarros. A câmara acaba por se fixar numa cara tisnada e cortada por rugas profundas e nas palavras que a boca desdentada solta desordenadamente para o ar. Percebe-se saúde e saudade. Um ligeiro movimento da câmara e aparece-nos um balcão e um computador. Depois um teclado e duas mãos finas espalham os seus dedos ágeis pelas letras. A imagem fixada momentos depois é de uma cara de jovem fardada para a circunstância do seu serviço. Ficamos a saber o que está a acontecer. Naquele ponto de chegadas e partidas, o homem analfabeto dita a sua carta desordenada para a jovem que a organiza para ser impressa e enviada para um destinatário tão longínquo daquele lugar e tão próximo do homem que ganha o impulso para regressar em palavras . Mais tarde no outro lado da mesma vida, os ouvidos do coração destinatário ouvem aquelas palavras, lidas por alguém que saiba lê-las e escreva a carta de resposta ditada como prova de vida e de reconhecimento: - Espero que esta carta te vá encontrar de perfeita saúde que eu vou bem graças a Deus. Gostei muito de saber que estás vivo na grande cidade. Fico cheia de saudades e espero vir a receber notícias na volta do correio.
Com dez milhões de analfabetos, o grande Brasil é atravessado por multidões de deambulantes que, ao procurar terra e trabalho, deixam atrás de si não mais do que as memórias frágeis que se vão desbotando. A mulher que recebe a carta do homem que lhe escreve com as mãos de outro lembra uma boca outra atropelando palavras que não são aquelas que uma carta ditada pode transportar.
No drama filmado, ao lado do engraxador da estação central, a personagem interpretada por Fernanda Montenegro ouvia e escrevia as cartas. Nos envelopes, remetente ou destinatário eram não mais do que um gesto na encenação das grandeza e franqueza humanas. O serviço, que a notícia de hoje nos mostra, talvez tenha sido criado sobre a vida de que o belo e terrível filme não é mais que retrato retocado a sépia. O serviço garante a interpretação do jacto das palavras ditadas e a sua abençoada traição em carta, os envios para endereços fiáveis. E fornece um endereço para as respostas que serão procuradas por quem não habita outra casa além de um canto na estação central. E promete que ensina a ler e a escrever a quem assim o quiser.
Sobre um fundo de barulho da estação, fica gravada a torrente da voz do homem que dita as cartas. A multidão de vozes protege a intimidade da carta ditada a uma só voz.
Nenhuma outra notícia pode sobrepor-se a essa torrente de voz que salta entre vida e filme e vida (de novo filme), subindo os degraus do andaime que montámos para nos restaurar e à esperança arranha-céus.
[o aveiro, 19/06/2003]
Arsélio Martins
Vê-se uma cúpula de luz. E ouve-se a multidão dos sons indistintos que ocupam uma grande estação de comboios ou autocarros. A câmara acaba por se fixar numa cara tisnada e cortada por rugas profundas e nas palavras que a boca desdentada solta desordenadamente para o ar. Percebe-se saúde e saudade. Um ligeiro movimento da câmara e aparece-nos um balcão e um computador. Depois um teclado e duas mãos finas espalham os seus dedos ágeis pelas letras. A imagem fixada momentos depois é de uma cara de jovem fardada para a circunstância do seu serviço. Ficamos a saber o que está a acontecer. Naquele ponto de chegadas e partidas, o homem analfabeto dita a sua carta desordenada para a jovem que a organiza para ser impressa e enviada para um destinatário tão longínquo daquele lugar e tão próximo do homem que ganha o impulso para regressar em palavras . Mais tarde no outro lado da mesma vida, os ouvidos do coração destinatário ouvem aquelas palavras, lidas por alguém que saiba lê-las e escreva a carta de resposta ditada como prova de vida e de reconhecimento: - Espero que esta carta te vá encontrar de perfeita saúde que eu vou bem graças a Deus. Gostei muito de saber que estás vivo na grande cidade. Fico cheia de saudades e espero vir a receber notícias na volta do correio.
Com dez milhões de analfabetos, o grande Brasil é atravessado por multidões de deambulantes que, ao procurar terra e trabalho, deixam atrás de si não mais do que as memórias frágeis que se vão desbotando. A mulher que recebe a carta do homem que lhe escreve com as mãos de outro lembra uma boca outra atropelando palavras que não são aquelas que uma carta ditada pode transportar.
No drama filmado, ao lado do engraxador da estação central, a personagem interpretada por Fernanda Montenegro ouvia e escrevia as cartas. Nos envelopes, remetente ou destinatário eram não mais do que um gesto na encenação das grandeza e franqueza humanas. O serviço, que a notícia de hoje nos mostra, talvez tenha sido criado sobre a vida de que o belo e terrível filme não é mais que retrato retocado a sépia. O serviço garante a interpretação do jacto das palavras ditadas e a sua abençoada traição em carta, os envios para endereços fiáveis. E fornece um endereço para as respostas que serão procuradas por quem não habita outra casa além de um canto na estação central. E promete que ensina a ler e a escrever a quem assim o quiser.
Sobre um fundo de barulho da estação, fica gravada a torrente da voz do homem que dita as cartas. A multidão de vozes protege a intimidade da carta ditada a uma só voz.
Nenhuma outra notícia pode sobrepor-se a essa torrente de voz que salta entre vida e filme e vida (de novo filme), subindo os degraus do andaime que montámos para nos restaurar e à esperança arranha-céus.
[o aveiro, 19/06/2003]
O singular abandono do plural.
Arsélio Martins
Em dois momentos distintos da semana que passou senti um mesmo tipo de desconforto.
1. Ouvia dois políticos ou comentadores que falavam sobre justiça, como se vivessem em mundos distintos. Ambos garantiam a sua confiança na justiça e, em particular, na seriedade de cada um dos juízes no acto de julgar cada caso. Ambos consideravam que, na base da lei, das provas e das argumentações das acusação e defesa de cada caso em julgado, era possível e acontecia que os juízes agissem sem intenção maliciosa e sem atender ao estatuto social dos julgados. Mas um dos comentadores argumentava que, apesar dessa singular independência de cada juíz, a justiça era desigual para pobres e ricos. Bastava para isso saber que os meios de defesa se pagam e que isso não pode ser escondido por haver acesso a um advogado oficioso. Nem aludia às estatísticas que mostram que a maioria dos presos são provenientes das classes desfavorecidas. Até podemos ser todos iguais perante a lei e, pelo simples facto de haver muito mais pobres que ricos, mais pobres do que ricos apodrecem nas prisões. Os pobres são a imensa maioria e os ricos são uma imensa minoria? Aceitamos que a desigualdade não está só na justiça? Haver ainda quem negue que há pobres e fracos perante a justiça… acrescenta cegueira e mordaça aos olhos vendados em cada acto de julgar o que pode ser só o que parece..
2. Participava num seminário sobre o abandono escolar aqui mesmo em Aveiro. Espero que a nossa autarquia tenha dado um primeiro passo na compreensão do fenómeno para o tentar travar. Todos podem vir à escola e esta, ou cada um dos agentes educativos, trata todos de igual modo – diz-se. Então o abandono é de um só tipo e é alguma coisa tão independente das classes sociais como pensamos que a escola o é. Não é assim que pensamos. De facto, as diversas camadas sociais tomam lugares diferentes na grelha de partida, conduzem carros radicalmente diferentes e nem as metas que perseguem são as mesmas. Também aqui de nada nos valem as estatísticas. De facto, podemos sempre pensar que há mais pobres iletrados pelo simples facto de haver mais pobres que ricos. O problema é afinal sempre o mesmo? Mas todos aceitamos como certa a necessidade da escola e do que ela pode proporcionar. Só temos dificuldade em gerir as definições nacional e local sobre a escola dos “precisos” para o exercício limpo da cidadania, sendo que o abandono vem sempre da nesga de desacerto entre os “precisos” individuais e sociais a prazo e o que cada indivíduo quer no exacto instante em que está na escola querendo estar noutro lado. Quem é que não confia no futuro que consta das promessas? Também me pareceu ouvir intervenções seguidas em que cada uma delas finge a inexistência do mundo da outra.
3. Certo, certo é que tanto na justiça como na escola para todos não nos sossega baixarmos a percentagem de erros e de abandonos, porque o que queremos é um mundo sem vítimas e… para descalabro basta-nos uma só que seja. Cada comunidade precisa de conhecer as suas vítimas pelos nomes e apelidos para acompanhar os seus processos e, quem nos dera!, fazer com eles o caminho de regresso à casa comum.
4. Enquanto não houver casa comum, esforçamo-nos por alguma causa comum.
Arsélio Martins
Em dois momentos distintos da semana que passou senti um mesmo tipo de desconforto.
1. Ouvia dois políticos ou comentadores que falavam sobre justiça, como se vivessem em mundos distintos. Ambos garantiam a sua confiança na justiça e, em particular, na seriedade de cada um dos juízes no acto de julgar cada caso. Ambos consideravam que, na base da lei, das provas e das argumentações das acusação e defesa de cada caso em julgado, era possível e acontecia que os juízes agissem sem intenção maliciosa e sem atender ao estatuto social dos julgados. Mas um dos comentadores argumentava que, apesar dessa singular independência de cada juíz, a justiça era desigual para pobres e ricos. Bastava para isso saber que os meios de defesa se pagam e que isso não pode ser escondido por haver acesso a um advogado oficioso. Nem aludia às estatísticas que mostram que a maioria dos presos são provenientes das classes desfavorecidas. Até podemos ser todos iguais perante a lei e, pelo simples facto de haver muito mais pobres que ricos, mais pobres do que ricos apodrecem nas prisões. Os pobres são a imensa maioria e os ricos são uma imensa minoria? Aceitamos que a desigualdade não está só na justiça? Haver ainda quem negue que há pobres e fracos perante a justiça… acrescenta cegueira e mordaça aos olhos vendados em cada acto de julgar o que pode ser só o que parece..
2. Participava num seminário sobre o abandono escolar aqui mesmo em Aveiro. Espero que a nossa autarquia tenha dado um primeiro passo na compreensão do fenómeno para o tentar travar. Todos podem vir à escola e esta, ou cada um dos agentes educativos, trata todos de igual modo – diz-se. Então o abandono é de um só tipo e é alguma coisa tão independente das classes sociais como pensamos que a escola o é. Não é assim que pensamos. De facto, as diversas camadas sociais tomam lugares diferentes na grelha de partida, conduzem carros radicalmente diferentes e nem as metas que perseguem são as mesmas. Também aqui de nada nos valem as estatísticas. De facto, podemos sempre pensar que há mais pobres iletrados pelo simples facto de haver mais pobres que ricos. O problema é afinal sempre o mesmo? Mas todos aceitamos como certa a necessidade da escola e do que ela pode proporcionar. Só temos dificuldade em gerir as definições nacional e local sobre a escola dos “precisos” para o exercício limpo da cidadania, sendo que o abandono vem sempre da nesga de desacerto entre os “precisos” individuais e sociais a prazo e o que cada indivíduo quer no exacto instante em que está na escola querendo estar noutro lado. Quem é que não confia no futuro que consta das promessas? Também me pareceu ouvir intervenções seguidas em que cada uma delas finge a inexistência do mundo da outra.
3. Certo, certo é que tanto na justiça como na escola para todos não nos sossega baixarmos a percentagem de erros e de abandonos, porque o que queremos é um mundo sem vítimas e… para descalabro basta-nos uma só que seja. Cada comunidade precisa de conhecer as suas vítimas pelos nomes e apelidos para acompanhar os seus processos e, quem nos dera!, fazer com eles o caminho de regresso à casa comum.
4. Enquanto não houver casa comum, esforçamo-nos por alguma causa comum.
Para onde vai o grupo dos 8…
Arsélio Martins
O grupo dos 8 governos dos países mais ricos do mundo tinha o hábito de se reunir aqui e ali para discutir a estratégia dos 8 para o governo global do mundo. Eles acertavam as agulhas para questões, como as da energia e da distribuição de interesses na produção e no comércio mundial, e resolviam algumas das suas divergências. Assim aconteceu mais uma vez na recente reunião de Évian (França). Tiraram-se fotografias de Chirac com a mão no ombro de Bush e anunciaram-se os convites para os churrascos texanos.
Só que de há uns anos a esta parte, o movimento pela globalização alternativa acompanha a agenda das reuniões dos grandes. E lá se foi a tranquilidade. Até há poucos anos, países ou cidades ansiavam por ser anfitriões dos 8. Os movimentos anti-globalização ou pela globalização alternativa estão a criar tantas perturbações e tão graves que as cidades vizinhas das reuniões querem ver-se longe dos 8. Pelo menos, as cidades que precisam da livre circulação das pessoas ficam a braços com movimentos que as polícias do mundo civilizado (?) não conseguem controlar. Ironias.
Ironia maior vem de um país rico, como o Brasil, que combina a maior riqueza de uns poucos com a maior pobreza da imensa maioria, ter eleito para presidente um da multidão da globalização alternativa. Enquanto Bush se propõe financiar programas de investigação sobre a sida para vender os resultados comprimidos, Lula da Silva pede um fundo mundial para o combate à fome e diz que o dinheiro deve vir de imposto sobre a indústria e o comércio das armas. Lula sabe que não há resolução de qualquer problema global, incluindo o da sida, sem travar a miséria real da imensa maioria da população do mundo, e que isso não pode ser feito com “ajuda alimentar”, mas com desenvolvimento sustentado das regiões deprimidas.
No rescaldo da guerra, com as Nações Unidas a caucionar o facto consumado da guerra e a ocupação ilegítima por parte dos países agressores, os grandes reúnem-se para se alinharem na distribuição dos despojos e do saque. E conseguem-no em parte. Só em parte, porque as opiniões públicas e as oposições dos Estados Unidos e da Inglaterra começam a cheirar a verdade que sempre transpirou. Nas suas terras, para as suas gentes, Bush e Blair têm de responder sobre a mentira da ameaça das armas de destruição que não existiam.
Para onde vai o grupo dos 8, vai o mundo. Uma multidão humana de milhares e milhares de pessoas com milhões de perguntas e propostas e uma infinidade de ideias, estas últimas definitivamente impossíveis de controlar. Onde é a próxima reunião dos 8? Não, no meu quintal! - diz quem recusa a lixeira.
[o aveiro, 5/6/2003]
Arsélio Martins
O grupo dos 8 governos dos países mais ricos do mundo tinha o hábito de se reunir aqui e ali para discutir a estratégia dos 8 para o governo global do mundo. Eles acertavam as agulhas para questões, como as da energia e da distribuição de interesses na produção e no comércio mundial, e resolviam algumas das suas divergências. Assim aconteceu mais uma vez na recente reunião de Évian (França). Tiraram-se fotografias de Chirac com a mão no ombro de Bush e anunciaram-se os convites para os churrascos texanos.
Só que de há uns anos a esta parte, o movimento pela globalização alternativa acompanha a agenda das reuniões dos grandes. E lá se foi a tranquilidade. Até há poucos anos, países ou cidades ansiavam por ser anfitriões dos 8. Os movimentos anti-globalização ou pela globalização alternativa estão a criar tantas perturbações e tão graves que as cidades vizinhas das reuniões querem ver-se longe dos 8. Pelo menos, as cidades que precisam da livre circulação das pessoas ficam a braços com movimentos que as polícias do mundo civilizado (?) não conseguem controlar. Ironias.
Ironia maior vem de um país rico, como o Brasil, que combina a maior riqueza de uns poucos com a maior pobreza da imensa maioria, ter eleito para presidente um da multidão da globalização alternativa. Enquanto Bush se propõe financiar programas de investigação sobre a sida para vender os resultados comprimidos, Lula da Silva pede um fundo mundial para o combate à fome e diz que o dinheiro deve vir de imposto sobre a indústria e o comércio das armas. Lula sabe que não há resolução de qualquer problema global, incluindo o da sida, sem travar a miséria real da imensa maioria da população do mundo, e que isso não pode ser feito com “ajuda alimentar”, mas com desenvolvimento sustentado das regiões deprimidas.
No rescaldo da guerra, com as Nações Unidas a caucionar o facto consumado da guerra e a ocupação ilegítima por parte dos países agressores, os grandes reúnem-se para se alinharem na distribuição dos despojos e do saque. E conseguem-no em parte. Só em parte, porque as opiniões públicas e as oposições dos Estados Unidos e da Inglaterra começam a cheirar a verdade que sempre transpirou. Nas suas terras, para as suas gentes, Bush e Blair têm de responder sobre a mentira da ameaça das armas de destruição que não existiam.
Para onde vai o grupo dos 8, vai o mundo. Uma multidão humana de milhares e milhares de pessoas com milhões de perguntas e propostas e uma infinidade de ideias, estas últimas definitivamente impossíveis de controlar. Onde é a próxima reunião dos 8? Não, no meu quintal! - diz quem recusa a lixeira.
[o aveiro, 5/6/2003]
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