nogueira da regedoura.
agosto de 2005
A circunstância da riqueza
Dizem isso para apoiar todas as iniciativas guerreiras, em apoio de todas as cruzadas ocidentais. Mas dizem-no também para te justificar como fortaleza de fronteiras fechadas, para acabar com a livre circulação de pessoas e bens cá dentro e de fora para dentro da Europa, para justificar as acções agressivas das polícias nacionais contra os suspeitos do costume que são aqueles que não usam os nossos costumes. Dizem à Europa civilizada que não pode ser multi-cultural e multi-racial. À Europa tolerante dizem que ela é a Europa dos cobardes sem princípios e sem fé própria.
E apontam como exemplos morais a seguir os Estados Unidos da América em que a religião tem lugar até nas notas de dólar e é utilizada, pelo seu presidente, como razão de estado para aplicar castigos ou prosseguir guerras e agressões ao arrepio do direito internacional. Acabam por encontrar uma razão de direito para todas as agressões na miséria da diplomacia de blocos que acaba por levar todos os governos a participar do esforço da reconstrução, mesmo daqueles que estiveram contra a destruição do que é preciso reconstruir. No rescaldo dos actos terroristas que afectam a Europa, ganham relevo as opiniões que vão no sentido do regresso às cruzadas. Os directores de grandes jornais e de grandes grupos de comunicação ligados a grandes grupos escrevem as opiniões mais radicais.
A fé destas novas cruzadas é transversal a todas as religiões e ideologias. Eles recomendam, entre outros, como exemplos a seguir, as emergentes potências industriais e comerciais asiáticas (a China, por exemplo), e estas baseiam todo o desenvolvimento industrial e a acumulação capitalista no desrespeito dos direitos humanos, na repressão e exploração da força de trabalho.
A fé comum aos teóricos da agressão sistemática não está em uma qualquer religião ou na democracia para os povos - reside mesmo na violação do direito nacional e internacional, na violação dos direitos humanos. Na exploração competitiva. Na circunstância. Na oportunidade.
Já devíamos ter juízo de tão velhos que somos. Os patrões desta comunicação guerreira estão a fazer a sua guerra em todo o mundo. Não há fronteiras para as suas companhias de pilhagem de recursos, sejam eles matérias primas ou trabalhadores humanos. Nunca o lucro foi tão grande e tão globalmente baseado na instabilidade.
[o aveiro; 25/08/2005]
A riqueza das nações? Já não há coisa alguma que mereça esse nome.
publicação na escrivaninha
Aproveite para dar um salto à escrivaninha e ver/ler carlos frazão ou descarregá-lo para ler depois. E...
Deixa a febre consumir as horas, os sentidos convocados pelo fluxo das amplas artérias. Deixa o desejo descer à face seduzida do meu olhar divino
Também pode ler na escrivaninha alguns poemas do médico cantautor de Abril, Vieira da Silva, que se candidata a Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo. Gosto do poeta que arregaça mangas e dá cara às ideias. Poeta a presidente, pois claro!
Não há fumo sem fogo
A televisão serve também para nos mostrar a luta dos bombeiros, voluntários na sua imensa maioria, contra os fogos de verão. Os bombeiros são duplamente vítimas da incúria nacional. Queremos que os bombeiros existam e bem treinados para não serem precisos nem usados na realidade quotidiana. Dito de outro modo, os bombeiros deviam ser recursos bem equipados para a excepção. Ora estes dias do verão português são todos de excepção, os bombeiros passaram a ser usados pela realidade de todos os dias e duvidamos que as comunidades e o governo da nação tenham tratado de os recrutar, treinar e equipar para este regime quotidiano que não é o seu por não ser conforme ao voluntariado simples. Vimos os filmes dos acontecimentos e o cortejo das tragédias (incluindo casas destruídas e mortes de bombeiros) e ficamos sem compreender o mundo em que vivemos.
Apesar das televisionadas provas diárias de anarquia na limpeza da floresta e das suas margens e da limpeza em geral, bem como o agravamento dos factores incendiários(incluindo a divulgação intensiva dos filmes dos acontecimentos), ouvimos muitos argumentos a favor da tese de que a maioria dos fogos são de origem criminosa e que isso só pode combater-se pelo recurso a maior severidade nas medidas penais contra os criminosos. Ouvi mesmo argumentos a favor da pena de morte por alguém que lamentava haver um paiol ali perto cercado por intocáveis vizinhos matos secos prontos a serem ateados pelo incêndio em marcha.
Este é um paiol de ideias explosivas. Precisamos de um contra-fogo...
[o aveiro; 18/8/2005]
a lista exaustiva
Para mim, não tem qualquer sentido distinguir em competentes e incompetentes os nomeados pela direcção do partido do governo para cargos ou funções na administração pública (central, regional e local), nas empresas públicas ou em outras instituições dependentes do estado. Para mim, a competência técnica pode ser exercida com salvaguarda do exercício das instituições e das empresas ainda que no cumprimento de políticas diversas. A autonomia dos gestores relativamente aos partidos no poder seria garantia de que a opinião pública saberia das intromissões abusivas ou contra os fins estatuídos. A confiança política não pode sobrepor-se à honra das pessoas, à necessidade da competência para o exercício como não pode substituir-se à responsável prestação de contas pelos agentes que só o podem ser se puderem cumprir planos sem estarem sujeitos aos humores rasteiros do governo. A actual dança das nomeações e indemnizações são da mesma natureza das que foram feitas por outros governos, mas o que soubemos a mais sobre a prática do governo de portasantanetes continuada socraticamente comprova que a degradação moral dos coveiros do regime ultrapassa a nossa imaginação. E o pior é que esta dança se faz entre o público e o privado, o que nos diz que a nível das administrações, os administradores rodam entre o privado e público o que é pouco saudável para todas as partes.
Não acredito que em Portugal não haja pessoas formadas, responsáveis e competentes para compor administrações das empresas públicas e privadas. A conversar sobre o que sabemos, fazemos uma lista exaustiva dos gestores privados e públicos, conhecendo-os dos partidos do poder, das festas de verão, das revistas cor de rosa ou laranja. E é aqui que chegamos a um acordo de pasmados!
Pobre país em que os gestores constam de lista exaustiva que anda na boca do povo.
[o aveiro; 11/09/2005]
Ardem las pérdidas
Pesan las piedras em mis ojos: alguien
me destruye o me ama.
[Antonio Gamoneda]
danças de verão
Nós sabemos que as nomeações de administradores do que quer que seja público não segue quaisquer critérios de competência e é antes uma distribuição de prémios entre políticos que se compram e se vendem no mercado. A nomeação de uma advogada para administradora da Caixa depois de ter sido Sinistra da Justiça não causa espanto a um único português e isso há-de ter uma explicação. Do mesmo modo, a nomeação seguida de desnomeação de administrador da Caixa de um antigo Sinistro da Indústria é coisa da ordem da vulgaridade portuguesa, mesmo que a desnomeação signifique uma reforma milionária. Tornaram-se vulgares as reformas e indemnizações milionárias que são pagas mesmo quando os gestores são dispensados de arruinar uma coisa pública por terem sido recrutados para arruinar outra igualmente pública.
Nós sabemos que o anterior governo usou o banco nacional para distribuir currículos e ordenados de administradores a alguns dos mais feios testas de ferro dos partidos apoiantes, tendo despedido os igualmente feios administradores da batota do anterior governo.
Novidades nesta dança de cadeiras da administração da Caixa? Terem acrescentado mentira à mentira? Dizem eles que diminuíram o número de administradores sabendo eles que nós sabemos que, no que a pagamentos diz respeito, o banco do povo vai pagar e bem a todos os que estavam e ainda mais aos que passam a estar. E não sabemos a quanto monta a indemnização aos que saem. Pode ser que ainda venhamos a saber, louvada seja a democracia por nos permitir ao menos saber o montante do rombo (para não dizer o montante do roubo). Novidade é também o reaparecimento daquele sinistro do tempo de Guterres (colega do Sócrates) que ficou embrulhado em engenharia de fundações por onde escorriam dinheiros do estado sem regra nem roque. Deve ter hibernado numa aceitável prateleira do centrão (na caixa do estado, portanto). Estava a ver que nunca mais aparecia a cobrar pela bitola máxima os serviços prestados ao consulado guterrista pré-socrático!
O Marques Mendes denuncia esta dança como saneamento político. Com toda a razão! Não é espantoso este nosso eleito Marques Mendes? Perspicaz! A minha mãe acrescentaria: E sem vergonha naquela fronha!
[o aveiro; 4/8/2005]
Para onde vais?
Há vida para além da máquina? Se voltar... direi se há. Se não há, não volto. Não é?
Animal doméstico
Há quem não tenha cuidado algum com os seus animais domésticos e os abandone de qualquer modo. Nos últimos dias, recebi vários apelos a respeito de animais abandonados, quase todos cães, um ou outro gato. A associação "Animal" fez uma campanha com cartas à Administração Interna e a um Presidente da Câmara a protestar contra o abandono de muitos animais domésticos (ou não domésticos? em cativeiro?) numa vivenda. Não recebi notícia de abandono ou morticínio de animais de outras classes e espécies que são, como eu, mais ou menos domésticos (no sentido de que nos acompanham todos os dias) e não sei se isso é sorte deles.
Neste tempo de férias, eu sinto-me o animal doméstico que foi abandonado por quase todos no seu quadrado. Estou a a pensar até em mudar de nome para Arsélio Alegre.
a chave
não se abrem portas
ao topo das escadas
mas eu quero trepar
não pensar: trepar
até às portas do céu
a chave que as abre
não é uma palavra
como o desejo não é.
O mau tempo que se faz sentir.
Muito mau tempo. Muito mau mesmo. Até me custa escrever, mas... ardentemente espero uma nesga de bom tempo que para mim é, só pode ser, tempo fresco e molhado. Para apagar velhos incêndios e evitar novos incêndios, para arrefecer ânimos, para estragar a estação tola da espuma das cervejas e das ondas neste ano doente, para nos devolver a esperança da água doce e fresca.
É por isso que eu não consigo compreender os meteorologistas e locutores da televisão que, apesar dos incêndios e da falta de água para beber, para a agricultura e pecuária e de outros tremendos dramas que o calor dilata, chamam bom tempo a este tempo de calor e mau tempo a qualquer arrefecimento ou ameaça de chuvisco. E quando, como aconteceu hoje, tendo de falar da possibilidade de aguaceiros, falam de possíveis melhorias só lá para quinta feira com ar de quem lamenta a curta interrupção no inferno em que vivemos.
Onde é que vivem estes tipos que falam deste calor doente como sendo bom tempo? Não vivem no mesmo país que eu. Vivem com gosto na tripa de areia e betão que não está a arder, numa foz para onde corre a água das nascentes do país da seca.
Dou comigo a rezar por bom tempo - fresco e molhado em todo o país. Se Deus for grande, e quiser agradar a todos os gregos e troianos, que distribua bençãos agradáveis a todos. Pode deixar cair sol inclemente na eira deste hospital psiquiátrico do bronze, melanomas e afins. E deixar cair a água onde ela é precisa para apagar incêndios, para nos regenerar e repor a água necessária à vida.
Até porque suspeito que nesta terra de bueiros entupidos pelas folhas e pelo bom tempo, muita chuva dá inundação. Deus nos livre e guarde, já que a câmara pode estar entupida até não ver.
[o aveiro; 28/07/2005]
desde a radiografia
Agora, de novo, por ter visto o seu esqueleto, o mesmo amigo dedicou às minhas mãos alguns versos que não resisto a tornar públicos:
observamos radiogramas em incidências
de face
e oblíquas.
a nível das articulações
carpo-metacárpica do primeiro
dedo de ambas as mãos
e interfalângicas distais vemos
fina
osteofitose no rebordo das superfícies
arrticulares, compatível com alterações
de osteoartrite.
alterações de idêntica etiologia estão
presentes a nível da articulação
interfalângica proximal
do quinto dedo
da mão esquerda.
quantas pedras?
como colar de contas a prestar
e, sem ninguém para te empurrar,
desceres até ao fundo do teu poço?
sob o piscar dos olhos
olhando-a me parece que ela não dorme.
Será que por ser cega lhe cresce a fome?
Como posso eu não piscar os olhos enquanto me desvio
se fascinado sinto o bater da asa do seu desejo como arrepio?
A correr fujo de medo. Mais alto que o seu agoirento pio
solto dos velhos pulmões o último fôlego ... num assobio.
Má Nota de Si. Dá Dó!
O que fazem os instantâneos detentores do poder político quando não podem esconder por mais tempo um problema que não se resolveu com o tempo e ameaça espalhar-se como doença que tudo decompõe? Cobrem-no de cores ainda mais mórbidas, pegam nele com ar de nojo, atribuem-no aos instantâneos do passado e, sem olhar a meios e ao que foi feito para combater a doença, apresentam um novo estudo, um novo projecto, uma nova comissão,..., e ao céu e à terra garantem a mudança necessária. E constrói-se o milagre das aparições, em horário nobre, de salvadores especialistas do que é preciso fazer para as almas do futuro. Passados uns anos, a história repete-se e, em vez de olharmos para o que se fez e para as consequências das decisões anteriores, damos connosco a ver a televisão repetir a mesma farsa com novas (?) caras.
Entretanto, a doença alastra e os novos instantâneos (não serão sempre os mesmos?) podem esbanjar ainda mais meios em novos estudos, projectos, comissões,..., mudanças. E é assim que, sem cumprir qualquer programa no tempo de uma geração, aparecemos aos olhos dos estranhos como os fantásticos proprietários de ideias sempre actualizadas, leis mais avançadas, inovadores projectos, etc.
Há também quem tome cada projecto experimental localizado pelo que está acontecer na realidade e lhe atribua o fracasso geral para exigir outros meios para novo projecto. Com a espuma de um mar de experiências, que nunca passam disso, gastam-se os meios de que a realidade ou a natureza precisam para as suas transformação e recomposição.
É certo que experiências e projectos nos servem de guia. Mais certo é que precisamos da persistência e perseverança nas práticas decentes, em prazos longos, para saborearmos resultados verdadeiros. Em educação, mais do que em tudo o resto. E é principalmente na educação e ensino que os ciclos curtos de maluqueira acabam por substituir a mudança por coisa nenhuma e permitem a persistência de "velha(ca)rias" nas práticas sociais (da docência, por exemplo) com seculares maus resultados.
2.
Os maus resultados da Matemática (tanto nos exames do 9º ano, como nos exames do 12º ano ou nos estudos internacionais) têm servido para confirmar aquela tese. Ainda não tinham entrado em vigor novos programas e tudo estava como dantes e as novas comissões criadas para a tragédia atribuíam aos programas (que talvez fossem entrar em vigor) a responsabilidade dos maus resultados. Fizeram isso ainda há pouco tempo e obtiveram tal sucesso que os programas pensados para umas condições foram postos a funcionar noutras.
Mesmo assim, apesar de não ter sido cumprido qualquer ciclo sobre esses programas... voltamos a ver a cena. No básico e no secundário. E não é só o governo (velho, novo ou que há-de vir). Não! São especialistas diversos que aí estão para garantir que um novo projecto vai nascer sobre as cinzas de um passado a queimar. Só que não queimam o passado passado. Queimam o que ainda mal passou de papel, de que - garanto-vos eu! - está a ser esboçado em múltiplas adaptações de papel.
Os conteúdos de ensino da Matemática não mudam há dezenas de anos. Mas isso não inibe um professor ou um responsável de afirmar que o programa de papel passado está tão cheio de indecisão nos conteúdos que não se sabe onde e quando se ensina isto ou aquilo.
Passamos a vida a estudar e a escrever papéis... que alguém há-de queimar como se eles fossem realidade social para além de papéis. Escrevem-se novos papéis, tanto para incendiar a floresta como para que fique na mesma o essencial da realidade do ensino. Costumo falar da nesga do meu tempo, como quem fala de uma dobra do tempo. Um saudável pessimismo está a atirar-me para os braços da melhor designação que é "falha" no tempo.
3.
No país-piloto da civilização, a época de exames coincide com a época de fogos. Tanto os exames como os fogos se combatem com trabalho planeado e persistente e não com o espectáculo dos projectos efémeros. De cima chovem maus exemplos quando nós precisávamos de água verdadeira. Não há milagres verdadeiros!
Má nota de si dá dó!
[a página da educação; agosto de 2005]
Mandaram-me este recado
Alberto João Jardim não é inimputável, não é um jumento que zurra desabrido, não é um matóide inculpável, um oligofrénico, uma asneira em forma de humanóide, um erro hilariante da natureza.
Alberto João Jardim é um infame sem remissão, e o poder absoluto de que dispõe faz com que proceda como um canalha, a merecer adequado correctivo.
Em tempos, já assim alguém o fez. Recordemos. Nos finais da década de 70, invectivando contra o Conselho da Revolução, Jardim proclamou: «Os militares já não são o que eram. Os militares efeminaram-se». O comandante do Regimento de Infantaria da Madeira, coronel Lacerda, envergou a farda número um, e pediu audiência ao presidente da Região Autónoma da Madeira. Logo-assim, Lacerda aproximou-se dele e pespegou-lhe um par de estalos na cara. Lamuriou-se, o homenzinho, ao Conselho da Revolução. Vasco Lourenço mandou arrecadar a queixa com um seco: «Arquive-se na casa de banho».
A objurgatória contra chineses e indianos corresponde aos parâmetros ideológicos dos fascistas. E um fascista acondiciona o estofo de um canalha. Não há que sair das definições. Perante os factos, as tímidas rebatidas ao que ele disse pertencem aos domínios das amenidades. Jardim tem insultado Presidentes da República, primeiros-ministros, representantes da República na ilha, ministros e outros altos dignitários da nação. Ninguém lhe aplica o Código Penal e os processos decorrentes de, amiúde, ele tripudiar sobre a Constituição. Os barões do PSD babam-se, os do PS balbuciam frivolidades, os do CDS estremecem, o PCP não utiliza os meios legais, disponentes em assuntos deste jaez e estilo. Desculpam-no com a frioleira de que não está sóbrio. Nunca está sóbrio?
O espantoso de isto tudo é que muitos daqueles pelo Jardim periodicamente insultados, injuriados e caluniados apertam-lhe a mão, por exemplo, nas reuniões do Conselho de Estado. Temem-no, esta é a verdade. De contrário, o que ele tem dito, feito e cometido não ficaria sem a punição que a natureza sórdida dos factos exige. Velada ou declaradamente, costuma ameaçar com a secessão da ilha. Vicente Jorge Silva já o escreveu: que se faça um referendo, ver-se-á quem perde.
A vergonha que nos atinge não o envolve porque o homenzinho é o que é: um despudorado, um sem-vergonha da pior espécie. A cobardia do silêncio cúmplice atingiu níveis inimagináveis. Não pertenço a esse grupo.
Baptista Bastos
b.bastos@netcabo.pt
Má nota
Estes resultados negativos são consistentes com os resultados das provas de aferição e com as prestações dos estudantes portugueses nas provas internacionais.
Estes resultados revelam que a escola pública (e a privada também) está a falhar. Se acreditarmos no que se diz sobre as explicações e a sua generalização a uma grande parte dos estudantes, o falhanço é ainda mais dramático. Aparentemente, as famílias estão a gastar o que têm e o que não têm, aceitando que os jovens não trabalhem na escola e pagando mais falta de trabalho fora da escola.
Temos de saber que, para lá de todas as razões, há falta de disciplina e de trabalho dos estudantes e das famílias que mobilizam pouco os recursos disponíveis tanto quanto nos é dado ver no dia a dia das escolas. Tanto quanto nos é dado imaginar pelas reacções aos resultados dos estudantes e da comunidade em geral. Há uma certa displicência nacional inaceitável.
Temos de saber. Temos de discutir para evitar que todas as apreciações da situação apareçam derrotadas e sem sentido por atribuirmos todas as falhas a uma mutante entidade abstracta que muda com os governos que mudam as políticas. Temos de saber que o problema da educação é um problema nosso e que nos cabe a nós todos a responsabilidade de fazermos diferente, impondo disciplina e trabalho constantes que se sobreponham a políticos e políticas inconstantes e à indisciplina que o aparelho deste estado está a criar. [Afinal temos de fazer as pequenas revoluções opostas às reformas desta união nacional de multireformados palradores. Sabemos hoje de que é que eles falam quando falam de impulsos reformistas e da inevitabilidade das reformas da sociedade. Falam das suas reformas antecipadas e da sociedade anónima em que transformaram o país, como o mau exemplo... a não seguir.]
Temos de saber que nos podemos salvar. Opondo trabalho persistente à tralha arranjista e negocista. Podemos passar nos exames trabalhando. Podemos exigir de nós e das escolas. Podemos contar connosco. Nada de conformismos! Quem precisa de mais explicações? Não vale a pena dar mais explicações para tão maus resultados.
[o aveiro; 21/07/2005]
o dia sumário
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Nenhum de nós sabe quanto custa um abraço. Com gosto, pagamos todos os abraços solidários sem contarmos os tostões. Não regateamos o preço d...
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eu bem me disse que estava a ser parvo por pensar que só com os meus dentes chegavam para morder até o futuro e n...