DN, Fernanda Câncio: as mulheres não choram
Esta semana, Passos foi objeto de capa de uma revista dita cor-de-rosa, a qual anunciava "uma investigação" sobre o seu primeiro casamento, titulando: "O Pedro é que fazia tudo em casa e tratava das filhas." À partida, esta revelação (verdadeira ou falsa pouco importa) pode parecer contraditória com o que o mesmo Passos disse esta semana para justificar a proposta da coligação de majorar a pensão das mulheres com base no número da prole: "As mulheres é que têm filhos." Não é. O que a capa da revista diz é que Passos, coitado, teve de tomar conta das crianças (ser pai, portanto) porque a mulher não fazia o seu papel; alguma vez se faria capa com uma mulher que toma conta dos filhos? Claro que não, como também esta semana explicou Portas: "As mulheres sabem que têm de organizar a casa e pagar as contas a dias certos, pensar nos mais velhos e cuidar dos mais novos." As mulheres sabem o seu lugar, acham Portas e Passos. E se não souberem, eles lembram.
E aparentemente, pelo menos no que aos seus partidos e área política respeita, têm razão. É certo que temos hoje mulheres em lugares onde nunca as tínhamos tido - uma presidente da Assembleia da República, uma procuradora-geral da República, uma ministra da Administração Interna, uma secretária de Estado da Defesa. E uma ministra das Finanças (a segunda da democracia) todo-poderosa, terceira figura do governo que não raro parece a primeira. Isso é bom: é bom ter mulheres em altos lugares de representação. Mas para representar o quê, se quando um PM e seu vice reduzem a mulher ao estereótipo de fada do lar e parideira nem um ai se ouve das supostas poderosas?
"Quando andávamos na faculdade, eu a Maria Luís [a ministra das Finanças] costumávamos dizer uma à outra: "Uma mulher não chora"." A frase é da dirigente do PSD Teresa Leal Coelho, apontada como pertencendo ao círculo mais próximo de Passos, numa reportagem sobre feminismo publicada há um ano no DN. Assumindo-se como feminista e permitindo concluir que a colega de faculdade Maria Luís também o será, Leal Coelho prosseguia: "Tem de haver uma militância muito ativa. Não podemos deixar passar nada, nenhum preconceito discriminatório sobre a matéria. Nestes três anos em que estive no Parlamento, ouvi muitas vezes "lá vem a conversa das mulheres". Ora isto não é "uma conversa de mulheres", é de civilização. Mas há sempre esta pressão, "cala-te". Quando defendemos estas questões de uma forma mais assertiva surgem logo as qualificações de "histérica", "desequilibrada", "obcecada". Quando não é pior. As mentalidades só se alteram com chatas." Não queria ser chata, mas não posso deixar passar isto: não ouvi nada a Teresa Leal Coelho ou a Maria Luís Albuquerque sobre o que Passos e Portas disseram. Não sendo possível que concordem, resta concluir que para elas os princípios da igualdade e dignidade das mulheres - a sua própria, portanto - não valem afinal a chatice. Às vezes, mais valeria chorar.
Quem recusará "snifar" o seu pai?
A voz do poema que ouvimos
maior será a minha ânsia de gritá-los!
Amarrai meus pulsos com grilhões,
maior será minha ânsia de quebrá-los!
Rasgai a minha carne!
Triturai os meus ossos!
O meu sangue será minha bandeira
e meus ossos o cimento duma outra humanidade.
Que aqui ninguém se entrega
-Isto é vencer ou morrer-
é na vida que se perde
Que há mais ânsia de viver!
(lembrou Firmino Mendes)
http://imgur.com/gallery/nQinbyH
de Arsélio Martins, mesmo quando não parece
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relações em concorrência
Passa-me óleo pelas costas. Passa-me o creme na cana do nariz. Passa-me o microfone de mão em mão. Passa-me o óleo de rícino pelo peito. Passa-me o óleo de fígado de bacalhau pela cabeça. Passa-me a minha amiga numa hora boa.
Passa-me metade da tua caspa para os meus ombros. Passa-me metade da canção no teu programa. Limpa-me uma lágrima de rímel se as lágrimas me vierem aos olhos. Passa-me palavras de admiração pelo pescoço. Passa-me os teus dentes de cavalo pelas costas.
Passa-me a tua inteligência laroca para o meu canal. Dá-me dois dedos da tua testa para a concorrência. Passa-me o vestido aferro. Passa-me a concorrência a ferro. Gaba-me os índices de audiência do meu programa no teu programa da concorrência.
Podes assoar-te nas minhas costas. Passa-me o anúncio em que apareço ao lado do macaco de sucesso. Passa-me a canção do bandido. Passa-me o bandido da tua notícia. Eu quero-me bem passado.
Passa por mim no Rossio. Passa-me o fado ao lado. Passa-me o secretário de estado que mora no teu prédio. Passa-me o estado interessante. Passa-te.
Passa-me margarina vegetal pelo couro cabeludo dos meus sapatos. Passa-me bem o bife que negoceia a paz entre os bandos da “biela” do intendente. Passa-me um plano de mim em cima do leão do marquês de pombal. Passa-me de cá para lá. Deixa-me dar umas voltinhas no teu programa.
Passa-me a salada. Passa-me a salada russa. Passa-me as mãos pelo dorso. Passo à mesma hora que tu. Passo no horário nobre. Passo a passo, passo-te. Deixa lá que depois eu levo-te ao meu programa. Passo-te a cadeira de rodas.
Passa-me o comando.
em louvor do professor de direito, comentador que dá notas e candidato a presidente
(Pretextos, 198x?)
as datas vistas pelos seus avessos
Firmino Mendes - Soneto
Ó crapuloides tonsos desitantes
Artimigos tropálios desancantos
Par rivistas pervértidos acantos
Tomatoides arcansos arfestantes
Ó micustatas cãs de resinantos
Putéfias fientas e lepantes
Ó abastardos micos porcalhantes
Escolossos daláquas desorantes
Se houbordar infumo morativo
Neuscapitel morfeito desabundo
Apuntunga fitanga desamundo
Ah hei ah hei putango pilharundo
Filhostero lixoide e instalido
Sarjetário de brai e merdestido
Firmino Mendes, fevereiro 2015
Firmino Mendes: Também eu sou Charlie
"Pamelia Kurstin: Theremin, the untouchable music"
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noite feliz!
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eu bem me disse que estava a ser parvo por pensar que só com os meus dentes chegavam para morder até o futuro e n...