Na encosta do Pico Ana Ferreira - Porto Santo

Do Funchal guardo principalmente o colo imenso da Phytalacca dioica (conhecida pela Bela Sombra) mesmo ali na esquina do jardim que dá para o hotel em que me guardo, quando vou trabalhar à Madeira. Hei-de mostrar aqui esse colo imenso e também o que vejo quando olho da Escola da Levada (o nome oficial é outro). Mas há também o que não vejo e provavelmente não verei e, desta vez, o meu computador recebeu centenas de fotografias das caminhadas do amigo José Luís, professor de Matemática. De uma caminhada pelo Porto Santo, aqui vos mostro o aspecto de uma encosta do Pico Ana Ferreira.




Fotografia digital de J. Luis Freitas

No aeroporto das pedras rubras

me encontro e a utilizar uma máquina simpática que me dá acesso completo à internet (e graciosamente!). O voo para a Madeira está atrasado, mas eu posso nem dar pela demora na chegada à ilha encantada pela proposta não negociável (e irrecusável:-) de revisão constitucional de AhhhhAhhhhJardim. Vou ler o correio.

Portas que se fecham e se abrem.

No último fim de semana, Paulo Portas fez o seu regresso à politica na qualidade de dirigente do Partido Popular. Com o seu tradicional jeito para feiras, festas e romarias, o PP fez a sua “rentrée” no Pavilhão das Feiras. Em Aveiro, claro.

Nestas alturas, os partidos apresentam as ideias a que querem dar um novo impulso. Como partido da coligação no poder, o PP afirma-se solidário com a politica do governo PSD/PP. Esperamos que a politica do governo de coligação não seja a politica do PP, embora haja quem diga que tem mais peso nas decisões do governo do que o que lhe foi conferido pelos votos dos eleitores. Isso são contas da coligação. Mau seria, de facto, se um partido minoritário de direita fosse dominante num governo feito na base essencial dos votos noutro partido (do centro). As intervenções de Aveiro mostram um P. Popular a avançar com ideias que pretendem influenciar futuras políticas da coligação. Em boa medida, como já tinha feito em anteriores campanhas, P. Portas exagera para obter alguma coisa no que respeita à imigração. As ideias reduzem-se a algum populismo rasteiro: “somos portugueses, temos problemas económicos e muito desemprego, logo temos de fechar as portas aos imigrantes que demandam Portugal”.

Quando Pacheco Pereira vem a terreno combater, publicamente e de forma radical, as ideias de Paulo Portas, ficamos a saber que o que P. Portas defende está longe de ser consensual na coligação do poder. P. Pereira escreve mesmo que P. Portas, com as suas intervenções está a pôr em causa a politica de Administração Interna da coligação. Haja saúde. Brindo a isso, porque será dramático se a nossa politica for fechar as portas aos imigrantes, porquanto somos um pais de emigrantes, muitos deles em países com tantas dificuldades económicas como o nosso e com muitos mais desempregados. O nosso pais já tem grandes constrangimentos relativamente à imigração por via dos tratados europeus e dificilmente suportará novos- O que diz P. Portas só serve para atiçar algumas atitudes e movimentos e ressuscitar valores bolorentos tão queridos de alguma da direita portuguesa. E obviamente serve para cativar e segurar votos xenófobos e associados. A intervenção de politica interna de P. Portas serve para pressionar a coligação e é enunciado auto-proclamado da ideologia mais ou menos isolacionista e trauliteira.

P. Pereira apresenta os seus pontos de vista em tudo contrários aos de P. Portas e acrescenta mesmo, a título de exemplo, que o desemprego dos operários portugueses não se resolve com o emprego dos imigrantes. Exactamente pelas mesmas razões que garantem não valer a pena fechar portas ou expulsar os portugueses da França porque eles estão em empregos que não são tomados pelos desempregados franceses (no que isso pudesse ser significativo).

Também ficamos a saber que o P. Popular quer reforçar a sua frente de combate no campo da ideologia (e da cultura? da arte? da…?) que, a acreditar neles, é mais campo em que dominam as esquerdas. P. Pereira é quem trava essas guerras e fá-lo sozinho.

Gostei de ter escrito um artigo sobre os vários PPs em disputa. Saio para a esquerda do palco e refresco-me na sombra de saber que estão em desacordo.


[o aveiro; 18/09/2003]


Arafat Mártir? Ariel doido?

Vim aqui só para chamar a atenção para o editorial do Público, hoje escrito por Nuno Pacheco. Levanto-me de manhã cedo e leio o jornal. Muitas vezes penso que não resisto a entristecer-me. Umas vezes porque leio opiniões que me parecem completamente ao lado das pessoas que eu conheci e as escrevem. Outras porque as notícias e as opiniões dão-nos a vida tal qual ela está a ser e não está a ser bem. Há povos que vivem a morte em vida.

Para além de outros textos sobre a actual situação, o texto pequeno de Nuno Pacheco, Arafat mártir?, é muito recomendável, do meu ponto de vista (que é sempre o meu ponto de fuga).

Inducassao

"Começar a trabalhar aos 16 anos é demasiadamente tarde para se aprender uma profissão". Estas pérolas cairam da boca de um autarca, licenciado em Direito, durante a primeira sessão do Conselho Municipal de Educação da minha territa.
Percebi, acho eu, que o homem quer que o seu partido altere a legislação, permitindo que as entidades patronais tenham ao seu serviço crianças menores de 15 anos para "aprenderem a trabalhar e a ganhar o gosto pelo trabalho".
No país da Europa cujos cidadãos têm a menor taxa de escolarização da Comunidade, esta frase é simbólica, profética, lapidar.

Desenho 7 - da concentração em reunião chique




11 de Setembro


11 de Setembro é o dia de fantasmas, esqueletos do nosso armário que ocupa todo o espaço desde a actual civilização à barbárie actual.

1. Há dois anos, o ataque terrorista contra Nova Iorque abalou o nosso mundo e não foi senão um assomo do terror que ajudou a espalhar um pouco por todo o mundo. Quantas vítimas inocentes morreram nesse dia? Quantas vítimas depois disso?
O que deu? Guerra total- escreve Pacheco Pereira (Público).

2. Não posso deixar de recordar o dia do golpe de estado no Chile, de há 30 anos. Quantas vítimas? No dia, nos dias seguintes, nos meses seguintes, nos anos seguintes, ? quantas vítimas?
E quantos sonhos quiseram matar? Só que os sonhos não morrem. Para perceber isso, nada melhor do que ler Memorial dos anos felizes de Luís Sepúlveda (Público, também)

Um dia não são dias?

Reparo que o José já entrou por aqui a perguntar se já chegou. Há perguntas mais inteligentes, mas uma pergunta qualquer é melhor que nada. Já podemos ser quatro, a saber: José Carlos Pinto Soares - professor de filosofia, poeta e tudo; Manuel Arcêncio da Silva - professor de latim, murtoseiro e tudo; Delfim Rodrigues - professor de artes, artista plástico e tudo. Desejo do fundo do coração que eles escrevam no lado esquerdo (sobre o qual me deito quando quero esmagar o coração (Carlos de Oliveira?)) se o quiserem fazer. Ou que desenhem, ou que pintem a manta. Eu fico aqui sentado a olhar para o meu computador moribundo e choro.

Hoje não é o dia 11 de Setembro.


A verdadeira mentira
Arsélio Martins

Para os políticos que nos governam quais são os modelos de virtudes, de sociedades, de política, de democracia, de governos? Pelo que eles nos dizem, os modelos que gostam de imitar e seguir são, em primeiro lugar, os dos Estados Unidos da América e do Reino Unido. Não são?

Acontece que, nos últimos tempos, os dirigentes desses governos têm vindo a prestar contas, sendo submetidos a inquéritos sobre as mentiras que serviram de justificação para a invasão e ocupação do Iraque. No Reino Unido, já houve vítimas políticas e até, lamentavelmente, uma vítima mortal. A mentira mata.

O nosso Primeiro Ministro afiançou publicamente ao nosso parlamento e ao nosso povo que tinha visto as provas da existência de armas de destruição maciça no Iraque prontas a ser utilizadas contra a humanidade. Só as pode ter visto pelas mãos de quem não tem sabido mostrá-las aos seus povos e parlamentos. Não mentiu? Pode ser que tenha só sido enganado. Mas não se sente obrigado a comparecer perante o seu parlamento e o seu povo pedindo desculpa?

Em democracia, podemos estar em desacordo total uns com os outros, e tomar decisões contrárias perante os mesmos verdadeiros factos. Mas não podemos criar factos falsos para justificar participações em guerras de invasão e ocupação à margem do direito internacional e contra a Organização das Nações Unidas. Um grave sintoma de doença de uma democracia é o desprezo pela honra e pela verdade. Desde há mais de um mês que desejo ardentemente ver um sinal sério de combate à doença por parte dos órgãos de soberania. E nada! Como eu gostava que, nestas questões, os nossos políticos fossem tão rápidos a seguir os seus modelos como na corrida em apoio das guerras que os seus modelos inventam.

George Bush imaginou e fez guerras contra povos e nações com alguns objectivos tão miseráveis como assassinar ditadores e terroristas e o controle da produção do petróleo. Osama e Sadam são tenebrosas criaturas e, à semelhança de outros, devem ser procurados pela comunidade internacional para serem julgados por crimes contra a humanidade. Inventor de guerras infinitas, Bush tem agora de pedir mais dinheiro, arranjar tropas e quer partilhar os riscos em vidas humanas e os custos da ocupação e reconstrução do Iraque. Procura mesmo convencer as Nações Unidas a participar até militarmente na sua ocupação. Ainda não o conseguiu. Mas já o nosso Ministro da Administração Interna declara que as tropas da nossa Guarda Nacional Republicana podem ir para o Iraque já que vão cumprir objectivos das Nações Unidas. As Nações Unidas não sabem ainda.

Quem me dera viver em paz num país de governantes honrados. Pior do que a vergonha dessa dúvida, é saber que portugueses podem partir para o Iraque e, às ordens de quem?, reprimir manifestações populares contra a ocupação. Em meu nome, não! Não é um chavão vazio: Um povo não é livre quando reprime outros povos. Pensava que nunca mais teria de o repetir.

Com quantas verdadeiras mentiras podemos viver?

[o aveiro, 11/09/2003]

Desenho 6




as duas pastas

Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis a...