Palhaçada para gente graúda

Sobre a colocação dos professores e sob o título acima, o o dito cujo de aveiro escreveu:


A forma como o governo actual tem tratado os professores é para mim razão mais do que suficiente para dar um pontapé no cú do Portas, do Lopes e daquela trastalhada toda.

Acabei de ver a última no Público:
"Listas de professores podem não ser publicadas na próxima segunda-feira" seguido de: "O Governo reafirmou hoje que a abertura do ano lectivo irá ocorrer a 16 de Setembro, embora não seja ainda possível garantir a divulgação das listas de colocação dos professores na próxima segunda-feira".

Era uma boa altura destes gajos serem todos corridos. Que é que acham?



A todos indigna esta palhaçada. A quem trabalha no sistema educativo e acompanhou todas as dificuldades do crescimento da coisa, só nos resta o estupor(quase sem palavras)! Há dezenas de anos que nada de tão indigno acontecia. Indigno pelo que representa para os professores, mas também ofensivamente indigno no que representa de incompetência e... de arrogância que brota do poder ignorante que não se enxerga. Nem percebemos o que se passa no movimento docente e sindical - o espanto absoluto paralisa! E paralisa o país todo.

De Muito Obrigado a De nada!

É verdade que algumas vezes escrevo mensagens cifradas (com palavras e desenhos) para um só destinatário. É raro pensar em quem lê o que escrevo. Fico sempre espantado quando descubro que há uma ou outra pessoas que lê o que escrevo. E tenho a certeza disso, porque me referem até em pormenores que esqueci por não ser dado a detalhes na memória. E é certo que, por vezes, o que escrevo não é mais que um recado cifrado para uma das pessoas que lê, na esperança que possa vir a ler aquela mensagem em particular. O que é certo também é que, se escrevo por escrever como prova de vida, aqui não faço desenhos com as palavras. Os desenhos? Esses sim são incompreensíveis e desprovidos de lógica ou mensagem intencional, sendo quase sempre uma fuga para o lado escuro da sala onde quero ficar escondido.
E pronto. Não é este o exemplo de recado com destinatário? É. Haverá quem não veja qualquer razão para isto ter sido escrito e publicado. Mas pode acontecer que haja o leitor: aquele que dará sentido a isto e até, quem sabe!, lhe atribuirá o valor de explicação ou justificação.
Esta coisa da exposição pública tem uma verdade própria: quem escreve, fica sempre melhor quando sabe que foi lido e não se vira do avesso quando sabe a verdade das interpretações dos outros. No meu caso, não resistirei a tentar esclarecer, iluminar zonas de sombra e a defender os pontos de vista sobre o que é público e se tornou notório por alguma razão boa ou má.

A paz nunca vem depois.

Porque apressas o passo quando vês a multidão ali mesmo à frente da tua escola? Porque levas o ramo das flores? Ninguém falava dela, da tua terra. É, por isso, que vais seguro e confiante para o primeiro dia de aulas do teu filho. Seguras-lhe a mão, mas é só uma segurança de ternura. Talvez lhe vás a dizer que vale a pena pelo futuro, quando ele hesita em separar-se de ti e juntar-se aos outros.
Onde fica Beslan? Ossétia? Nunca vi tal nome nos mapas. No entanto, fala-se de Beslan e da Ossétia, tantas vezes, que é como se fosse algum lugar conhecido desde há muito. E vejo as ruas e as casas de Beslan. Vejo pessoas e parece-me que as conheço, vizinhas do meu mundo sossegado. Vejo a fotografia do quarteirão da escola nº 1 de Beslam no momento em que é tirada. Posso saber o que disseste ao teu filho em Beslam nestes dias, porque ganhaste a atenção do mundo inteiro. Nunca fizeste nada por isso, mas estás aterrorizado com o mundo inteiro a ver-te. O terror bateu-te à porta e logo bateu à minha porta. Isto muda tudo, não muda? Quer dizer que, se os terroristas tivessem escolhido a minha escola da minha cidadezinha de que nunca ouviste falar tu tinhas sabido imediatamente. Se tivessem vindo aqui até à minha escola, tinham o mesmo impacto e serias tu a ouvir falar de uma cidade impronunciável. Há ainda quem sossegue na sua vidinha neste lado do mundo, porque pensa que vocês afinal são mais vulneráveis porque estão na Rússia dos problemas que o Kremlin tanto se esforça por ter e que é tão frio. Que negócios e quanto dinheiro se esconde nas fraldas das causas do terror? Não é fácil vir até aqui? Não são só as notícias que são rápidas a tomar o mundo. Que queres que te diga? Estou tão aterrorizado quanto tu estás e vejo-me a chorar os teus filhos como se chorasse os meus. Podemos chorar ao mesmo tempo. Hoje, sou eu que ouço o teu grito por sobre o meu grito. Hoje és tu quem não ouve os meus gritos, porque eu grito sobre o que vi acontecer-te. Mas amanhã? Sou professor.Se calhar, na minha escola, não haveria tantas flores para comer. Não sei que mais te dizer.

[o aveiro; 9/9/2004]

no dia combinado

Tenho uma filha que nasceu no dia combinado para isso, faz agora trinta e um anos. Nem eu sei contar até tantos. Nasceu ainda durante o antigo regime,tinha eu saído para jantar. Não me lembro do filme que tínhamos ido ver quando ela começou a reclamar uma saída ao ar livre da noitinha de Espinho. Não me lembro da ementa do jantar. Se bem me lembro ela nasceu quase ao mesmo tempo que o meu serviço militar obrigatório. E faz-me lembrar a ordem unida, a marcha a contragosto e... a seguir, a liberdade das ruas por onde marchávamos com as gargantas limpas.

a forma nova

dizem que não há paixões humanas que prestem
e que todos os poemas foram já ditos e escritos

não mais que personagens de um fado bem passado
poetas são ratos de biblioteca a sobreviver
em buracos dos livros que não páram de roer

poetas são os que usam formas novas para cozer
em lume brando o poema mastigado e vomitado
até este ficar queimado pegado colado
e parecer que não tem nada a ver

nada para entender
e pouco ou nada para ler

dizem que já não há líricos tísicos nem sanatórios
e que os poemas são incerta forma para citações
ditadas e reeditadas experiências de laboratório

onde não entram nem saem emoções.

E já nem preciso é sequer manuscrever.

as duas pastas

Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis a...