sob o piscar dos olhos

A ave caída está cega e não pisca os olhos;
olhando-a me parece que ela não dorme.
Será que por ser cega lhe cresce a fome?


Como posso eu não piscar os olhos enquanto me desvio
se fascinado sinto o bater da asa do seu desejo como arrepio?
A correr fujo de medo. Mais alto que o seu agoirento pio
solto dos velhos pulmões o último fôlego ... num assobio.

Má Nota de Si. Dá Dó!

1.

O que fazem os instantâneos detentores do poder político quando não podem esconder por mais tempo um problema que não se resolveu com o tempo e ameaça espalhar-se como doença que tudo decompõe? Cobrem-no de cores ainda mais mórbidas, pegam nele com ar de nojo, atribuem-no aos instantâneos do passado e, sem olhar a meios e ao que foi feito para combater a doença, apresentam um novo estudo, um novo projecto, uma nova comissão,..., e ao céu e à terra garantem a mudança necessária. E constrói-se o milagre das aparições, em horário nobre, de salvadores especialistas do que é preciso fazer para as almas do futuro. Passados uns anos, a história repete-se e, em vez de olharmos para o que se fez e para as consequências das decisões anteriores, damos connosco a ver a televisão repetir a mesma farsa com novas (?) caras.

Entretanto, a doença alastra e os novos instantâneos (não serão sempre os mesmos?) podem esbanjar ainda mais meios em novos estudos, projectos, comissões,..., mudanças. E é assim que, sem cumprir qualquer programa no tempo de uma geração, aparecemos aos olhos dos estranhos como os fantásticos proprietários de ideias sempre actualizadas, leis mais avançadas, inovadores projectos, etc.

Há também quem tome cada projecto experimental localizado pelo que está acontecer na realidade e lhe atribua o fracasso geral para exigir outros meios para novo projecto. Com a espuma de um mar de experiências, que nunca passam disso, gastam-se os meios de que a realidade ou a natureza precisam para as suas transformação e recomposição.

É certo que experiências e projectos nos servem de guia. Mais certo é que precisamos da persistência e perseverança nas práticas decentes, em prazos longos, para saborearmos resultados verdadeiros. Em educação, mais do que em tudo o resto. E é principalmente na educação e ensino que os ciclos curtos de maluqueira acabam por substituir a mudança por coisa nenhuma e permitem a persistência de "velha(ca)rias" nas práticas sociais (da docência, por exemplo) com seculares maus resultados.

2.

Os maus resultados da Matemática (tanto nos exames do 9º ano, como nos exames do 12º ano ou nos estudos internacionais) têm servido para confirmar aquela tese. Ainda não tinham entrado em vigor novos programas e tudo estava como dantes e as novas comissões criadas para a tragédia atribuíam aos programas (que talvez fossem entrar em vigor) a responsabilidade dos maus resultados. Fizeram isso ainda há pouco tempo e obtiveram tal sucesso que os programas pensados para umas condições foram postos a funcionar noutras.

Mesmo assim, apesar de não ter sido cumprido qualquer ciclo sobre esses programas... voltamos a ver a cena. No básico e no secundário. E não é só o governo (velho, novo ou que há-de vir). Não! São especialistas diversos que aí estão para garantir que um novo projecto vai nascer sobre as cinzas de um passado a queimar. Só que não queimam o passado passado. Queimam o que ainda mal passou de papel, de que - garanto-vos eu! - está a ser esboçado em múltiplas adaptações de papel.

Os conteúdos de ensino da Matemática não mudam há dezenas de anos. Mas isso não inibe um professor ou um responsável de afirmar que o programa de papel passado está tão cheio de indecisão nos conteúdos que não se sabe onde e quando se ensina isto ou aquilo.

Passamos a vida a estudar e a escrever papéis... que alguém há-de queimar como se eles fossem realidade social para além de papéis. Escrevem-se novos papéis, tanto para incendiar a floresta como para que fique na mesma o essencial da realidade do ensino. Costumo falar da nesga do meu tempo, como quem fala de uma dobra do tempo. Um saudável pessimismo está a atirar-me para os braços da melhor designação que é "falha" no tempo.

3.

No país-piloto da civilização, a época de exames coincide com a época de fogos. Tanto os exames como os fogos se combatem com trabalho planeado e persistente e não com o espectáculo dos projectos efémeros. De cima chovem maus exemplos quando nós precisávamos de água verdadeira. Não há milagres verdadeiros!

Má nota de si dá dó!




[a página da educação; agosto de 2005]

Mandaram-me este recado

"Um fascista grotesco"


Alberto João Jardim não é inimputável, não é um jumento que zurra desabrido, não é um matóide inculpável, um oligofrénico, uma asneira em forma de humanóide, um erro hilariante da natureza.
Alberto João Jardim é um infame sem remissão, e o poder absoluto de que dispõe faz com que proceda como um canalha, a merecer adequado correctivo.
Em tempos, já assim alguém o fez. Recordemos. Nos finais da década de 70, invectivando contra o Conselho da Revolução, Jardim proclamou: «Os militares já não são o que eram. Os militares efeminaram-se». O comandante do Regimento de Infantaria da Madeira, coronel Lacerda, envergou a farda número um, e pediu audiência ao presidente da Região Autónoma da Madeira. Logo-assim, Lacerda aproximou-se dele e pespegou-lhe um par de estalos na cara. Lamuriou-se, o homenzinho, ao Conselho da Revolução. Vasco Lourenço mandou arrecadar a queixa com um seco: «Arquive-se na casa de banho».

A objurgatória contra chineses e indianos corresponde aos parâmetros ideológicos dos fascistas. E um fascista acondiciona o estofo de um canalha. Não há que sair das definições. Perante os factos, as tímidas rebatidas ao que ele disse pertencem aos domínios das amenidades. Jardim tem insultado Presidentes da República, primeiros-ministros, representantes da República na ilha, ministros e outros altos dignitários da nação. Ninguém lhe aplica o Código Penal e os processos decorrentes de, amiúde, ele tripudiar sobre a Constituição. Os barões do PSD babam-se, os do PS balbuciam frivolidades, os do CDS estremecem, o PCP não utiliza os meios legais, disponentes em assuntos deste jaez e estilo. Desculpam-no com a frioleira de que não está sóbrio. Nunca está sóbrio?
O espantoso de isto tudo é que muitos daqueles pelo Jardim periodicamente insultados, injuriados e caluniados apertam-lhe a mão, por exemplo, nas reuniões do Conselho de Estado. Temem-no, esta é a verdade. De contrário, o que ele tem dito, feito e cometido não ficaria sem a punição que a natureza sórdida dos factos exige. Velada ou declaradamente, costuma ameaçar com a secessão da ilha. Vicente Jorge Silva já o escreveu: que se faça um referendo, ver-se-á quem perde.
A vergonha que nos atinge não o envolve porque o homenzinho é o que é: um despudorado, um sem-vergonha da pior espécie. A cobardia do silêncio cúmplice atingiu níveis inimagináveis. Não pertenço a esse grupo.



Baptista Bastos
b.bastos@netcabo.pt

Má   nota

Sete em cada dez estudantes portugueses tiveram classificação negativa nas provas de exame de Matemática do 9º ano. E da primeira fase de exames do 12º ano, ressalta que é negativa a classificação média dos estudantes portugueses que concluiram positivamente a frequência do ano escolar. E ela tem vindo a baixar nos últimos quatro anos.

Estes resultados negativos são consistentes com os resultados das provas de aferição e com as prestações dos estudantes portugueses nas provas internacionais.

Estes resultados revelam que a escola pública (e a privada também) está a falhar. Se acreditarmos no que se diz sobre as explicações e a sua generalização a uma grande parte dos estudantes, o falhanço é ainda mais dramático. Aparentemente, as famílias estão a gastar o que têm e o que não têm, aceitando que os jovens não trabalhem na escola e pagando mais falta de trabalho fora da escola.

Temos de saber que, para lá de todas as razões, há falta de disciplina e de trabalho dos estudantes e das famílias que mobilizam pouco os recursos disponíveis tanto quanto nos é dado ver no dia a dia das escolas. Tanto quanto nos é dado imaginar pelas reacções aos resultados dos estudantes e da comunidade em geral. Há uma certa displicência nacional inaceitável.

Temos de saber. Temos de discutir para evitar que todas as apreciações da situação apareçam derrotadas e sem sentido por atribuirmos todas as falhas a uma mutante entidade abstracta que muda com os governos que mudam as políticas. Temos de saber que o problema da educação é um problema nosso e que nos cabe a nós todos a responsabilidade de fazermos diferente, impondo disciplina e trabalho constantes que se sobreponham a políticos e políticas inconstantes e à indisciplina que o aparelho deste estado está a criar. [Afinal temos de fazer as pequenas revoluções opostas às reformas desta união nacional de multireformados palradores. Sabemos hoje de que é que eles falam quando falam de impulsos reformistas e da inevitabilidade das reformas da sociedade. Falam das suas reformas antecipadas e da sociedade anónima em que transformaram o país, como o mau exemplo... a não seguir.]

Temos de saber que nos podemos salvar. Opondo trabalho persistente à tralha arranjista e negocista. Podemos passar nos exames trabalhando. Podemos exigir de nós e das escolas. Podemos contar connosco. Nada de conformismos! Quem precisa de mais explicações? Não vale a pena dar mais explicações para tão maus resultados.

[o aveiro; 21/07/2005]

o dia sumário

Este último dia da minha vida fica ligado ao sumário do Geometria. A classificação dos artigos pelas categorias escolhidas é um problema. Não se trata de um índice remissivo, nem de um glossário. Para já é só uma arrumação. Para já é só uma experiência (em construção, sempre!) de arrumação por assuntos. Nada é fácil. E começava a ser cada vez mais difícil manter a coisa tal como estava. O desenvolvimento que se vai seguir exige o aperfeiçoamento do trabalho de arrumação e de pesquisa. Pode ser muito interessante experimentar o trabalho da geometria interactiva usando as funcionalidades diarísticas do "blogger", mas tudo tem um limite. Vamos indo e vamos vendo. Se houver alguém que queira dar alguma sugestão e ajuda, nós aceitamos. Para já estou farto deste dia sumário.

as duas pastas

Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis a...