A terra dos ...

No último ano, um Ministro andou a cantar aos quatro ventos que iria haver um aeroporto ali para os lados de Alenquer. Disseram-se coisas sobre interesses escuros, obscuros e claros relacionados com essa decisão política. Anda-se nisso há quantos anos?

Mudanças de interesses e de parceiros e o que era uma decisão política certa passou a sofrer da doença de moratória. Por iniciativa da indústria, acolitando a Presidência que ajudaram a eleger, acendeu-se uma nova luz e decidiu-se uma alternativa em Alcochete, ou melhor, numa pequena arena montada mesmo ali em plena Assembleia. Olé! - grita o inteligente.

Na apresentação da alternativa de Alcochete lá estava o autarca da nova opção aeroportiana a defender o desenvolvimento para Alcochete deixar de ser Alcochete.

No dia seguinte à declaração de que o governo iria prosseguir os estudos, os autarcas otários vieram reclamar de tal decisão por já se terem comprometido com investimentos na ordem da cruz de milhões. Hotéis, hospital, e, como jóia da coroa de todos os investimentos, um santuário. Já tudo me tinha passado pela cabeça, até voos rasantes de aviões ansiosos por oterrar, menos um santuário à maneira. Há tanta coisa para fazer quando o céu nos aterra no quintal!

Desde que anda o aeroporto no ar, nasce uma novidade em cada dia. Um dia ficamos a saber de quantos quilómetros de deserto se faz uma alternativa de sul, noutro quantos quilómetros cúbicos de terra temos de movimentar se formos otários, no seguinte quantos quilómetros por hora pode atingir o tgv para dar o passo que separa Alcochete do oriente, ou quantos minutos mede um metro entre Lisboa e a Ota. Os planos mais arrojados já falam da Lisboa que chega a Ota, de Lisbota. Alen...quer até ser Lisboa.

Já Alcochete arma todos os campinos. De varas afiadas apontadas ao céu de Alenquer, os campinos têm batido todos os recordes de lançamento de dardo e de salto à vara no assalto aos céus. De campinos a campeões é um passo.

Nada de parar, devemos procurar novas oportunidades e alternativas. Portugal só tem a ganhar em ter mais estudos - é o que dizem os estudos. E há exemplos a seguir.


[o aveiro; 14/06/2007]

asas para que vos quero?

Deixei de acreditar em asas para voar.


Casei-me para ter uma viúva capaz
de me ver voar sem asas como labareda no forno
ou como voa o fumo quando sai da chaminé
ou como voa a cinza no cume da liberdade

de um monte ventoso ou à porta de casa
em certos dias de cabeça perdida, de vento irrequieto
a desmanchar perucas, a levantar saias e a despedir
chapéus para as retretes públicas dos cães.

Outros animais de estimação, como eu, sem asas,
e até as crianças deixaram de poder brincar
nos ex-jardins públicos, privadas a céu aberto


Mas mesmo sabendo eu que o fumo da minha carne
e a cinza dos meus ossos podem cair num monte de caca
a minha esperança de voar sem asas permanece intacta.

a perspectiva

a escola em volta


O verdejante ramo por terra também é a vida que precisamos de ver.

a escola em volta


Aqui moraram por tantos anos as tílias que cresceram abraçadas até naão caberem no abraço humano e se perderam em ameaças de força imensa à pequena oficina de artes que dá vida à esquina. Sobraram as ameixas.

as duas pastas

Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis a...